Verdadeiro Olhar

Paredes: de frente para o passado e de costas para o futuro (cap.II)

Quando, no último texto que aqui escrevemos sobre as particularidades do concelho de Paredes, referimos a falta de unidade do concelho, invocamos as rivalidades entre as diferentes freguesias e a ausência do orgulho de pertencer ao mesmo concelho como entropias ao desenvolvimento integrado e equilibrado do concelho não referimos, por contraste, o exemplo dos concelhos vizinhos. Não o fizemos, mas facilmente entenderíamos que se grande parte do atraso estrutural de Paredes se deve à ausência deste sentimento, muita da superioridade de concelhos como Penafiel ou Lousada se explica por motivos contrários. Nestes, o orgulho de se pertencer ao todo concelhio constitui-se como encontro de vontades coletivas e causa de desenvolvimento equilibrado. Pelo contrário, em Paredes, esta ancestral tendência, embora explicável, faz com que as vantagens do todo se anulem perante o bacoco e paroquial pensamento da “minha é melhor do que a tua”.

Por outras palavras, se em Penafiel ou Lousada se pensa que o conjunto das freguesias é que faz o desenvolvimento do concelho, em Paredes, cada freguesia quer que a sua freguesia seja melhor do que a outra. Facilmente se entenderá que a força reivindicativa de um concelho que assim age seja imensamente maior do que a capacidade de se desenvolver do outro que se alimenta de rivalidades interiores entre as diferentes partes do concelho.

Penafiel, por exemplo, tem uma área geográfica enorme, tem mais de 30 freguesias, mas desde Rio Mau a S. Martinho de Recezinhos, todos fazem questão de dar o seu melhor ao conjunto seu concelho e orgulhosamente partilham a identidade de ser de Penafiel, de ser penafidelense.

Pelo contrário, em Paredes isso não existe. O conjunto das freguesias não se reveem no todo concelhio.  Pelo contrário. Rivalizam umas com as outras e quase todas com a sede do concelho. Também a sede do concelho não tem sabido olhar de igual modo para cada uma das freguesias. E levam estas disputas tão longe que, em pleno séc. XXI, numa Europa em que cada vez mais se tenta acabar com fronteiras, vemos ainda as freguesias de Paredes, em atitudes medievais, a disputarem entre si as fronteiras de cada uma, cada uma reivindicando para si o metro quadrado que a outra dá como sua e, juntas, não saberão explicar o que cada uma ganha com esse pedaço de terra, muitas vezes em lugares ermos que nem os habitantes sabem onde ficam.

O cúmulo destes paradoxos estende-se, imaginem, à escolha dos candidatos à gestão da autarquia. Em vez da procura dos que mais mérito têm, dos mais capazes e dos mais competentes, faz-se um varrimento das qualidades só porque este ou aquele, por razões tantas vezes desconhecidas ou enganadoras, consegue angariar mais uns votitos ou porque dá mais uns euros para a campanha eleitoral ou porque era de outro partido e se vende à proximidade do poder ou até em troca da promessa de um emprego na autarquia para o familiar ou amigo, tantas vezes para ocuparem cargos cujas competências funcionais desconhecem e, se conhecessem, não são capazes de as cumprir.

Assim, não vamos lá. Assim, cada vez mais ficaremos para trás no contexto regional e nacional onde, diga-se, já ocupamos os lugares menos desejados no que ao desenvolvimento municipal diz respeito.

O Aterro Sanitário em Baltar

Podem chamar-lhe pomposamente unidade industrial, podem dizer que é para a valorização orgânica de bio-resíduos ou podem até chamar-lhe um hotel de 6 estrelas.

O que o município de Paredes se prepara para instalar na zona industrial de Baltar/Parada ou Baltar/Parada, como quiserem, não será nem mais nem menos do que aquilo que todos conhecemos como aterros sanitários.

Significa, portanto, que todos os inconvenientes que estes equipamentos acarretam irão concentrar-se na freguesia de Baltar e nas estradas principais de todo o concelho de Paredes onde desfilarão diariamente centenas de carros de lixo transportando as mais de 25.000 toneladas de lixo que seis dos municípios do Vale do Sousa produzem.

Não fosse assim e não teriam sido os presidentes das câmaras de Lousada e Penafiel a anunciar as “ vantagens do “investimento” em Paredes.

 Um sobressalto cívico contra a mentira e pela transparência é o mínimo que todos os paredenses deviam exigir.