Nos “Alinhamentos” do passado dia 19 de Janeiro escrevi que, na sequência do decurso das eleições autárquicas, a Rui Moutinho não restava muito mais do que provocar eleições internas e abandonar a concelhia do PSD de Paredes. Foi isso mesmo que foi feito e o partido vai a eleições daqui a algum tempo. Sobre o que acontecerá a seguir, esperemos que sejam conhecidos os candidatos para abordarmos o assunto.

Entretanto, gostaria de aproveitar o momento em que Rui Moutinho abandona a concelhia que dirigiu para recordar um episódio que presenciei directamente, quando com ele modestamente colaborei na sua campanha eleitoral.

Foi por ocasião da apresentação ao candidato da versão final de um dos últimos cartazes de campanha para começar a afixar, dependendo da sua aprovação, que a assessora de comunicação da candidatura, Olga Leite, e eu esperávamos. Tratava-se de um cartaz que, sobre a foto de alunos de uma das escolas do concelho, dizia: “Manuais escolares gratuitos até ao 12.º ano de escolaridade. Guarde a factura. Em Dezembro devolvemos-lhe o dinheiro.”

Ao olhar para o cartaz impresso numa folha A3 e colocado sobre a mesa de reuniões, Rui Moutinho afirmou: “Isto não pode ir para a rua assim!”. A Olga Leite e eu, que tínhamos gostado imenso do cartaz, trocámos olhares, sem compreender as razões para a objecção, que nos foram explicadas com tanta clareza como sinceridade: “O cartaz está muito bonito, mas eu não vou conseguir pagar os livros em Dezembro. O orçamento que está em vigor não prevê essa despesa e, além disso, a Câmara Municipal tem compromissos financeiros que precisa de liquidar até ao final do ano. Em vez de Dezembro, ponham Janeiro”.

Tentámos convencê-lo a não fazer essa alteração, aduzindo os argumentos que nos pareciam, em termos de eficácia eleitoral, mais importantes do que os dele, mas Rui Moutinho foi implacável: “Era o que haveria de faltar: começar um mandato a mentir às pessoas!…”

Assim se fez: o cartaz de Rui Moutinho foi para a rua a prometer pagar os manuais escolares em Janeiro. Uma semana depois, a oposição encheu o concelho de cartazes a prometer pagar os livros em Novembro. Vencidas as eleições, os manuais escolares só foram pagos… em Fevereiro.

Não poderia, em consciência, deixar de recordar um episódio – entre muitos outros – que me mostraram o carácter de um candidato, de um político, de um homem que terá de ser sempre tido entre aqueles mais sérios e desinteressados que passaram pelo PSD de Paredes. Interrogo-me sobre o tratamento que lhe foi dado tanto pelo partido como pelos eleitores. Terá sido tratado como mereceriam os valores morais, cívicos e políticos que, na prática – não apenas em teoria – demonstrou defender? Duvido. Não, tenho a certeza de que não foi. Prejuízo nosso, colectivo.