Factos são factos. Opiniões, por muito válidas que nos pareçam, não passam disso mesmo. Quantas já foram ultrapassadas pelos factos? O “achismo” está na moda e as opiniões incendiárias também.
Os políticos, da esquerda e da direita, procuram palco e emprego. Os comentadores que apregoam não serem políticos fazem política para ganhar audiências porque esse é o seu ganha-pão.
Factos são os resultados publicados pela OCDE e pela Fundação Manuel dos Santos no seu estudo “Desigualdade do Rendimento e Pobreza em Portugal”. Neste estudo ficou demonstrado que de 2009 a 2014 os pobres ficaram mais pobres e os ricos mais ricos. Acentuou-se a desigualdade, um dos indicadores civilizacionais que mede o desenvolvimento de um país. Quanto maior for o desnível de classes, maior será o nível de pobreza e a dependência económica de terceiros.
É agora um facto que que nesse período, contrariamente ao que nos foi impingido, os mais carenciados não foram poupados. A austeridade não foi progressiva mas sim regressiva.
Os cortes dos rendimentos, que abrangeram todas as classes, foram elas mesmas desiguais. De 2009 a 2014, os 10% mais ricos tiveram perdas de rendimento de 13% mas os 10% dos mais pobres sofreram perdas de rendimento de 25%. A explicação não está nos cortes dos salários e das pensões ou nos patamares do IRS. O agravamento das condições de vida deveu-se principalmente aos cortes nos apoios sociais, no rendimento de inserção social, no complemento solidário para os idosos e no subsídio de desemprego. Segundo Carlos Farinha Rodrigues que coordenou este estudo da Fundação Manuel dos Santos, um em cada três portugueses, estiveram abaixo do nível de pobreza (422 euros /mês) entre 2009 e 2014.
Este estudo teve o mérito de demonstrar que mais do que a crise financeira internacional o que mais pesou para agravamento da pobreza na nossa sociedade foi a política de austeridade “para além da troika” praticada pelo governo de Passos Coelho e da coligação PSD/CDS.
Factos são Factos. Não são opiniões.
Hoje começa a sentir-se o alívio dessa austeridade à bruta. Embora lentamente, tem diminuído a taxa de desemprego ao mesmo tempo que aumenta taxa de emprego efetivo. A recuperação dos salários vai lentamente acontecendo e em 2017 será maior. Em 2016 já se nota maior confiança no futuro e, como reflexo dessa mudança, aumentou o número de grávidas e de nascimentos.
Estes são os factos. A maior parte das notícias que enchem jornais e telejornais ou que ocupam os comentadoras políticos ou políticos comentadores, inclusive os do BE ou da CDU, são meras opiniões, muitas delas propositadamente excessivas e provocadoras.
Palavras, leva-as o vento mas quando amaldiçoadas fazem mossa e instalam dúvidas. Mas que sabem eles? Porque não deixar trabalhar quem governa e esperar para ver? O resultado avalia-se no fim. O tempo para fazer cair o governo prematuramente já passou. Gostem ou não, terão que aprender a viver com a pedra no sapato…