Falar do Professor Frutuoso é fácil e difícil simultaneamente. Difícil porque ainda não conseguimos acreditar nesta perda; uma perda para os seus antigos alunos, mas indubitavelmente para o futuro da escola e das próximas gerações que não terão o gosto de conviver e de aprender consigo. Fácil porque era um homem bom, com carácter, sempre bem-disposto, atento, amigo, carinhoso, justo, honesto, íntegro e generoso. A postura informal, o olhar fraterno, a proximidade com os alunos e o sentido de humor transportaram a nossa visão da figura do professor para a figura do amigo conselheiro, cuja experiência amolece as inquietações de um pré-adulto.
Em cada uma das suas aulas, o ambiente que se sentia era completamente diferente, os sorrisos compreensivos, a forma como interagia, os diálogos, a maneira de falar, o jeito de ensinar, a vontade permanente de ajudar todos a seu redor, a tolerância, os conselhos dados sempre com as palavras certas, independentemente do problema que fosse, capaz de tornar o dia dos alunos mais animado, a capacidade de transmitir aquilo em que acreditava e de contar as histórias mais mirabolantes, de um modo tão leve e desembaraçado que, por vezes, nem parecia que estávamos dentro de uma sala de aula. Foi muito além do ensino dos conteúdos programáticos da disciplina; nas suas próprias palavras, o professor não se pode esquecer que ensina um cidadão em desenvolvimento e tem de promover o espírito crítico. Disse e cumpriu. Acompanhou cada um dos nossos passos no último ano de escola, não nos deixou vacilar, demonstrou sempre interesse pelos nossos projetos, sonhos e ambições. Volvidos mais de quatro anos, somos unânimes em reconhecer que o contributo das suas atitudes, em que espelhava os seus valores e ensinamentos, se estendeu a cada um de nós, influenciando as pessoas que hoje somos. Não esqueceremos o melhor Professor de sempre. Conseguiu o feito de não ter más memórias junto dos seus alunos.
Era também um contador de histórias: contava-nos da sua terra natal (Macedo de Cavaleiros), dos tempos de seminário, do abandono da eventual carreira sacerdotal, da faculdade, das queimas das fitas, das divergências políticas com professores universitários, do que o levou a escolher Direito, do seu ponto de vista sobre as experiências sociais em curso num tempo em mudança, da sua opinião sobre o que entendia ser o problema de não ter irmãos, do seu trabalho enquanto advogado, dos casos que advogou… Com o Professor Frutuoso mantivemos conversas que seria impensável mantermos com qualquer outro professor porque ele era assim mesmo: um espírito aberto e liberal, disponível para falar sobre tudo. Era isso que cativava cada um dos seus alunos, mesmo os mais desinteressados por Direito.
Seria inevitável não recordar também o social democrata convicto, mas desiludido com os rumos da época, o defensor genuíno da regionalização administrativa e da duração de 5 anos para cada mandato autárquico, com a limitação de 3 mandatos e os titulares dos órgãos não poderiam ser eleitos em mais nenhuma autarquia do país, o admirador de Sá Carneiro e Mandela.
Para aqueles de entre nós que se licenciarão em Direito neste ano letivo, fica a imagem do nosso primeiro professor de Direito, com quem demos os primeiros passos na área, com quem aprendemos as primeiras noções e que estimulou o gosto por estas matérias.
Gratidão é a palavra certa. Adaptando as recentes palavras de Pinto da Costa (onde estiver, sorrirá com a proveniência da citação), o nosso Professor só falecerá quando falecer o último daqueles que conviveu com ele. Foi alguém especial e não será nunca esquecido, conseguiu deixar a sua marca em cada um nós, para sempre. Infelizmente, a vida nem sempre é justa e leva aqueles que deveriam ser eternos. Viverá sempre na memória e no coração de cada um daqueles que tiveram o privilégio de ser seus alunos.
Até sempre, Professor.
Dos seus alunos do 12.ºH, 2016/17, Beatriz Nunes, Donzília Ferreira, Jéssica Ferreira e Telmo Costa;
Do seu aluno do 12.ºG, 2016/17, Luís Freitas