Há vários aspectos que fazem de Paços de Ferreira um dos cenários eleitorais mais interessantes para acompanhar, no âmbito regional. Um deles será, logo à partida, verificar até que ponto a almofada de mais de 60% de votos com que foi eleito o actual presidente da Câmara, Humberto Brito, do PS (que se recandidata a um terceiro mandato), consegue sobreviver não só à passagem do tempo, mas também à leitura dos cidadãos das decisões e opções tomadas no exercício da função.
Se é verdade que a candidatura de um detentor do cargo tem a vantagem de uma certa inércia que apoia a continuidade, não é menos verdade que tanto essa inércia como o resultado eleitoral anterior vão ser postos à prova com Alexandre Costa, candidato do PSD a presidente da Câmara.
O sinal de que o confronto entre estes dois políticos iria ser levado a sério pelo PSD nacional foi dado durante o anúncio dos candidatos às Câmaras Municipais feito por Rui Rio, em comunicação televisionada: no caso de Alexandre Costa, em vez de apenas a menção do nome, tal como aconteceu com os restantes da lista, Rui Rio acrescentou uma nota biográfica e de percurso político.
Outros elementos que se conjugam a favor de Alexandre Costa, tornando-o num adversário de Humberto Brito mais forte do que o anterior, são, desde logo, o de se candidatar num território onde tem sido presidente da maior Junta de Freguesia, a da sede, num concelho que tem sido tradicionalmente identificado como um bastião social-democrata. É preciso não esquecer que no mesmo ano em que Humberto Brito teve 60% dos votos, o PSD, nas eleições legislativas, teve ali o melhor resultado no distrito do Porto. Depois, gozando de boa reputação empresarial e de reconhecimento por parte dos seus concidadãos, a sua candidatura é de consenso e promotora de união partidária.
Já do lado de Humberto Brito, se pode haver também reconhecimento e popularidade, a realidade partidária – ou intrapartidária, se quisermos – é bem diversa: é bastante conhecida a sua forte divergência com a actual presidente da Comissão Política Concelhia do PS, que recentemente desautorizou de forma pública, nas redes sociais, o anúncio feito por Humberto Brito de uma candidata a uma Junta de Freguesia. Também do lado da postura e do estilo pessoal os dois políticos se distinguem, associando-se mais uma fama de cordialidade a Alexandre Costa e uma de “ferver em pouco água” a Humberto Brito.
Veremos que traços de conduta e que razões de táctica ou de estratégia política poderão vir a ter mais peso na decisão final a tomar pelos eleitores de Paços de Ferreira. Uma pugna a seguir.