A um ano das eleições autárquicas, os partidos, em cada concelho, entram em ebulição. Os que estão no poder e os que a ele aspiram. Deixemos para outras núpcias os socialistas no poder, em Paredes, e comecemos pelo PSD.
A vida não está fácil para os laranjas. Vinte e quatro anos deixam marcas e, digam eles o que disserem, o concelho passou da liderança para a cauda da região no que aos índices de desenvolvimento diz respeito. O concelho cresceu, é verdade, mas cresceu sobretudo por via de melhores acessibilidades e, até essas, fizeram-se ainda no tempo de Jorge Malheiro. Contudo, não confundamos crescimento com desenvolvimento. Aliás, são muitas as vezes em que o crescimento, sobretudo quando acontece rapidamente e sem planeamento, é contrário ao desenvolvimento sustentável das localidades.
O PSD teve, em Paredes, dois presidentes nos últimos 24 anos: Granja da Fonseca e Celso Ferreira. Completamente diferentes. Aliás, ambos mereciam um bom manual sobre a gestão autárquica. Ao de Granja daríamos o título “ Manual do que não deve fazer um autarca”. O de Celso seria o “ Manual do autarca que diz que vai fazer, mas não faz”.
Qual deles foi pior? Inquestionavelmente, Granja da Fonseca. Basta ver, passados 15 anos da gestão de Granja da Fonseca, quais são os temas que mais marcaram a agenda política local durante este ano, que, recorde-se, antecede as eleições autárquicas: a concessão da água e a reinstalação da comunidade cigana. Ambas as situações foram criadas por Granja da Fonseca e não tiveram solução até aos dias de hoje.
E como descalça o PSD estas botas?
Quanto à água, arranja uma espécie de solução – a rescisão- que, a ser aprovada, mais não seria do que entrar num labirinto do qual ninguém saberia como nem quando ia sair. Era, como bem diz a sabedoria popular, “pior a emenda do que o soneto” proposto pelo PS no poder.
O que pretende , então, o atual, mas velho PSD local? Apenas fazer de conta que não foi o PSD quem, sem olhar às consequências, “privatizou” a água e saneamento. Como a decisão do PS de resgatar o contrato se vai manifestar num erro de custos insuportáveis para os munícipes, o PSD pretende, assim, fazer de conta que tem uma alternativa. Não tem. Apenas quer desviar as atenções sobre o erro cometido por Granja da Fonseca. E está a consegui-lo.
Quanto à reinstalação da comunidade cigana é de recordar sempre que ocupou aquele sítio por sugestão de Granja da Fonseca ao executivo municipal. Aliás, com a promessa de que num curto espaço de tempo realojaria essa comunidade noutro local. Sabia lá o PSD que o então presidente da câmara estava mais interessado em abrir as portas a uma “trica” qualquer para facilitar a construção de uns megatérios no local onde eles se encontravam.
E que faz o PSD quando Alexandre Almeida, presidente da câmara, se propõe a reinstalar a comunidade cigana mesmo no centro da cidade? Abstém-se.
Que significa esta abstenção? Uma jogada política que só não vê quem não quer ou não sabe, que, a concretizar-se a instalação da comunidade naquele local, fica em causa o desenvolvimento sustentável da sede do concelho. Nessa altura, cometido esse erro pelo PS, os laranjas sacudiriam facilmente a água do capote. É que a partir daí ninguém se questionará sobre as razões que colocaram aquelas centenas de pessoas ali, mas tão só pelas consequências negativas da solução encontrada pelo PS.
Posto isto, que tem de novo o PSD/Paredes para apresentar?
O atual presidente da Comissão Politica Concelhia (CPC) laranja perfila-se, apesar de não o admitir, para ser o candidato. Não nos move qualquer antagonismo pessoal contra a personagem, mas já não podemos dizer o mesmo do que ele representa. Ricardo Sousa, para além de outras condicionantes inibidoras do seu desempenho, é exactamente o que o PSD tem de pior. É o novo velho PSD. Basta olhar para a sua comissão política para nos apercebermos de quem, como ele, esteve com o velho e nefasto PSD.
Se não encontrar outros protagonistas, o PSD/Paredes corre o risco de em vez de se apresentar como alternativa, ser só mais um contributo para o reforço da maioria do PS.
Ironia do destino será a de estarem a reforçar o poder daqueles que foram, até ao último momento, seus correligionários.