A senhora não é virgem, mas parecia ser. Assinou a presença na ausência do colega deputado? Sim, ela confessou-o. E depois? Aconteceu algo de novo e inesperado? Claro que não.
Nós, que nos fartamos de dizer mal da classe política, porque nos indignamos? Então, eles não são o que nós pensamos deles? Afinal, não somos nós que os elegemos? Porventura, não elegemos estes por sabermos que são tão maus que nunca se livrariam do nosso bastão justo e justiceiro alardeado nas redes sociais, espaço que, segundo Humberto Eco, dá voz a uma cambada de imbecis?
Deixemo-nos de tretas.
Quem convive diariamente com a hipocrisia social e política? Quem assiste, impávido e sereno, à patética e pacóvia representação teatral do presidente de uma concelhia de um partido de direita quando é escolhido para dirigir a bancada de um partido que, pretensamente e não só, seria de esquerda? Quem aceita que os militantes da direita concorram pelos partidos da esquerda e vice-versa?
Quem, valham-nos todos os santos milagreiros, se revê num partido onde quem mama chora e quem chora mama?
Quem se sente bem num partido onde cabem todos? Um partido onde cabem todos não é um partido. É só uma multidão.
Quem olha, como bois para o palácio, o servilismo político de braço dado com o clientelismo partidário como se fosse algo tão normal que até seria democrático?
Afinal, quem é que não se contenta, ao ver que tudo e todos os que estão para vir nunca nos surpreenderá? Parece que o próximo vem da Capital para a Rota, primeiro, para tomar conta da câmara e depois do partido. Ao que se sabe já amou cegamente todos os presidentes da câmara desde o 25 de abril, já traiu todos também. Todos os presidentes e todos os partidos. Porque raio não pode apaixonar-se agora perdidamente pelo novo poder e pelo novo presidente? Afinal, todos sabemos o desfecho destes casamentos feitos por interesse. Acabam em traições, como acabaram as outras paixões.
Há quem conviva bem com isso e até ache que, sem isso, o Parque José Guilherme seria como um jardim sem flores. Movimentamo-nos como Cidadãos de Primeira, mas somos meros “opinantes” com razão quando falamos só para nós ou sem ela porque não escrevemos o que os outros gostam de ler.
E, agimos como virgens ofendidas, mesmo sabendo que o problema não está na falta de virgens, mas no excesso das outras. E são tantas as “putas do regime”, como, com peculiar sabedoria, me ensinou o meu avô.
MEL: Para Aqueles
Que ainda conseguem ter a capacidade de se rirem de si próprios e não fazem o mesmo quando olham à sua volta e todos dizem o que pensam apenas porque ouviram dizer.
FEL: Para os Outros
Que não sabendo para onde vão se glorificam em fotografias, meios digitais e outros que tais, oferecendo a si mesmo o convencimento que são alguém admirado, enquanto procuram e não encontram as respostas para as simples perguntas que a si mesmo colocam: Como cheguei aqui? O que faço aqui?