Jesus, pelo seu lado, não se sentia inimigo de ninguém e tinha mesmo um fraquinho pelos samaritanos e pecadores e pelos que, de algum modo, se poderiam incluir, como diria o Papa Francisco, nas periferias de então, como também os doentes, as crianças e as mulheres. Por isso não admira que tivesse retribuições carinhosas e mesmo conversões. Foi o caso daqueles dez leprosos que suplicaram a cura e se viram livres da lepra quando se dirigiam aos sacerdotes nessa expetativa. Pois dos dez contemplados com tão grande benefício, só um deles voltou atrás para agradecer: precisamente, um samaritano. Também é significativo que os evangelhos relatem os casos de vários homens que se portaram mal para com Jesus, incluindo Pedro que o negou e Judas que o traiu, não apresentam maldades por parte de mulheres e foram elas quem, nos dolorosos momentos do Calvário, acompanharam Jesus e sua Mãe.
Samaritana foi também a mulher a quem Jesus, num cativante episódio junto ao poço de Jacob, começou por lhe pedir de beber, doutrinou com paciência e acabou por a converter de pecadora em apostola junto dos da sua aldeia, anunciando-lhes que tinha encontrado o Messias.
Jesus tinha muitas virtudes (pudera!) e uma delas era a de contador de histórias; calculo que em miúdo muitas histórias terá ouvido contar a Santa Maria e a São José nos serões da casa de Nazaré à luz de uma candeia de azeite. Numa dessas histórias – essas incomparáveis parábolas – um homem descia de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos ladrões, que o despojaram, o espancaram e se retiraram, deixando-o meio morto. Ora aconteceu que descia pelo mesmo caminho um sacerdote que, quando o viu, passou de largo. Igualmente um levita, chegando perto daquele lugar e vendo-o, passou adiante. Um samaritano, porém, que ia de viagem, chegou perto dele e, quando o viu, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu jumento, levou-o a uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte tirou dois denários, deu-os ao estalajadeiro e disse-lhe: Cuida dele; quanto gastares a mais, eu to pagarei quando voltar.
Esta parábola foi a resposta a uma pergunta de um doutor da lei que acabara de enunciar o mandamento de se amar o próximo como a si mesmo: “E quem é o meu próximo?” Depois vem o diálogo final: “Qual destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões? Ele respondeu: “O que usou de misericórdia com ele”. Então Jesus disse-lhe: “Vai e faz tu o mesmo”.
Neste Ano Santo da Misericórdia abundam os assaltos e os assaltados e escasseiam os samaritanos. Os Bons Samaritanos.