A realidade inverteu-se. Penafiel, que era o concelho com maior incidência de casos de tuberculose no país passou para o segundo lugar da lista, sendo ultrapassado pelo Marco de Canaveses. Mas é pouco o que separa os dois territórios, os mais afectados de Portugal.
“No quinquénio 2015-2019, verifica-se no distrito do Porto, maior incidência de casos nos concelhos de Marco de Canaveses (67,5 por 100 mil habitantes) e Penafiel (66,6 por 100 mil habitantes). O concelho de Penafiel, na região do Vale do Sousa, correspondeu no quinquénio 2014-2018 ao concelho com a taxa de notificação mais elevada sendo actualmente este lugar ocupado pelo concelho do Marco de Canaveses na região do Baixo Tâmega e que se relaciona com a alta incidência de silicose e uma elevada proporção de consumo de álcool”, descreve o Relatório de Vigilância e Monitorização da Tuberculose em Portugal referente aos anos 2018/19, publicado esta quarta-feira pela Direcção-Geral da Saúde, a propósito do Dia Mundial da Tuberculose, assinalado a 24 de Março.
Fazendo as contas e, segundo o documento, Penafiel teve em 2019 um total de 33 casos de tuberculose notificados. Foram 230 pessoas que sofreram da doença nos últimos cinco anos. O segundo concelho mais afectado dos acompanhados pelo Verdadeiro Olhar foi Valongo, com 21 casos em 2019 (136 no quinquénio) e uma taxa de incidência entre 2015 e 2019 de 28,4 casos por 100 mil habitantes. É o sétimo município mais afectado na região Norte.
Seguem-se Paços de Ferreira e Paredes que, em 2019, registaram 13 casos cada um, e 72 e 87 pessoas com a doença nos cinco anos em análise, respectivamente. A taxa de incidência é maior em Paços de Ferreira (25,4), ficando-se pelos 20,2 por 100 mil habitantes em Paredes. Lousada foi o concelho com números mais baixos, teve nove notificações de tuberculose em 2019 e 36 entre 2015 e 2019. A taxa de incidência é de 15,4 casos por 100 mil habitantes. É o único destes cinco municípios que têm uma taxa abaixo da média nacional.
Em 2019, os concelhos de Lousada, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel e Valongo somaram 89 casos de tuberculose e, nos últimos cinco anos, 561.
Distritos de Porto e Lisboa são os mais afectados em portugal
“A taxa de notificação da tuberculose em Portugal manteve a tendência decrescente em 2018/19, mas a mediana de dias até ao diagnóstico permanece elevada, o que significa menor grau de suspeição da doença”, lê-se no relatório divulgado pela DGS.
Os dados revelam que, em 2019, foram notificados 1848 casos de tuberculose no país – em 2018 tinham sido 1886 -, correspondendo a uma taxa de notificação de 18,0 por 100 mil habitantes em 2019 e de 18,4 por 100 mil habitantes em 2018. “O decréscimo anual da taxa de notificação nos últimos cinco anos é de 3,9%/ano”, diz o documento. A taxa de incidência (número de novos casos) acompanhou a tendência decrescente, sendo em 2018 de 17,0 por 100 mil habitantes e em 2019 de 16,5 por 100 mil habitantes.
“Embora se verifique a diminuição progressiva da incidência de tuberculose em Portugal, a mediana de dias até ao diagnóstico tem-se mantido elevada: 74 dias em 2019 quando comparada com 79 dias em 2018 e 61 dias em 2008, traduzindo a menor suspeição da doença, quer pela população quer pelos profissionais de saúde. O atraso no diagnóstico relaciona-se em dois terços dos casos com o atraso do utente na valorização dos sintomas e procura de cuidados de saúde e em um terço dos casos com a resposta dos cuidados de saúde”, conclui ainda o relatório, apontando como metas para 2021 a necessidade de acelerar a tendência na redução da incidência da tuberculose em Portugal, aumentar a literacia em tuberculose na população e nos profissionais de saúde, diminuir a demora até ao diagnóstico e monitorizar a evolução da tuberculose nas populações mais vulneráveis.
No país, a região de Lisboa e Vale do Tejo e a região do Norte mantêm-se como as regiões de maior incidência (22,1 e 20,9 casos por 100 mil habitantes, respectivamente). “Porto e Lisboa são os distritos com mais alta taxa de notificação e os únicos do país que se mantêm acima dos 20 casos por 100 mil habitantes (28,5 e 26,3 por 100 mil habitantes em 2019 em comparação com 28,5 e 26,9 por 100 mil habitantes em 2018) em consequência da densidade populacional e da associação da tuberculose com os diferentes factores sociais e económicos”, refere o documento.
Literacia da população e profissionais de saúde é essencial para combater uma das 10 principais causas de morte no mundo
Os homens continuam a ser mais afectados do que as mulheres (66,9% do total de casos notificados em 2019), especialmente na idade adulta, e a localização mais frequente da doença continua a ser pulmonar (74,1% em 2019 e 70,5% em 2018). “Em 2019, 79,9% dos casos notificados foram testados para VIH (88,1% em 2018) e 9% apresentavam co-infecção tuberculose/VIH. Analisando cada um dos distritos verifica-se no distrito de Lisboa, uma maior proporção da população imigrante e de pessoas que vivem com VIH nos casos notificados de tuberculose, enquanto no distrito do Porto predomina a dependência de álcool ou drogas e também a infecção pelo VIH”, relata o relatório, que lembra que a tuberculose se mantém como uma das 10 principais causas de morte a nível mundial. Em Portugal morreram 102 pessoas em 2019.
“Em Portugal assistimos à redução sustentada da sua incidência, contribuindo para tal o acesso facilitado às consultas de tuberculose, o tratamento gratuito e a articulação inter-sectorial entre os diferentes níveis de saúde para a promoção do rastreio e tratamento preventivo (…) Para 2021-2022, o Programa Nacional para a Tuberculose define como prioridade a reorganização da resposta assistencial à tuberculose, a optimização das plataformas de notificação, a melhoria da literacia em tuberculose na população em geral e nos profissionais de saúde, e, por fim, a interligação entre as várias estruturas da saúde e sociais, permitindo uma resposta integrada. Uma população informada terá, inevitavelmente, um papel decisivo no diagnóstico e tratamento precoce da doença, revelando-se fundamental para a concretização dos objectivos estabelecidos, caminhando assim para a eliminação da tuberculose em Portugal”, sustenta o documento da DGS.