O “encerramento” da valência do pré-escolar do Centro de Bem-Estar Infantil da Santa Casa da Misericórdia de Lousada está a ser contestado pelos pais. Está a ser realizado um abaixo-assinado que já ultrapassou as 100 assinaturas.
A previsão é que o espaço deixe de funcionar já no final deste ano lectivo. Os pais dizem-se “revoltados” com a decisão “abrupta” da instituição e lamentam que não haja continuidade na formação das crianças.
Em causa estão as salas dos 3 aos 5 anos e cerca de 60 crianças. Segundo os pais, a Santa Casa alegou que a valência dá “prejuízo” como “desculpa” para avançar com esta medida.
Contactada, a administração da Misericórdia de Lousada nega. Salienta ainda que não vai haver encerramento, mas sim a reconversão daquele espaço em creche, para dar resposta às necessidades do concelho nesta área.
“Foi uma comunicação e uma decisão unilateral”
Mariana Costa foi utente da instituição. Agora, já mãe, escolheu esta creche e jardim-de-infância para a educação dos filhos, sobretudo por querer “estabilidade” e continuidade” até os filhos ingressarem no primeiro ciclo. Tem duas crianças, uma no pré-escolar. É uma das subscritoras do abaixo-assinado e critica deste anúncio “abrupto” de encerramento.
Conta que os pais foram convocados para uma reunião urgente, na semana passada, onde lhes foi “comunicado” que a valência dá “prejuízo” e que, “como o concelho tinha resposta no sector público para estas crianças” a valência iria “encerrar” para ser criada uma nova creche. “Os pais não foram ouvidos. Foi uma comunicação e uma decisão unilateral”, lamenta.
Descontentes e revoltados com esta medida da Santa Casa, os pais estão a realizar um abaixo-assinado para contestar esta decisão. “Estão a pôr as crianças lá fora para arranjarem espaço para um negócio mais rentável”, critica Mariana Costa.
Esta mãe também não acredita quando se fala de alternativas. Julga que as instituições e escolas do centro da vila não terão capacidade de acolher estas 60 crianças, obrigando a deslocações, por vezes difíceis, para freguesias limítrofes. Além disso, lembra, no setor público os horários nem sempre são compatíveis com os horários dos empregos dos pais. Este pré-escolar funcionava das 7h30 às 19h00, mas há escolas públicas onde é preciso ir buscar as crianças às 17h30. Como é que vamos fazer?”, questiona. “São os nossos filhos que estão em causa, queremos ser ouvidos e, pelo menos, que haja uma transição gradual”, com o pré-escolar a encerrar à medida que as crianças que o frequentam vão avançando para o primeiro ciclo, refere ainda.
O abaixo-assinado, que foi aberto à comunidade, já superou as 100 assinaturas. Nas redes sociais são muitos os pais a demonstrar descontentamento.
Instituição vai aumentar a resposta para creche
Ao Verdadeiro Olhar, a administração da Santa Casa explica que não está em causa o encerramento da valência, como alegam os pais, mas sim uma reconversão da mesma em creche.
Segundo Bruno Martins, quer nesta instituição quer no sector público há vagas por preencher no pré-escolar no concelho numa altura em que Lousada “é deficitário em creches”. “É uma questão de eficiência. Temos mais de 60 crianças em lista de espera para creche”, dá como exemplo o administrador, realçando que a meta da Misericórdia sempre foi dar resposta às necessidades existentes e não duplicar respostas.
Adianta ainda que com a reconversão do espaço em creche a capacidade vai mais do que duplicar, passando de 35 para 84 vagas, o que não chega para dar resposta às necessidades já identificadas. “A reconversão vai acontecer no final deste ano lectivo e fizemos esta reunião com antecedência, para informar os pais, para que possam tratar da transição para o sistema público. Não estamos a fechar do dia para a noite”, frisa.
Bruno Martins confirma que a valência dá prejuízo, mas destaca que o mesmo acontece com o a creche ou com o lar da instituição. “Percebemos a revolta e preocupação, mas uma transição iria acontecer de qualquer forma. As crianças adaptam-se. Já as restantes alegações sobre ‘negócios’ não fazem sentido”, aponta o administrador.