“O amor é a única forma de acabar com os muros”. As palavras são do Padre Rui Pinheiro que contabiliza 50 anos de sacerdócio e que a Fundação A Lord quis assinalar com o lançamento de um livro biográfico com o título “O pai de uma terra – uma vida de entrega”. E a terra a que o livro se refere é Lordelo, em Paredes, à qual o padre dedicou quase toda a sua existência sacerdotal.
Em entrevista ao Verdadeiro Olhar, Rui Pinheiro contou um pouco da sua vida, mas a palavra que mais proferiu foi “amor”, porque o considera “a chave de tudo”. Para além disso, é “contrário ao egocentrismo” que tem que ser combatido, mas, infelizmente, tão visível na actual sociedade.
E se tivesse que deixar uma mensagem ao mundo? O sacerdote não hesita numa resposta direccionada para as “crianças”. Porquê? “Porque são o que de mais maravilhoso há no mundo. É importante que elas cresçam com alegria e é preciso dar-lhes a possibilidade de terem e de viverem com amor”.
Faz domingo 50 anos que celebrou a primeira missa em Lordelo
Rui Manuel Dias Martins Pinheiro nasceu no dia 29 de Setembro de 1945 em São Cristovão de Refojos, município de Santo Tirso. Morava, juntamente com os pais e cinco irmãs, perto da igreja. Por isso, desde pequeno, habituou-se a ver o padre da sua freguesia a rezar. Talvez essa imagem, que guarda até hoje, o tenha levado a seguir o caminho do sacerdócio. É que, naquela altura, não havia fartura e todos “tinham uma vida de trabalho”. Talvez esses dois factores somados o tenham levado até às salas do seminário. Deixou-se levar pela vida que parecia empurra-lo.
Fez o curso de Teologia no Seminário Maior do Porto. Quando foi ordenado Diácono, em 1969, veio para Lordelo como vigário cooperador.
Mais tarde, o que foi experienciado e a convivência com outros padres abriram-lhe o coração. Porque “há pessoas que nos ajudam a ver o nosso caminho”. E quando teve que decidir qual seria o seu futuro, foi a vida a dar-lhe a resposta.
No dia 12 de Dezembro de 1971 foi ordenado sacerdote por D. António Ferreira Gomes. Sete dias depois, celebrou a sua primeira eucaristia em Lordelo. Faz domingo 50 anos. E este percurso “não tem sido fácil”, reconheceu. É que, antigamente, “as pessoas vinham à igreja, mas os tempos mudaram”. E não tem dúvidas em afirmar que “tem que ser a igreja a ir ao encontro das pessoas, porque elas não procuram os padres, não entram nas igrejas e não assistem à missa”.
Para além disso, “há muito pouca vocação” para um caminho que tem que ser assumido “como uma missão”. Mas essa incumbência não pode ser só dos padres, “tem que ser partilhada com os pais, professores, catequistas que têm que ajudar os jovens a irem de encontro do amor, a terem vontade de conhecer o outro e a partilhar”. Só assim, será possível “conquistarmos um mundo diferente”.
Rui Pinheiro reconhece que os confinamentos a que fomos sujeitos “mudaram o mundo”, porque as pessoas fecharam-se. Mas “há que ter esperança”. O sacerdote acredita que “é possível acabar com a indiferença”.
Do seu percurso, não deixa de falar em Moçambique, onde passou um período da sua vida que não consegue precisar em concreto. Ali esteve até depois do 25 de Abril de 1974. Regressou a Lordelo, como como sacerdote auxiliar do Padre Duarte Menezes Soares. Em Abril de 1980 ficou como pároco de Lordelo, onde se mantém até agora. Hoje, divide as tarefas sacerdotais com o Padre Paulo.
Sobre esta homenagem da Fundação A Lord, revela que não poderia estar mais satisfeito, porque é bom ser reconhecido. Considera que recebeu muito de uma comunidade que está repleta de “gente maravilhosa e simples”.
Sobre o livro, sorri ao mesmo tempo que confessa que ainda não o leu. Talvez porque conhece como ninguém tudo aquilo que aquelas páginas contêm. Mas promete fazê-lo, em breve.
Rui Pinheiro é conhecido por toda a população como um homem com uma vida de luta pelo bem-estar de todos. Participou em vários projectos como a construção e desenvolvimento da Associação para o Desenvolvimento Integral de Lordelo, a ADIL. Para além disso também se preocupou com a construção, remodelação e conversação dos vários centros de culto existentes.
O sacerdote recebeu muito, mas deu ainda mais. E promete continuar a sua missão: trabalhar para derrubar muros e continuar a espalhar o amor.
O pároco recebeu, em 2021, a Medalha de Ouro do Município pelos 50 anos de sacerdócio.