Inclusivamente, alguns quiseram que, como centro da Igreja, Roma se libertasse da referência geográfica e começasse a vaguear pelo mundo. A dada altura, Constantinopla proclamou-se a Segunda Roma e, séculos depois, Moscovo declarou-se a Terceira Roma. O urbanismo de Moscovo e a arquitectura do Kremlin correspondiam à miragem dessa Terceira Roma, também ela com aspirações a ser Eterna. Muitas capitais que acalentaram sonhos de grandeza num mundo globalizado, como Lisboa, Moscovo, etc., descobriram que tinham sete colinas. Exactamente sete colinas, como a Primeira Roma nas margens do rio Tibre.
Agora, Moscovo alberga realmente uma extraordinária «Roma Æterna» – assim se chama, com o título em latim, a exposição de 42 peças do Museu Vaticano patentes na Galeria Tretyakov. As filas de visitantes dão a volta aos quarteirões para admirar obras-primas de Raffaello, Caravaggio, Bellini, Guercino, Perugino, Poussin, Reni, Forli… Além de que o Vaticano disponibilizou um elenco notável de obras-primas, que não costumam sair, sobretudo em tão grande número, a exposição celebra a ligação espiritual da Rússia à Igreja católica. O curador russo, Arkady Ippolitov, associa a arte à fé: «o conceito dos Museus Vaticanos expressa o que Roma é». A Roma Eterna «não é apenas uma cidade, não é uma capital, mas o núcleo da história europeia e a quintessência, o que há de melhor, no espírito europeu».
A sala principal da exposição reproduz a planta da praça de S. Pedro. A primeira peça é a «Bênção de Cristo», do século XII. Outras peças importantes são as «Lamentações de Cristo Morto», de Bellini e de Crivelli: aconselho uma visita aos comentários da Maria Zarco (http://adeus-ate-ao-meu-regresso.blogspot.pt/2016/12/vai-um-gin-do-peters_27.html). O último quadro da exposição é «As observações astronómicas», de Creti, pintado para convencer o Papa Clemente XI a financiar a construção de um observatório astronómico em Bolonha (a manobra promocional surtiu efeito!).
A iniciativa da exposição «Roma Æterna» partiu do encontro do Papa Francisco com Vladimir Putin, em 2013, e completar-se-á quando, no final de 2017, uma colecção de obras da Galeria Tretyakov visitar o Vaticano, «como testemunho de amizade entre a Igreja Ortodoxa e a Igreja Católica».
Dentro de Itália, além dos bombeiros vaticanos que acorreram a socorrer as vítimas dos recentes terramotos, a Directora do Museu Vaticano, Barbara Jatta, anunciou que uma vintena dos 65 restauradores do Museu se voluntariou para se deslocar às cidades afectadas, para ajudar a recuperar o património artístico no local. Ao mesmo tempo, o Governo italiano enviou para as oficinas de restauro do Vaticano as peças de maior valor.
Colaborando em todas as direcções, o Museu Vaticano quer fazer destas palavras do Papa Francisco, uma espécie de lema: «a beleza une-nos».
Um dos projectos internacionais anunciados pelo Museu Vaticano é trazer uma exposição a Lisboa por ocasião da visita do Papa Francisco a Fátima, em Maio. Já marquei na agenda.