É de Paredes um dos oito vencedores dos prémios Norte Empreendedor. Miguel Leal criou a YogurtNest, a iogurteira multifunções mais ecológica do mundo. O objectivo: proteger o planeta. É que com o uso desta iogurteira, completamente “made in Paredes” – em localidades como Vandoma, Gondalães e Besteiros -, é possível reduzir o consumo de energia e a produção de resíduos.
Pelas contas do biólogo e mentor do projecto, nos últimos oito anos, deixou de comprar 17 mil embalagens de iogurtes e poupou cerca de 2.000 euros.
Com o prémio de cinco mil euros, Miguel Leal vai investir na consolidação do produto no mercado nacional e testar no Reino Unido o mercado europeu. A internacionalização é a meta. Só no ano passado foram de Paredes para o mundo mais de mil YogurtNest.
Colmeia com serradura foi a base do produto
Miguel Leal é biólogo, tem 47 anos e é natural de Castelões de Cepeda, Paredes. Trabalhou vários anos na sua área, numa câmara municipal, como jornalista e esteve sete anos no Canadá, mas foi na terra natal que procurou implementar projectos que têm como base aquilo em que acredita.
Nessa procura por um mundo mais sustentável comprou, em 2008, um robot de cozinha para fazer iogurtes. “Funcionava, mas cada vez que era utilizado tínhamos que lavar várias peças e o consumo de energia era elevado”, recorda. Dois anos mais tarde, o paredense criava o movimento Paredes em Transição, que pretendia tornar as pessoas mais sustentáveis e auto-suficientes, iniciando a transição para um mundo menos dependente de combustíveis fósseis. “Pusemos as pessoas a cultivar na varanda e um apiário comunitário, entre outros”, conta.
Tinha um blog onde divulgava esse projecto e, um dia, fez uma publicação com ideias para um pequeno-almoço todo com produtos feitos em casa. “Nessa altura recebi um email a perguntar como fazia o iogurte e respondi dizendo que utilizava um robot de cozinha, mas, como é um equipamento caro que nem todos podem adquirir, expliquei como podia ser feito sem máquina. Nos dias seguintes fiquei a pensar nisso. Se teria dado uma solução que não funcionava. Por isso, resolvi experimentar”, resume Miguel Leal.
Pelo meio tinha começado com amigos a TimberBee, uma empresa que queria fabricar as colmeias mais sustentáveis de Portugal, comprando tudo localmente e mantendo o dinheiro a circular na comunidade.
Não é por isso de estranhar que quando pensou em criar uma iogurteira tenha usado por base uma colmeia e os desperdícios de serradura que criavam ao produzi-las. “Construí uma colmeia pequenina preenchida com serradura, levei leite ao microondas, juntei uma colher de iogurte e pus lá a incubar”, explica o biólogo.
A YogurtNest é feita com tecidos comprados em Vandoma, o corte é feito em Gondalães e a concepção em Besteiros
Seguiram-se várias experiências e um processo evolutivo. Usava os frascos vazios que tinha em casa e, como pensou que uma colmeia não ficava muito bem na cozinha, resolveu forrá-la. Nascia assim, quase num acaso, a primeira YogurtNest.
O modelo final foi um “acidente”. Tinha deixado de noite iogurte a fazer e, talvez porque o frasco que reutilizou tivesse ficado mal tampado, acordou com uma poça de leite no chão da cozinha. E a serradura não dava para lavar. Pensou então em usar um granulado de cortiça, um produto lavável que ainda melhorou o rendimento térmico.
A iogurteira era toda feita com produtos naturais: lã, algodão e agora cortiça, o ingrediente secreto.
Uma amiga fez os primeiros protótipos e rapidamente chegaram a um aspecto semelhante ao actual. “Os primeiros eram mais baixos e pareciam um ninho de pássaro. Foi aí que surgiu a ideia de ninho de iogurte e a YogurtNest, um nome em inglês porque já tinha a consciência que o produto tinha potencial para internacionalizar”, confessa.
Além da sustentabilidade ambiental, com a poupança de energia, a ideia de comprar local mantinha-se neste projecto. A YogurtNest é feita com tecidos comprados em Vandoma, o corte é feito em Gondalães e a concepção em Besteiros, tudo em Paredes.
Principal mercado é Lisboa, mas já chegou a vários países
Um amigo falou-lhe então do projecto Amorim Cork Ventures, da Corticeira Amorim. Concorreu com vários projectos de várias nacionalidades e universidades. “Este foi o único que agarraram na sessão em que participei”, conta. A empresa arrancaria em Agosto de 2016 e a recepção do mercado foi boa.
As primeiras iogurteiras dessa nova geração começaram a ser vendidas em Janeiro de 2017 e até ao final do ano as vendas ultrapassaram as mil unidades, quase todas as que tinham sido produzidas, sobretudo via Facebook e feiras, já que o site haveria de nascer apenas no final do ano.
As vendas continuam em alta este ano, garante o paredense. “No mês passado, no Mercado Gourmet no Campo Pequeno vendemos 30 e esta semana mais 28 numa outra feira lisboeta. Na semana passada enviei 21 para a Bélgica”, dá como exemplo.
A YogurtNest está disponível em Portugal em lojas do Porto a Faro, com preponderância em Lisboa. Mesmo em vendas online a zona de Lisboa é a mais significativa e é também na capital que as feiras dão mais resultados. “As feiras em Lisboa são sempre mais proveitosas e sozinhos os distribuidores de Lisboa têm quase metade das vendas das lojas”, refere o biólogo.
Prémio de cinco mil euros foi importante, mas Miguel Leal destaca a aprendizagem obtida no projecto Novo Rumo a Norte
Envolveu-se nos prémios Norte Empreendedor depois de participar em sessões de “mentoring” e “coaching” que a Associação Empresarial de Portugal realizou nos últimos dez meses, no âmbito do projecto Novo Rumo a Norte. Acabou por ser um dos oito vencedores entre os mil empreendedores e empresários participantes.
Conquistou um prémio de cinco mil euros. Mas ganhou mais que isso, garante. “O dinheiro dá jeito, mas todo o processo de preparação para o prémio ajudou a preparar-me como empreendedor. Hoje sou muito mais capaz de apresentar o produto. Foi uma aprendizagem e isso vale muito mais que os cinco mil euros do prémio”, sustenta.
O prémio vai ser investido no produto, mas Miguel Leal também pretende avançar com uma campanha de crowdfunding para fazer pré-venda de YogurtNest e investir no packaging e na capacidade de internacionalização. “O objectivo é anunciar o produto ao mundo e vender o mais possível. Estamos no bom caminho”, acredita. Além de consolidar o mercado nacional, o natural de Paredes quer fazer no Reino Unido um teste ao mercado europeu.
“As pessoas têm que ouvir explicar o produto para perceber as vantagens. Isto não se vende no supermercado. As pessoas olham para isto e vêm um saco”, afirma, realçando a importância da partilha de experiências entre amigos e família e de um bom serviço de apoio ao cliente.
As iogurteiras da colecção actual têm nome de praias portuguesas. Mas será lançada uma nova colecção com o tema de aldeias serranas, com nomes como Rio de Onor, Piodão ou Pitões das Júnias. “São uma espécie de embaixadores de Portugal”, brinca.
YogurtNest permite poupar o ambiente e também dinheiro, garante o autor da ideia
Para fazer uma embalagem de iogurte é preciso energia e gera-se lixo. Ao criar esta iogurteira ecológica, Miguel Leal quis gerar um impacto positivo no planeta, reduzindo o uso de embalagens plásticas e a libertação de milhões de toneladas de CO2. Segundo cálculos do paredense, uma família que consuma cinco litros de iogurte por semana pode poupar 2.085 embalagens plásticas de 125 mililitros (ou 260 embalagens de um litro) em, apenas, um ano, usando o YogurtNest.
Além disso, defende o mentor do projecto que, juntamente com Ana Cunha, é o rosto da YogurtNest, mais que a questão ecológica, este produto dá liberdade de escolha. Permite produzir desde um pequeno frasco de iogurte até 3,5 litros, reutilizar frascos que já temos em casa, escolher o leite e os ingredientes a usar permitindo inclusive iogurte vegetal ou grego, e é mais rápido que uma iogurteira eléctrica.
Outra componente importante é o factor económico, admite. Uma família de quatro pessoas que consuma, diariamente, quatro iogurtes de 125 mililitros, pode economizar, dependendo do preço, entre 160 a mais de 200 euros.
“Uma iogurteira custa entre 33,5 e 40 euros. Mas rapidamente o investimento se recupera”, diz Miguel Leal. “Fiz contas e vi que nos últimos oito anos deixei de comprar 17 mil embalagens de iogurte cá para casa e poupei cerca de 2.000 euros. Isto levando em conta o preço dos iogurtes mais baratos. Uma família normal que coma um iogurte por dia só demora dois meses a reaver o investimento. E até ao final do ano ainda poupa cerca de 200 euros. Não conheço mais nenhum produto com um retorno tão rápido do investimento”, realça.
A YogurtNest assume-se ainda como um produto multi-funções que pode ser usada como estufa slow cooker, que permite cozinhar arroz, massas, sopas e estufados saudáveis, economizando energia; mala térmica ou ninho para levedar massa para pão, pizza ou bolos.
O site, afirma o biólogo de Paredes, é parte integrante do produto. “Quando compram as pessoas recebem um manual, mas lá têm informação mais detalhada e têm dicas e vídeos para tirar o máximo proveito da YogurtNest”, conclui.