Dois episódios da vida interna dos EUA dão prova da sua fibra e princípios. Um deles foi a greve dos controladores aéreos que na altura era ilegal. Reagan deu aos grevistas 48 horas para regressarem ao trabalho sob pena de despedir os que persistissem na greve. Numa ação certamente inédita, despediu mais de onze mil grevistas que foram substituídos por controladores militares e depois por novo pessoal treinado para o efeito.
Outro episódio marcante da sua presidência foi a tentativa ao longo de vários anos de anular uma proibição pelo Supremo Tribunal de orações nas escolas públicas. Propôs uma emenda constitucional por entender que “Nenhuma disposição da presente Constituição deve ser interpretada para proibir a oração individual ou de grupos em escolas públicas ou em outras instituições públicas. Nenhuma pessoa será requerida pelos Estados Unidos ou por qualquer Estado a participar da oração.” O que pretendia, sem o ter conseguido, era, na sua expressão, que terminasse “a expulsão de Deus das salas de aula da América”.
O Presidente Reagan visitou Portugal em maio de 1985 e no dia 9 proferiu um discurso perante a Assembleia da República. A sua parte final que se transcreve seguidamente e se pode ver aqui encaixa muito bem neste mês dos 100 anos das aparições de Fátima, esperando que o seu autor goze já da glória celeste na companhia dos santos pastorinhos.
A crença na dignidade humana sugere uma verdade final sobre a qual a democracia assenta – uma crença de que os seres humanos não são apenas mais uma parte do universo material. Não somos um mero aglomerado de átomos. Cremos noutra dimensão – uma vertente espiritual do homem. Encontramos uma base transcendente para a nossa reivindicação da liberdade humana e a nossa sugestão de que os direitos inalienáveis vêm de Alguém maior do que nós.
Ninguém fez mais para recordar o mundo da verdade da dignidade humana, bem como do facto de que a paz e a justiça começam com cada um de nós, que aquele homem especial que veio a Portugal há uns anos, depois de ter sofrido um terrível atentado. Veio cá, a Fátima, o local do vosso grande santuário, movido pela sua especial devoção a Maria, para pedir pelo perdão e pela compaixão entre os homens, para rezar pela paz e o reconhecimento da dignidade humana através do mundo. Quando me encontrei com o Papa João Paulo II o ano passado no Alasca, agradeci-lhe pela sua vida e pelo seu apostolado. Atrevi-me a sugerir que no exemplo de homens como ele e nas orações de pessoas simples em todo o mundo, pessoas simples como os pastorinhos de Fátima, reside mais poder do que em todos os grandes exércitos e estadistas do mundo.
Isto também é algo que os portugueses podem ensinar ao mundo. Porque a grandeza da vossa nação, como a de qualquer nação, reside no vosso povo. Pode ser vista no seu dia-a-dia, nas suas comunidades e vilas, sobretudo nas igrejas simples que pontuam a vossa terra e que dão testemunho de uma fé que justifica todas as reivindicações de dignidade e liberdade dos homens. Digo-vos que é aqui que está o poder, aqui se encontra a realização final do sentido da vida e do propósito da história e aqui se encontra o fundamento para uma ideia revolucionária – a ideia de que os homens têm o direito de determinar o seu próprio destino.