Pelas nossas contas -não contando as peripécias que conhecemos antes de 1999 – é a partir do ano seguinte que aquele espaço começou a dar milhões a alguns e, paradoxalmente, esse dinheiro em vez de servir para recuperar e revitalizar o espaço, deve ter caído em algum buraco ou bolso e o resultado é o deplorável estado de degradação e abandono a que foi votado e vetado.
Entre vendas e compras, entre revendas e recompras, entre indemnizações e outras traquinices que hão-de conhecer-se, contabilizamos em cerca de 20 milhões a quantia de dinheiro movimentado. Nestes milhões estão, claro, as receitas de vendas, das construções permitidas, da recompra e das indemnizações que a autarquia vai ter de pagar. De fora ficam os milhões agora anunciados para a recuperação do pavilhão e os milhões também publicitados para a recuperação, um dia , talvez, do estádio das Laranjeiras.
Pergunta-se: mas, sendo assim, como se chegou a isto?
Os mais incautos ou os de resposta fácil dirão, sem saber explicar, que a culpa foi das más gestões dos dirigentes.
Esta explicação é redutora leva-nos a refutá-la liminarmente. Sabemos do que falamos e, mais do que tudo isso, temos documentos que provam o contrário.
Que outras conclusões podemos tirar, então, para explicar tamanho descalabro?
Cada um pode, com maior ou menor rigor tirar as suas, mas há quatro ou cinco que são irrefutáveis:
- Enquanto o poder político não se apoderou do clube, na nossa opinião ilegitimamente, o USCParedes, com maiores ou menores dificuldades ia sobrevivendo. Mais, não só dava pleno uso dos terrenos que lhes estavam cedidos como ia ampliando o seu património.
- Enquanto o clube foi dirigido por unionistas sempre cresceu e nos engrandeceu.
- Desmoronou-se, sem se desfazer, quando passou para as mãos dos especuladores imobiliários.
- Desfez-se quando sobrou para dos serventes bajuladores do poder instituído e subservientes lambe-botas ao serviço das estratégias dos partidos políticos.
- Caiu, por fim, nas mãos daqueles que, para além de estar ao serviço do poder político, também dependiam do clube. Ou seja: viviam total ou parcialmente à custa do clube.
Ao que tudo indica, apesar das limitações, este ano, a nova direcção parece ter uma estratégia, um rumo que pode vir a contribuir para a reconstrução de um clube melhor e maior, mas por muito boas que até possam ser essas intenções, será muito difícil devolver o clube à dimensão que já teve e, se se conseguir, demorará décadas e recuperar a grandeza do União Sport Club de Paredes.
Como se vê, bastavam os últimos vinte anos do clube para se escrever um livro – e vai sair muito brevemente. Até lá e antes do capítulo seguinte, última crónica que dedicaremos a este assunto, quem nos lê pode, se quiser, começar a tentar obter respostas para estas perguntas que os leitores, eventualmente, já terão colocado a si mesmos:
- Quando é que o Clube se “afogou” em dívidas ao Fisco e à Segurança Social?
- O clube alguma vez teve lucro?
- O Paredes II existiu mesmo? Foi criado por quem? Contra quem?
- Talvez a pergunta mais importante: se, em Fevereiro de 2014, o tribunal determinou, e passamos a citar, “a restituição do prédio ao União Sport Clube de Paredes e o cancelamento dos registos inerentes à mencionada penhora e alienações posteriores abrangidas por esta declaração de nulidade” porque é que o estádio das Laranjeiras não voltou para a posse do União Sport Club de Paredes?
- Por último, por que razões, sem recorrer da decisão do tribunal, a autarquia vai pagar e a quem vai pagar quase um milhão de euros de indemnização por umas parcelas de terreno que sempre que foi utilizado foi para fins desportivos?
Estas e tantas outras questões merecem uma resposta, uma explicação que só poderá ser dada por quem se documentou, estudou e viveu como seus os problemas do clube. Porque, em grande parte foi vivido na primeira pessoa, não terá, obrigatoriamente, rigor histórico, mas pode constituir-se como ferramenta de análise. Só compreendendo o passado percebemos o presente e só percebendo o presente podemos perspectivar o futuro.
Uma coisa é desde já certa: os terrenos do Complexo Desportivo das Laranjeiras já renderam mais do que as “caixas de gelo” que, alguns, importam da Colômbia!