Verdadeiro Olhar

Purga política em Penafiel: apoiantes de Alberto Santos acusam Antonino de Sousa de retaliações

(Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar)

Para compreender a atual situação política em Penafiel, é necessário recuar até 2001, quando Alberto Santos liderava a coligação “Penafiel Quer”, composta pelo PSD e pelo CDS-PP, e venceu as eleições autárquicas contra o Partido Socialista. Ao seu lado, como número dois da coligação, estava Antonino de Sousa, na altura líder do CDS-PP em Penafiel. Durante 12 anos, os dois políticos mantiveram uma aliança forte, com Santos como presidente da Câmara e Antonino como seu braço-direito.

Com o término dos três mandatos de Alberto Santos, em 2013, Antonino de Sousa assumiu a liderança da coligação e, com o apoio de Alberto Santos, venceu as eleições. Alberto Santos tornou-se presidente da Assembleia Municipal, e Antonino de Sousa, já como independente, liderou a Câmara Municipal. Mais tarde, Antonino de Sousa filiou-se no PSD, subindo a vice-presidente da Comissão Política Distrital do Porto do partido.

Rutura pública em 2022

Em 2022, o desconforto entre ambos tornou-se público, começando com a renúncia de Susana Oliveira, vice-presidente de Antonino de Sousa, ao seu mandato de vereadora. Susana Oliveira, vista por muitos como a possível sucessora de Antonino, era próxima de Alberto Santos. Fontes próximas da ex-vereadora alegam que esta foi sujeita a pressões constantes, desautorizada em público e forçada a demitir-se, numa manobra para afastar os apoiantes de Santos da gestão da Câmara.

A ruptura agravou-se nas eleições internas para a presidência da Comissão Política Concelhia do PSD de Penafiel, que colocaram Alberto e Antonino frente a frente. Estas eleições são cruciais, pois a comissão eleita será responsável por organizar o processo autárquico de 2025 e escolher o candidato à Câmara. Alberto Santos saiu vencedor, e a partir desse momento, começaram a surgir alegações de uma “purga” contra os seus apoiantes.

Presidentes de Junta afastados de eventos e obras paralisadas

Um dos primeiros a denunciar esta situação foi Carlos Leão, presidente da Junta de Freguesia de Penafiel. Leão afirma que tem sido sistematicamente afastado de eventos oficiais, mesmo quando estes acontecem na sua freguesia. “Não fui convidado para a inauguração do auditório Ponto C. O motivo? Apoiei Alberto Santos”, afirma o autarca. Recentemente, também não foi envolvido na apresentação da Central de Transportes de Penafiel, acusando Antonino de Sousa de levar a cabo uma “política de terra queimada”. Leão revela ainda que já não se reúne com o presidente da Câmara há mais de um ano, mas desdramatiza: “Não vivo da política. Quando quiser, venho embora.”

Outro caso que denuncia discriminação é o de Artur Teixeira, presidente da Junta de Boelhe. Teixeira acredita que a sua freguesia está a ser penalizada devido ao apoio maioritário a Alberto Santos nas eleições internas do PSD. “Neste momento, não há uma única obra em Boelhe. Não me dão justificações”, queixa-se. Teixeira exemplifica com a tempestade que derrubou várias árvores na freguesia, bloqueando ruas: “Chamei a Proteção Civil e liguei para a Câmara, mas ninguém apareceu. Tive de resolver o problema com o pessoal da Junta.” O autarca denuncia ainda o corte de obras programadas, como a requalificação das casas de banho da Praia Fluvial de Boelhe, que foi retirada do orçamento pela Câmara. “Tentei ligar várias vezes, mas o presidente não me atendeu”, diz Teixeira, que acabou por resolver a situação com fundos próprios da Junta e de forma muito mais barata do que o que autarquia previa gastar.

Outras freguesias afetadas

A situação não se limita a Penafiel e Boelhe. José Miguel Fernandes, presidente da Junta de Irivo, e Laura Duarte, presidente da Junta de Galegos, também viram as obras nas suas freguesias serem reduzidas. José Miguel Fernandes, com ironia, refere que prefere acreditar que tudo “não passa de um mal-entendido” e que tem “percebido mal a atitude da Câmara”.

Outro exemplo é o de Joaquim Pedrosa, presidente da Junta de Bustelo e membro da Comissão Política de Alberto Santos. Pedrosa, para conseguir ser recebido por Antonino de Sousa, teve de esperar à porta da Câmara até ser atendido. “Prefiro não falar para não piorar as coisas”, diz, deixando no ar a possibilidade de um dia contar mais.

Henrique Martins, presidente da Junta de Rio de Moinhos, vice-presidente da Comissão Política de Alberto Santos, também sofreu retaliações e a sua freguesia não teve uma única obra inscrita no Plano de Atividades e Orçamento da Câmara.

ADISCREP: exonerados e perseguidos

A alegada purga não se limita às juntas de freguesia. Belmiro Leal e Sofia Leal, presidente e diretora da ADISCREP, são dois outros nomes que sofreram retaliações. Ambos foram exonerados dos seus cargos como administradores da empresa municipal Penafiel Ativa após a vitória de Santos nas eleições internas. Sofia Leal acusa a Câmara de perseguir a ADISCREP, que gere a Universidade Sénior, tentando desalojar a instituição.

Carlos Leão, fundador e sócio nº1 da ADISCREP, lembra que o contrato de concessão da Universidade Sénior foi assinado por si e por Alberto Santos. “Aquela associação é a menina dos meus olhos”, afirma, destacando que as tentativas de despejo são uma forma de retaliação política.

O caso de Nuno Cobanco: uma exoneração sem explicações

Outro nome afetado é o de Nuno Cobanco, ex-chefe de gabinete de Antonino de Sousa e responsável pela comunicação da Câmara. Cobanco chegou à autarquia a convite de Alberto Santos e, com Antonino, foi nomeado para chefe de gabinete de ambos os presidentes. Apesar de não ser filiado em nenhum partido, a sua amizade com Santos é conhecida. Pouco tempo após a vitória de Santos nas eleições internas, Cobanco foi exonerado do cargo, sem explicações. “Acreditamos que a única razão foi ser amigo de Alberto Santos”, afirmam militantes próximos de Santos. Já Nuno Cobanco prefere não falar sobre o assunto.

Um processo de purga ou gestão política?

As denúncias de discriminação e retaliação política continuam a surgir, levantando questões sobre o funcionamento interno da Câmara Municipal de Penafiel. Para muitos, o que está a acontecer não é apenas uma disputa interna no PSD, mas uma “purga” de todos aqueles que não estão do lado de Antonino de Sousa. As consequências desta guerra política parecem estar a afetar não só os políticos locais, mas também as freguesias e instituições que servem a população.

Antonino de Sousa desmente e ataca: “ridículo e patético”

Confrontado com as alegações de perseguição política e discriminação contra os apoiantes de Alberto Santos, o presidente da Câmara de Penafiel, Antonino de Sousa, desmente categoricamente todas as acusações e vai mais longe, atacando diretamente os que o acusam e o VERDADEIRO OLHAR.

Sobre as queixas do presidente da Junta de Freguesia de Penafiel, Carlos Leão, que afirmou não ter sido convidado para a inauguração do Ponto C, Antonino de Sousa nega. Segundo o autarca, “o presidente da junta de Penafiel foi convidado, assim como todos os presidentes de junta”. Relativamente à apresentação da Central de Transportes, Antonino corrige: “Não foi feita qualquer inauguração”, mas sim que “esse espaço foi usado como local para a celebração de um protocolo com a Valpi”.

Quanto às denúncias dos presidentes das Juntas de Freguesia de Irivo e Galegos, que se queixam de não ter praticamente contacto com o presidente da Câmara e de verem as obras nas suas freguesias serem reduzidas, Antonino de Sousa rejeita completamente: “Não corresponde à verdade”. Afirma ainda que “têm uma excelente relação institucional com o Presidente da Câmara Municipal, à semelhança do que sucede com todos os demais Presidentes de Junta”.

O mesmo desmentido é aplicado ao presidente da Junta de Bustelo, Joaquim Pedrosa, que teria esperado à porta da Câmara para ser atendido por Antonino de Sousa. O presidente nega essa versão, afirmando que “isso não corresponde à verdade. Todos os autarcas são atendidos, de acordo com a disponibilidade de agenda”.

Sobre a exoneração dos administradores da Penafiel Ativa, Antonino de Sousa diz que “a Dra. Sofia Leal pediu a demissão” e que, após isso, “o acionista Município decidiu reformular o Conselho de Administração indicando dois novos administradores”. Quanto à exoneração de Belmiro Leal, opta por não justificar.

No que respeita às alegações de que Sofia Leal e Belmiro Leal, membros da ADISCREP, estão a ser alvo de perseguição política devido às suas ligações pessoais com Alberto Santos, Antonino de Sousa recusa-se a responder e, numa viragem insultuosa, acusa o VERDADEIRO OLHAR de “fantasiar sobre o tema”, ignorando que estas alegações provêm diretamente dos responsáveis da associação.

Quando questionado sobre a exoneração do seu ex-chefe de gabinete, Nuno Cobanco, Antonino de Sousa eleva o tom e classifica as insinuações de retaliação como “ridículas e patéticas”. Essa mesma expressão é repetida quando abordado sobre as acusações de “purga” política na Câmara Municipal, afirmando que é “ridículo e patético” que os militantes do PSD afirmem que há um afastamento de todos os que mantêm relações pessoais ou políticas com Alberto Santos.

Antonino de Sousa, ao invés de esclarecer as várias questões de forma objetiva, opta por descredibilizar e atacar, tanto os seus adversários políticos como a imprensa local, num claro esforço para desviar a atenção das acusações de discriminação que se acumulam.