Um engenheiro electrotécnico de Recarei, Paredes, venceu o Prémio Nacional Português de melhor fotografia no Sony World Photography Awards, um prestigiado concurso internacional que mostra o que de melhor se faz na área em 70 países.
António Bernardino Coelho apaixonou-se pela fotografia há oito anos durante a lua-de-mel e, desde aí, já ganhou outros prémios. Mas não esconde que este foi o “mais marcante” pela grande exposição internacional.
A imagem vencedora, com o título “Solidão”, é um auto-retrato captado na floresta perto de casa, onde costuma fotografar cogumelos. A mensagem transmitida vai de encontro à actualidade que se vive na sociedade, acredita o paredense. “A solidão é, na realidade, algo que afecta muito a sociedade. Basta pensarmos no efeito das redes sociais e no quase relacionamento das pessoas sem um contacto frontal”, explica.
No futuro quer continuar a fotografar, como hobbie, e, quem sabe, fazer uma exposição. Para já, vai mostrando o seu trabalho em várias plataformas de fotografia online.
Paixão pela fotografia nasceu em 2010 com uma máquina compacta da Sony
Tem 37 anos, cresceu e vive em Recarei. Teve uma infância normal, “sem tablets ou tecnologias”, mas desde pequeno que se sentiu atraído por aparelhos eléctricos. Talvez tenho sido isso que o levou a escolher a Engenharia Electrotécnica anos mais tarde. “Lembro-me de um carro telecomandado que cheguei a desmontar. Sempre demonstrei um gosto por abrir aparelhos eléctricos, como pequenos rádios”, recorda António Bernardino Coelho. Desenho e pintura foram outra das paixões que cresceram desde a infância e que o levaram a explorar a pintura de forma autodidacta.
Completou o ensino básico em Paredes, o secundário em Valongo e seguiu para o curso de Engenharia Electrotécnica no Instituto Superior de Engenharia do Porto. Passou por empresas como a EFACEC e a ABB e actualmente trabalha na EDP, como engenheiro electrotécnico, no projecto e construção de redes de distribuição.
O interesse pela fotografia havia de surgir só em 2010, ano em que casou e em que rumou a Cuba para a lua-de-mel. “Foi nesta altura que comprei a minha primeira máquina, uma máquina digital compacta da Sony. Talvez tenha trazido comigo cerca de 630 imagens, claro, numa perspectiva de turismo e de lembrança da data e do local”, conta o paredense.
A paixão rapidamente se instalou. Começou por comprar máquinas mais antigas, como uma Polaroid Land Camera, mas a máquina que mais lhe marcou o desenvolvimento como autodidacta foi uma máquina de rolos 120 (médio formato) da década de 1930´s, uma Zeiss ikon Nettar, refere António Bernardino Coelho. “Foi com ela, e muitas outras que adquiri até 2014, que fui desenvolvendo algumas técnicas”, explica. Nesse ano, comprou a primeira DSLR e dedicou-se inteiramente à fotografia digital. Uma escolha que deixa saudade, não esconde, mas justificada pelo processo “moroso e dispendioso” exigido pelo analógico.
Fotografa vários temas, mas o seu preferido é o conceptual. “Além de fascinante, dá-me a possibilidade de transmitir sentimentos e pensamentos pessoais e da sociedade em geral. Muitas das vezes recorro a objectos simples como parafusos, lápis, papel, tintas, embalagens, etc”, dá como exemplo.
Por isso, fotografa muito em casa, mas também costuma sair para os montes em torno da habitação, em Recarei, para fotografias de natureza, muitas vezes a retratar cogumelos, algo que adora fotografar.
“Nem sempre levo a câmara comigo, o que muitas vezes me levou a perder algumas oportunidades de captar imagens de locais diferentes”, confessa.
“Solidão” foi fotografada em Recarei
Tem hoje milhares de fotografias armazenadas, optando por guardar “algumas centenas”, “as melhores”, de forma mais segura. “As de família guardo mesmo quase todas, tenho mesmo muitas, faço sempre todos os anos um álbum ou mais com essas imagens. Penso que a impressão, em álbum ou não, é a forma mais segura de guardar as fotografias. E algumas estão espalhadas nas paredes em casa”, conta António Bernardino Coelho.
As suas fotografias já lhe tinham rendido prémios. No ano passado, ficou em segundo lugar no 35Awards2016, um concurso russo, e ganhou o primeiro lugar, no tema natureza morta, no concurso Xposure2017, “que me valeu uma viagem para receber o prémio aos Emirados Árabes Unidos, tendo estado em Sharjah e no Dubai”. Ainda em 2017, conquistou o bronze no concurso Monoawards. Foi distinguido com menções honrosas também no PX3, em França, no Monovisios, Monoawards e International Photographer of the Year, nos últimos dois anos.Desta vez, decidiu participar no Sony World Photography Awards. Foi ao vasto portfólio de imagens que possui e escolheu algumas para participar. Uma venceu na categoria de melhor imagem de um fotógrafo português, outra recebeu uma recomendação do júri.
A “Solidão” surgiu por acaso, numa das muitas caminhadas que, quase todos os fins-de-semana de Outono e Inverno costuma fazer na floresta perto de casa para fotografar cogumelos. “Numa dessas manhãs ao passar junto a um aglomerado de pinheiros e carvalhos, para além do intenso nevoeiro, a luz pareceu-me interessante, o que captou o meu olhar para o efeito produzido ao passar pelo meio das árvores”, recorda o paredense.
Gostava de fazer uma exposição
Decidiu fazer um auto-retrato. A imagem foi depois convertida para monocromática. “Costumo ser bastante selectivo nas imagens que converto para preto e branco. Neste caso, ao processar a imagem, o contraste e a luz pareceram-me ideais para explorar o tema da solidão. O local em si também parece um local algo tranquilo, isento de ruídos, afastado… De certa forma intensifiquei o contraste na imagem para reforçar a sensação transmitida”, relata. Uma opção que resume numa frase de Ansel Adams, fotógrafo que o inspira, “Você não tira uma foto, você cria uma foto”.
Apesar da temática, o natural de Recarei diz que a sua vida é tudo menos solitária. Tanto a esposa como a filha de seis anos adoram ser fotografadas e embarcam muitas vezes em caminhadas em família.
Este prémio, garante, foi o “mais marcante prémio ao nível da fotografia pois revela grande exposição internacional”. “É igualmente uma enorme satisfação e orgulho ser um dos escolhidos dentro da elevada quantidade de imagens a concurso”, afirma.
Dedicar-se à fotografia a tempo inteiro para já não é um plano, diz António Bernardino Coelho, mas o hobbie é para manter e está já a planear alguns trabalhos. Promete continuar a fotografar com ainda mais motivação e, de parte, não põe a hipótese de fazer uma exposição.
Até lá, a montra dos seus trabalhos fotográficos são várias plataformas online como o Olhares, 1X e Fine Art Portugal.
Pode ver a foto vencedora na página do Sony World Photography Awards aqui. A 19 de Abril, António Bernardino Coelho estará em Londres, data em que será anunciado o nome do Fotografo do Ano do Sony World Photography Awards. A sua fotografia estará exposta na Summerset House, também em Londres, entre 20 de Abril e 6 de Maio.