Na Escola Secundária de Valongo há salas fechadas por chover lá dentro. Na Escola Básica Vallis Longus a sobrelotação obriga todos os espaços a tornarem-se salas de aula, inclusive a cantina, as salas não têm aquecimento e a degradação de todo o espaço, sem qualquer obra de fundo ao longo de mais de 30 anos, é evidente. No total são afectados mais de 2.300 alunos a que se somam centenas de professores e auxiliares. Os problemas são conhecidos há muito.
Esta terça-feira, Luís Monteiro, deputado do Bloco de Esquerda à Assembleia da República, visitou os estabelecimentos de ensino e criticou o esquecimento em que estão. “Estas duas escolas têm sido esquecidas por parte da Câmara e do Governo. É inadmissível a desigualdade de tratamento” face a concelhos vizinhos, afirmou.
Definindo estas obras como “mais do que urgentes”, Luís Monteiro promete que o partido que representa vai fazer pressão junto do Governo para que se resolvam os problemas. “Na próxima audição ao Ministro da Educação a questão será colocada. E vamos estudar a possibilidade de fazer um projecto de resolução no sentido de recomendar e pressionar o Governo a avançar com as obras o quanto antes”, adiantou o deputado que integra a Comissão de Educação e Ciência.
“É inadmissível a desigualdade de tratamento e o Governo continuar a atrasar o início de obras que são mais do que urgentes”
Para Luís Monteiro, a requalificação destas escolas já ultrapassou “o urgente”. “A Escola Secundária de Valongo já por várias vezes pediu obras e foi orçamentado, pelo menos, o arranjo dos telhados e a verdade é que, de ano para ano, a situação tem-se deteriorado. Têm neste momento duas salas completamente inutilizadas. É impossível utilizá-las porque chove lá dentro”, critica o deputado. “Aqui na Escola Básica o problema é não só material, de falta de obras, mas também administrativo e político. Esta escola está numa situação de esquecimento total e foi colocada de fora do mapeamento das obras das escolas”, sustentava o eleito do Bloco de Esquerda no final da visita. Luís Monteiro não deixa de lembrar que, em 2010, a Escola Básica de Vallis Longus viu as obras que já estavam orçamentadas e com projecto aprovado serem canceladas.
“Estamos perante dois casos de escolas vizinhas, separadas apenas por uma rua, que precisam de obras urgentes. E não só a Câmara como o Governo central têm que cumprir aquilo que estava prometido”, defende o deputado, considerando “inaceitável” que tenham ficado de fora do mapeamento que permitiria obras com recurso a fundos comunitários.
“Da parte do Bloco haverá um pedido de responsabilidade e uma acção no Parlamento para que estas duas escolas tenham o mais depressa possível uma intervenção digna e que os profissionais e alunos sejam respeitados. Não desistiremos para que as obras comecem o quanto antes”, afirmou o membro da Comissão de Educação e Ciência.
A situação será levada à próxima audição com o ministro da Educação e o partido promete ainda estudar a possibilidade de fazer um projecto de resolução no sentido de recomendar e pressionar o Governo a avançar com as obras. “Um projecto de resolução não obriga o Governo a cumpri-lo mas obriga a questão a ser discutida”, refere. Também a nível local, adiantou Luís Monteiro, os eleitos do Bloco de Esquerda continuarão a pressionar a autarquia, nas Assembleias Municipais.
“A situação revolta-nos porque é um dossiê que é conhecido de todos mas em que ninguém quer pegar. Estamos a ser constantemente enganados, esquecidos e ignorados”
“As salas não têm aquecimento. Hoje começou-se a dar aulas com dois graus cá dentro. Não há laboratórios. Há salas divididas para acolher todos os alunos e a biblioteca está sobredimensionada para o número de estudantes. O pavilhão desportivo fica muitas vezes inoperacional nos dias de maior humidade e há uma degradação global do espaço”, explicava Adriano Silva na reunião com o Bloco de Esquerda. “Olhamos para as escolas dos concelhos vizinhos e parece que aqui estamos no terceiro mundo”, comentava.
A verdade é que a escola, que acolhe cerca de 1.000 alunos por ano, foi pensada para cerca de 600 alunos, explica o director. Foram colocados alguns contentores, que não resolvem o problema. “Se quiséssemos ter dignidade precisávamos de mais 16 salas e dois laboratórios, além de requalificar e modernizar os espaços”, defende Artur Oliveira.
Essa requalificação, com a construção de um novo edifício de dois pisos, que teria as tais 16 salas, dois laboratórios e ainda dois gabinetes e um auditório esteve prevista em 2009. O investimento, a rondar os 1,25 milhões de euros não avançou. Agora, acredita o director da Escola Básica Vallis Longus, face à progressiva degradação, devem ser necessários cerca de dois milhões de euros.
A escola, com 36 anos, nunca sofreu qualquer intervenção de fundo. “Aquilo que tem mantido a escola em funcionamento é a boa vontade das pessoas e funcionários polivalentes que vão resolvendo pequenas coisas. E também pelos professores que desempenham os mais variados papéis”, sustenta Adriano Silva.
“A situação revolta-nos porque é um dossiê que é conhecido de todos mas em que ninguém quer pegar. Estamos a ser constantemente enganados, esquecidos e ignorados”, lamenta o presidente do conselho geral.
“Alguém é responsável por não nos ter colocado no mapeamento. Esqueceram-se ou, como já acredito neste momento, fizeram por se esquecer”
Artur Oliveira não esconde que começa a perder a esperança. “Só vou acreditar no dia em que vir as obras feitas e o último trabalhador e máquina a saírem do portão”, comenta.
O director da Escola Básica, diz que se sentem discriminados em relação aos concelhos vizinhos mas também dentro do concelho de Valongo. “A Câmara, a DGEST, a Área Metropolitana ou o Ministério da Educação. Alguém é responsável por não nos ter colocado no mapeamento. Esqueceram-se ou, como já acredito neste momento, fizeram por se esquecer. Pelo excesso de mentiras já acredito que foi propositado”, critica. “Há escolas de concelhos limítrofes que já foram intervencionadas e voltaram a ser mapeadas para ter nova intervenção. Algo está mal”, acrescenta.
“Há um consenso generalizado da necessidade das obras e a Câmara tem mostrado solidariedade connosco, embora refugiando-se numa realidade que é o edifício pertencer ao Ministério da Educação. Compreendemos, mas na exclusão da nossa escola do mapeamento alguém devia assumir a responsabilidade porque ficamos de fora desse mapeamento com consequências graves”, sustenta ainda Adriano Silva.
Recentemente, também o presidente da Câmara Municipal de Valongo lamentou a falta de investimento público na Educação em Valongo, com o concelho a ser “discriminado” e “esquecido por anos a fio”. No lançamento das obras da Escola Secundária de Ermesinde, em Outubro do ano passado, José Manuel Ribeiro garantia que ia continuar a luta junto do Governo para que se consiga mais dinheiro de fundos comunitários para uma segunda fase de intervenção na Escola Secundária de Ermesinde e ainda para obras, igualmente necessárias, na Escola Secundária de Valongo e na Escola Básica de Vallis Longus. “Já disse ao primeiro-ministro e ao ministro da Educação que o município está disposto a fazer um esforço para aguentar toda a comparticipação nacional de 15%”, adiantava.