Por ter “chegado ao limite” do que consegue fazer sem mais apoios, a associação Os Pecaninos, que recolhe e apoia animais em Paços de Ferreira, fechou portas e vai parar a construção do abrigo que tinha em curso no concelho.
A instituição, que apoia animais de rua desde 2008, queixa-se de falta de verbas diárias e diz que prefere cuidar dos 150 cães e gatos que ainda tem a cargo, num terreno privado, ao invés de recolher mais animais que não terá capacidade para tratar.
Em causa estão promessas por cumprir, assume uma voluntária. “Jamais pensamos chegar a este momento, mas estamos aqui para vos dizer que este projecto chega ao fim da forma como o conhecemos. Esta é uma decisão difícil, mas pensada. De há muito tempo para cá que esta associação tomou proporções que nunca pensaríamos que tomasse, porém as associações sozinhas não conseguem abraçar um concelho que não tem actividade no bem-estar e protecção animal, com isto, chegamos mesmo ao limite…”, expôs a associação nas redes sociais. “Debatemos-nos diariamente com dificuldades básicas, falta de alimentação para os animais que temos a nosso encargo… Debatemos-nos diariamente com falta de verbas para tratar e cuidar desses mesmos animais, juntando os apelos diários aos quais já não conseguimos chegar, apelos que as entidades ditas competentes também nos atiram para as costas e fomos carregando, sozinhos”, queixam-se.
A entidade competente é a Câmara Municipal de Paços de Ferreira, que reencaminha para a instituição todos os apelos para animais sinistrados e abandonados e não dá mais apoios, explica Cláudia Cunha, voluntária d’Os Pecaninos. “A Câmara foi prometendo coisas que não cumpriu. Para parar com o abate de animais a associação começou a dar resposta a todos os casos de animais sinistrados, mas sem mais apoio. Têm sido promessas atrás de promessas”, lamenta.
A partir de agora, por falta de capacidade, vão apoiar e tentar arranjar famílias para os 150 animais que ainda têm a cargo, mas não vão fazer mais recolhas.
Também vão parar a construção de um abrigo que estava em curso num terreno cedido pela Câmara. A obra estava orçada em 180 mil euros e faltarão cerca de 100 mil para ser concluída. “Tínhamos um sonho enorme, tínhamos em construção um abrigo que pensaríamos ser de grande valia para o nosso concelho, a partir da data de hoje, pararemos também a sua construção e, dentro da legalidade e do que nos for possível, entregaremos tudo o já feito às entidades competentes para que possam dar continuidade ao “nosso” sonho”, descreve a instituição. Cláudia Cunha diz que o email a dar conta disso já seguiu para a Câmara Municipal de Paços de Ferreira, assim como muitos outros alertas anteriores quanto às dificuldades que iam atravessando.
“Estamos desolados, estamos desacreditados, estamos cansados de promessas, mas acima de tudo estamos tristes, pois falhamos”, assumem.
Além dos apoios do município, a associação vive dos associados e donativos de privados, que não chegam para o trabalho que têm desenvolvido. “Temos dívidas imensas em clínicas. Nos últimos meses, com castrações e sinistrados, acumulam-se cerca de mil euros mensais em contas. Já temos cerca de seis mil euros para pagar”, explica Cláudia Cunha.
A par disso há a alimentação diária dos animais, que exige cerca de 90 quilogramas de ração/dia. “Temos que manter os que temos e fechar portas. Sem ter um protocolo para mais não dá para continuar. Custa muito, mas temos de ter noção dos nossos limites”, admite a voluntária, referindo que a página na rede social Facebook continuará a funcionar para angariar apoios para tratar dos animais que ainda tutelam e para lhes arranjar casas.
Contactada, a Câmara Municipal diz que “lamenta a decisão tomada pela associação” que tem feito um trabalho “exemplar” pelo concelho. “Compreendemos os constrangimentos financeiros que a associação enfrenta para dar resposta a tantas solicitações, situação que, provavelmente, requer um maior envolvimento de novos parceiros, de modo a concluir o projecto iniciado”, acrescenta o município.
Por outro lado, a mesma fonte garante que da parte da Câmara Municipal “houve e continua a haver total abertura para proporcionarmos melhores condições à actividade desta e de outras associações”. “Os protocolos que foram assinados entre a Câmara e as Associações de defesa e protecção dos direitos dos animais do nosso concelho atestam a boa vontade do executivo, apesar de serem públicos os constrangimentos financeiros da autarquia que a todos condiciona”, conclui a resposta enviada.