Como prometido, algumas dezenas de pais e alunos concentraram-se no portão da Escola Básica e Secundária de Lousada Norte, em Lustosa, esta segunda-feira, em protesto contra a má qualidade da comida servida na cantina. Alguns levaram “marmita” e almoçaram com os filhos. A acção marcou o início de uma semana de greve em que os alunos são desafiados a não comer na cantina.
A direcção do Agrupamento de Escolas Dr. Mário Fonseca lamenta a atitude dos pais numa altura em que a qualidade das refeições servidas tem vindo a melhor e é “razoável”. Garantem ainda que alguns casos relatados, dando contra de comida queimada, crua e sem sabor foram pontuais e têm vindo a ser resolvidos.
“Todas as crianças se queixam que a comida é intragável, que não tem sabor, ou que é crua, salgada ou queimada”
Na semana passada, um grupo de pais convocou uma greve à cantina da escola, queixando-se de que os filhos têm no prato “cabeças de peixe, douradinhos queimados, almôndegas com sabor a detergente, batatas cruas, pão duro e sopa aguada”, entre outros. A situação leva as crianças e jovens a deixar a comida nos tabuleiros e a ir comer ao bufete para não ficarem com fome ou mesmo a levar comida de casa.
“O meu filho queixa-se que a comida não presta, que o arroz parece chiclete, que a massa com peixe não tem peixe, só espinhas. Ele come na cantina, mas muitas vezes não come nada de jeito e vai para o bufete. Hoje decidimos vir aqui a ver se a direcção da escola toma uma atitude”, explicava Carla Martins enquanto almoçava massa com o filho na paragem de autocarro. “Estou a perder o trabalho para estar aqui. Como tenho outra filha a caminho do ciclo tenho de prevenir”, defende a mãe.
As queixas são comuns a outros encarregados de educação e crianças. “Tenho aqui uma neta no oitavo ano. Todas as crianças se queixam que a comida é intragável, que não tem sabor, ou que é crua, salgada ou queimada. Como moramos perto ou ela vai a casa almoçar ou socorre-se do bufete. À cantina ela não vai”, diz Fátima Couto.
“Estamos todos a lutar pelo mesmo, queremos uma alimentação melhor para os nossos filhos. Isto tem vindo a piorar”, aponta Liliana Pinto, mãe de uma aluna do 5.º ano.
Com o terceiro filho a frequentar esta escola, Maria de Fátima Silva tem termo de comparação. “Tinha dias que a comida era razoável, mas no ano passado o meu filho só comeu cá três vezes. Vim fazer queixa à direcção e disseram-me que os miúdos é que eram esquisitos, que a comida estava boa”, critica a mãe. Ela veio provar e também não gostou, garante. “Vim cá a almoçar e a sopa sabia a azedo. As batatas e o peixe não sabiam a nada. As próprias funcionárias dizem-nos que a comida que não presta, mas que quando fazem a prova dizem que é boa para não sofrerem represálias”, acrescenta. Perante esta situação o filho vê-se obrigado a ir ao bufete onde come coisas menos saudáveis, concorda.
Ilda Pinto, que representa um grupo de pais que organizou o protesto, acredita que vão conseguir mudanças. “Só queria que o Ministério da Educação olhasse para esta situação e fizesse alguma coisa”, diz.
“Em todas as situações reportadas nós agimos. Foram casos pontuais. Não digam que a comida é intragável”
Ao Verdadeiro Olhar, a directora do Agrupamento de Escolas Dr. Mário Fonseca, em que o estabelecimento de ensino está integrado, diz-se chocada com esta atitude de alguns pais, quando a qualidade da comida da cantina tem vindo a melhorar.
A empresa que ganhou o concurso feito pela Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares e que confecciona as refeições desde o ano passado é nova. “Quando a empresa mudou tivemos situações que nos desagradaram bastante”, reconhece Ernestina Sousa. Mas foram havendo ajustes.
“Eu almoço todas as semanas na cantina, assim como os meus colegas da direcção, e todos os dias há avaliações da comida feitas por adultos, inclusive dos pais. O grau de satisfação é ‘Bom’. A qualidade tem vindo a melhorar. Não percebo o porquê de os pais fazerem isto agora”, alega a directora da Escola.
Logo nos primeiros meses do ano lectivo, “houve um episódio com os douradinhos, que ficaram passados demais e ficaram duros, que foi lamentável. E eu disse que se voltasse a acontecer a comida não podia ser servida as crianças. A empresa pediu desculpas. Houve um problema com um peixe com muitas espinhas. Os miúdos não gostam de peixe e quando é peixe reclamam um bocadinho mais, o que os próprios pais reconhecem. Mas quando gostam até vão repetir o prato. Em todas as situações reportadas nós agimos. Foram casos pontuais. Não digam que a comida é intragável”, garante a responsável pela escola, acreditando ser mais uma questão de gosto do que de qualidade. “Estamos a falar de uma cantina que não é excelente nem muito boa, mas que é razoável. Não permitimos menos que isso”, sustenta ainda.
A insatisfação não é generalizada e a escola sempre ficou ao lado dos pais quando as situações assim o exigiram, alega Ernestina Sousa.
Sobre o pedido dos pais para que a empresa que gere a cantina seja trocada, a directora diz que a escola nada pode fazer. “Não podemos mudar a empresa porque não é da nossa responsabilidade. Não temos autonomia nem para mudar ementas”, aponta.
A escola é frequentada por 520 alunos, sendo que, em média, 130 almoçam na escola diariamente. “Há muitos que têm oportunidade de ir almoçar a casa, outros trazem almoço e têm micro-ondas. E temos crianças que não gostam de almoçar na cantina, seja a comida que for”, explica Ernestina Sousa, não associando o número de alunos que almoça na escola à qualidade da comida servida.
Conclui ainda dizendo que a cantina está aberta aos pais que podem ir provar o que é servido.