Desengane-se quem pensa que o golpe é uma modalidade de elites, apenas acessível a um número reduzido de praticantes. A afirmação é de Tomás Bessa, um atleta natural de Paredes, que se dedica a tempo inteiro ao golfe. Aos 25 anos, tem feito um percurso notável em campo e há quatro anos que é profissional da modalidade. Razão pela qual teve que abdicar de viver na sua terra natal, Paredes, rumando ao Algarve, mais concretamente a Almancial, onde as condições atmosféricas lhe permitem a prática da modalidade 12 meses por ano e cinco a seis horas por dia. Para além disso, a “variedade de campos”, foi outras das motivações que o levaram a viver a sul do país, onde pode treinar de manhã e de tarde.
Há poucos dias, Tomás Bessa venceu no Cairo o New Giza Open, prova do Alps Tour, que se jogou no Egipto. Um título compensador e que é o resultado de toda a sua dedicação à modalidade.
“O golfe é um desporto acessível e desenvolve nas crianças capacidades como atenção, competitividade, pontualidade e rigor”
Em entrevista ao Verdadeiro Olhar, começa por deitar por terra a ideia de que o golfe é um desporto para elites. Pelo contrário, “é acessível” a todos. E a prová-lo está o facto de, e no caso do Golfe Clube de Paredes, a mensalidade rondar os “25 a 30 euros”. Já sobre um kit de iniciação custa entre “150 a 200 euros” e acompanha a criança “durante vários anos”, especificou.
E que capacidades desenvolve na criança esta modalidade que, do ponto de vista histórico, não se conhece muito bem a sua origem. Pensa-se que se desenvolveu na Escócia a partir da idade média. Tomás Bessa enumera: “atenção, resiliência, foco, competitividade, pontualidade, rigor, o saber estar em silêncio e a precisão”, são algumas das características que são apuradas com esta prática. Refira-se que, um jogador de golfe também tem que ter muita “resistência e o foco”, porque uma partida pode durar “mais de quatro horas”, o que se traduz em muita paixão e amor à modalidade.
“O golfe consegue ser “divertido e empolgante” e incute aos seus praticantes “o respeito pelo próximo”.
Já para não falar que o golfe consegue ser “divertido e empolgante” e incute nos seus praticantes “o respeito pelo próximo”, ensinando-lhes “regras de etiqueta, que se devem ter em campo e que passam, por exemplo, por cumprimentar o adversário. Uma cordialidade que, depois, é transportada para o dia-a-dia”, referiu o atleta, acrescentando que “é um dos desportos mais bem pagos do mundo”. E como exemplo aponta Tiger Woods, jogador de golfe profissional americano, que é também um dos seus ídolos.
Tiger Woods desmistificou a ideia de que o golfe era “apenas jogado por velhos barrigudos”
Aliás, foi pela mão de Tiger Woods que se desmistificou a ideia de que o golfe era “apenas jogado por velhos barrigudos”, disse Tomás Bessa.
Se não tivesse sido interrompido, Tomás Bessa continuava a enumerar outras vantagens que o golfe trás, porque fala da modalidade de uma forma entusiasta e apaixonada.
E foi com quatro ou cinco anos que o jovem golfista começou a pisar os greens pela mão do pai que é, actualmente, presidente do Paredes Golfe Clube de Paredes. Na altura, praticava em Paredes, “no campo de Vilela. Mas qualquer sítio servia para dar as primeiras tacadas, até o quintal”. Quando chegou o Natal, recorda que recebeu um kit de iniciação. Uma felicidade que o levou a conquistar muitos prémios como benjamim. O amor ao golfe foi aumentando em paralelo com a sua dedicação.
À semelhança de outros jovens, Tomás Bessa entrou para a Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Ainda não finalizou a licenciatura, mas pretende fazê-lo. É que, a determinada altura, percebeu que “tinha grandes hipóteses de sucesso” na prática do golfe. E, um dia, teve que escolher um caminho, “porque era impossível” dedicar-se a tudo com a mesma força e determinação. Suspendeu o curso, pegou no saco de golfe e rumou ao Algarve.
Ali tem todas as condições climatéricas para treinar “cinco a seis horas por dia”, 365 dias por ano. Se estivesse no Norte, com a chuva e o vento, “haveria meses em que seria impossível treinar”. No verão, e porque os dias são maiores, o tempo que passa no relvado é superior.
Tomás Bessa é também um “entusiasta” da alimentação e nutrição para atletas de alta competição. Aliás, destacou ao Verdadeiro Olhar, dá o seu melhor para que “a ‘máquina’ funcione cada vez melhor”, porque o golfe é um desporto muito exigente e de precisão e requer que seja feito “um bom trabalho com o nosso corpo”.
Arrependimento? “Nenhum”, tanto mais que adora o que faz. Mas este jovem de Paredes não vive apenas para o golfe. Adora viajar, jogar paddle, ir à praia e ao cinema e ler.
Mas, a verdade, é que não tem muito tempo para estas actividades, porque participa em cerca de “20 a 30 torneios por ano”, sendo que cada um dura em média “uma semana”. Também esta azafama lhe retira a possibilidade de ir mais vezes a Paredes visitar a família e os amigos. Mas, quando pode, não deixa de viajar até ao Norte, porque “é sempre bom regressar a casa”, referiu.
Sobre o futuro, Tomás Bessa pretende continuar a subir os degraus da modalidade e tornar-se cada vez melhor. Mas, e como sabe que o “caminho se faz caminhado”, vai-se mantendo na luta e assegura que “nunca” vai desistir ou deixar-se abater, mesmo “quando as coisas não correrem tão bem”. Porque o golfista vive com a máxima de Tiger Woods, de continuar a escalar montanhas, até, um dia, chegar ao topo.