À semelhança do que aconteceu com muitos outros cidadãos, a greve deixou David Pinheiro à porta da Conservatória do Registo Civil de Paredes.
O jovem de Gandra, ia, esta sexta-feira, levantar o cartão de cidadão, documento indispensável para pedir o registo criminal de que necessita para candidatar-se a concursos públicos para trabalhar nas escolas, onde pretende conseguir uma vaga como assistente operacional a tempo inteiro.
Estava indignado e acredita que vai perder esta oportunidade laboral. “Isto é inadmissível, nem os serviços mínimos asseguram”, criticava.
“Acho que vou ser excluído dos concursos”
Por saber das filas e do tempo que demora renovar o cartão de cidadão na Conservatória do Registo Civil de Paredes, David Pinheiro foi à Loja do Cidadão, no Porto, tratar disso.
“Fui lá de propósito para renovar o cartão de cidadão o mais rápido possível porque precisava dele já que estou a candidatar-me a concursos públicos para escolas a nível nacional, como assistente operacional. Perguntaram-me onde queria levantar o cartão de cidadão, disse que preferia que fosse em Paredes, na minha área de residência”, explica.
David Pinheiro ainda tentou ligar para o número que estava afixado na porta mas sem sucesso. “Tentei ligar várias vezes. Quando me atenderam disseram que o meu caso não era urgente”, critica.
“Não sou contra o direito à greve, já lutei pelos meus direitos, mas deviam assegurar os serviços mínimos porque as pessoas têm de tratar das suas vidas. Vou voltar cá na segunda-feira, mas acho que vou ser excluído dos concursos porque não apresentar o registo criminal é factor de eliminação”, admite o paredense.
“Sei que vou apanhar uma fila interminável e sair daqui lá para as duas da tarde. Um senhor que esteve cá contou-me que na semana passada chegou aqui às 8h00 da manhã e já tinha 47 pessoas à frente. Vou escrever no livro de reclamações”, prometeu.
Sindicato diz que Ministério falta à verdade
Recorde-se que as funcionárias da Conservatória de Paredes cumpriram, esta semana, dois dias de greve, na segunda e sexta-feira, deixando muitos utentes à porta. A adesão, diz o Sindicato dos Trabalhadores dos Registos e do Notariado (STRN) foi de 100%, tanto neste balcão como no de Paços de Ferreira, onde a greve durou toda a semana.
O Ministério da Justiça adiantou, entretanto, que a plataforma para cadeira de rodas vai ser substituída já que não tem reparação, estando em curso um procedimento para aquisição de um novo equipamento. Refutou ainda as queixas das trabalhadoras, garantindo que não existem pedidos de reparação pendentes, nem de instalações sanitárias, nem de substituição de lâmpadas ou de equipamentos.
O STRN diz que o Ministério falta “à verdade” e lembra que perante a vigília realizada em Março e a convocação da greve nem o Instituto de Registos e Notariado nem o Ministério da Justiça quiseram dialogar. “Estranha-se que venha só agora o Ministério assumir de que o processo de compra está em curso desde o reporte da avaria, obrigando à realização de uma vigília e à concretização de uma greve”, critica o Sindicato. “Quanto a nós, o procedimento só agora é que está a ser iniciado em virtude da Associação Portuguesa de Deficientes se ter associado a esta causa”, sustenta.
“Quanto às declarações do Ministério em que referem que a denúncia de que as pessoas são levadas a braços, não existe, venha a senhora ministra às instalações de Paredes e dizer às pessoas que têm vindo a auxiliar as pessoas com mobilidade reduzida a escalar toda aquela escadaria que não é verdade, venha também dizer aos comerciantes que cedem electricidade para a realização do cartão de cidadão, que não é verdade, venha ainda dizer à pessoa que oferece esferográficas e lâmpadas que não é verdade, que diga aos trabalhadores de que o ar condicionado funciona em pleno, venha ainda dizer que não é verdade que os utentes se apercebem da natureza dos actos dos restantes utentes que estão em convivência com eles, por o atendimento presencial não ter qualquer tipo de protecção sonora”, desafia a mesma entidade, presidida por Henrique Guimarães.