Enfim, o dia acordou soalheiro, as notícias foram passando via rádio para o boca- a- boca dos cidadãos que iniciavam, com a tranquilidade de sempre, mais uma jornada de trabalho. A revolução parecia longe dos paredenses, tal era o nível de (desin)formação política da quase totalidade da população. De Paredes e do restante país. Só mesmo nos grandes centros urbanos a revolução tinha cheiro a cravos.
Foram dois os locais da cidade que sentiram, em primeiro lugar, os efeitos imediatos da ação dos militares: na secção do Liceu Garcia de Horta (que funcionava nas atuais instalações da Casa da Cultura) e no edifício da Câmara. No liceu, o dia da revolução durou apenas umas horas. O fim das aulas a meio da manhã foi o único sinal evidente de que algo de importante se passava no país. O vice-reitor ficou à espera de “novas ordens” e os alunos de “novos dias”. Em qualquer dos casos não foi grande a agitação nesse e nos dias próximos até ao primeiro 1º de Maio comemorado livremente.
Do que se passou nesses dias nos corredores da câmara pouco se sabe e, para cúmulo, até os registos oficiais ganharam as asas de liberdade. Nunca mais se viram ou quem os viu não diz deles. Devem existir e alguém deles saberá.
A deposição do presidente da câmara, que na altura não era eleito mas apenas nomeado, aqui como em todo o país, foi feita também de forma silenciosamente pacífica. Sabe-se pouco porque os protagonistas desses factos mantiveram uma incompreensível relutância em falar ou escrever sobre esses tempos.
Hoje, sobre abril, em Paredes, fala quem esteve no poder antes do dia 25 ou delatores que foram capazes de, quase em simultâneo, retirar os bustos dos fascistas para, logo depois, fazerem o seu elogio fúnebre.
Estridência, daquela que a revolução deu, só no 1º Maio de 1974. E os novos “antifascistas” apareceram todos.
E as sequelas ainda se veem.