As palavras e as histórias cruzaram-se com Jorge Moreira desde que se lembra. O pai, marceneiro, trazia para casa bocadinhos de madeira. Ainda criança, brincava com aquelas formas, criava e recriava mundos do “faz-de-conta”.
Hoje, com 31 anos, contabiliza, no úlitmo mês e meio, dois prémios literários. Publicou “O Homem que Diminuía”, o primeiro romance, o ano passado. Seguiram-se dois contos que lhe valeram o reconhecimento público. Em Paredes, a terra de onde é natural, foi distinguido com o “Lonjura”, através do prémio António Mendes Moreira. Dias depois, em Lisboa, subiu ao “pódio” com o “Ora Bom Dia”, com o Prémio Literário Luís Vilaça.
Ambos os reconhecimentos o deixam exultante, mas não deixa de destacar aquele que o diferenciou em ‘casa’, porque é sinónimo que os responsáveis locais “se preocupam com a cultura”.
Jorge Moreira nasceu em Paredes, mas cresceu em Lousada. Sobre a sua infância guarda boas recordações. “Foi tranquila”, ao lado, sobretudo, da avó e da irmã. E se começou por recriar histórias com os bocadinhos de madeira, pouco depois, transportava o que idealizava para as folhas de papel. E aí começou a fazer algo que faz “bem”, escrever, como confessou em entrevista ao Verdadeiro Olhar.
Licenciado em ´Ciências da Comunicação’, optou pelo caminho da escrita criativa e dedica-se, a tempo inteiro, à publicidade. Esse sempre foi o caminho, não outro, porque em Portugal “é difícil viver da escrita”, por isso, priorizou o que gosta, mas também o que “rende a nível financeiro”. Porque ser escritor por cá, além do talento, é preciso ter a “sorte” como aliada. E se avaliarmos bem, quem sabe se estes dois prémios não vaticinam esse destino.
O vida de Jorge Moreira divide-se entre Portugal e a Letónia, o país de origem da mulher que conheceu “em Espanha, entre viagens”. E gosta desta ponte que faz entre os dois territórios, “são muito diferentes”, mas, talvez, apaziguadores, para um espírito que parece inquieto e que se refugia na escrita, nas mais variadas vertentes.
Nas estantes de casa de Jorge Moreira sobressaem “O Homem que Diminuía”, onde vive um protagonista, acabado de transitar para a vida adulta. E começa a ficar mais pequeno. Pesava-lhe a perda do irmão e a rotina dum trabalho alegórico ao comunismo soviético. Curvava-o o barulho que crescia dentro de si, mas que nunca ouvia. E apesar de sempre conectado, esse Homem estava desligado. Porquê Homem? Porque cómodo, pelo menos o Homem sabia o que fazer. Porque distraído, pelo menos o Homem não se questionava. Assim, lá ia o Homem diminuindo, até que, certa manhã, dera consigo no mais pequeno dos anões. E de tão pequeno que estava só lhe sobrava espaço para o que realmente importava, lê-se numa sinopse que desperta o interesse para futuras leituras.
Já a folha em branco que abraçou o conto ‘Lonjura’, inspira-se na avó e nos tempos de antigamente. Desconstruiu a letra da música “Desfolhada” para ritmar a história, pintada aqui e ali com traços de humor e reflexões.
É assim Jorge Moreira, o escritor de Paredes, que viveu em Lousada, mas que tem o coração na Letónia, onde vai com frequência. Dividido na vida e nas paixões, prometeu ao Verdadeiro Olhar que vai continuar a inspirar-se, quem sabe, em Ary dos Santos, e a escrever e a ditar para as folhas em branco “palavras à luz do sol nascente”.