Nasceu em 1848, filha de um alto funcionário do palácio real, Rainiandriantsilavo. A mãe, Rambahinoro, era de linhagem real. Rasoamanarivo era uma encantadora menina rica, que participava no culto aos ídolos no palácio.
Quando tinha 13 anos, morreu a Rainha que tinha expulso os missionários e o novo rei autorizou o cristianismo. Rasoamanarivo foi uma das primeiras alunas da escola católica. Quando quis receber o Baptismo, levantou-se a oposição da família, mas Rasoamanarivo tinha uma personalidade tão forte que levou a melhor. Escolheu Victoire (Vitória) como nome de Baptismo.
Com 16 anos, casam-na, contra a sua vontade, com Radriaka, o filho mais velho do Primeiro-Ministro. Parecia um excelente partido, porque Radriaka era um oficial prestigiado do exército, mas infelizmente o rapaz caiu no vício da bebida e envergonhou a família. A própria rainha e o Primeiro-Ministro, pai do marido, acharam que Victoire se devia separar, mas ela explicou-lhes: «Não sabem que o casamento cristão não se pode dissolver? Só a morte nos pode separar».
Até lá, Victoire suporta tudo, respeita-o, ama-o com imensa ternura e reza incansavelmente pela sua conversão.
Os missionários voltaram a ser expulsos durante a guerra contra os franceses e desencadeou-se uma caça aos cristãos. A ilha ficou sem padres e os cristãos perseguidos. Victoire jogou todo o seu prestígio na corte e conseguiu parar a perseguição. Ao mesmo tempo, percorreu o Madagáscar a dar coragem ao povo e a animá-lo na fidelidade à fé. Muitíssima gente se converteu.
Quando os missionários regressaram ao país, em vez da igreja desolada que esperavam encontrar, descobriram uma comunidade pujante, muito mais numerosa que quando os tinham expulso.
Anos mais tarde, depois de um acidente, Radriaka, o marido, chega a casa gravemente ferido e pede o Baptismo. A própria Victoire o baptiza, impondo-lhe o nome de Joseph. O marido morre pouco depois.
Quando beatificou Victoire Rasoamanarivo, o Papa João Paulo II disse «que ela vivia continuamente diante de Deus. Todos ficavam tocados pela intensidade da sua oração. Por isso, sendo tão familiar da presença de Deus, sabia arrastar os outros na intimidade com o Senhor. Dizia-lhes: “Santifiquemo-nos primeiro nós mesmos; para depois nos ocuparmos dos outros”».
Victoire vivia no palácio, no meio da corte, onde fazia sentir a força da sua liderança natural, que todos respeitavam, mas gastava muito tempo a visitar os pobres e os doentes. Isto é, aquela mulher tinha um temperamento de fogo. Estava, na prática, em todo o lado e deixou uma marca extraordinária na história do Madagáscar.
O Papa Francisco tem repetido esta ideia do Concílio Vaticano II de que os leigos têm de assumir a sua responsabilidade evangelizadora. Sem clericalismo. Aos Bispos do Madagáscar repetiu: «Insisto muito. Por favor, não clericalizem os leigos. Os leigos são leigos. Ouvi, na minha diocese anterior, propostas como esta: “Senhor Bispo, tenho um leigo maravilhoso na paróquia: trabalha, organiza tudo… fazemo-lo diácono?” Deixa-o estar, não lhe estragues a vida, deixa-o ser leigo!». O que é próprio dos leigos não é ajudarem os padres, a sua missão é serem cristãos de profunda vida interior, verdadeiramente santos, para poderem pegar a todos aquele fogo de que Cristo falava: «Vim trazer fogo à terra e que quero senão que se incendeie!» (Lc 12, 49).
Victoire Rasoamanarivo era realmente uma alma em fogo e por isso Francisco quis reservar uma parte importante da sua visita a Madagáscar para ficar longamente, em silêncio, a rezar diante do túmulo desta mulher.