Se há concelho onde as eleições autárquicas do próximo ano prometem ser particularmente interessantes, é Paços de Ferreira. Por várias razões, mas a principal é que este será o último mandato de Humberto Brito como presidente da Câmara Municipal. A sucessão está em aberto, e o processo promete ser disputado e imprevisível.
Esta semana, Humberto Brito tomou posse como presidente da Comissão Política Concelhia do Partido Socialista, numa tentativa clara de manter o controlo sobre o processo autárquico e, eventualmente, sobre a escolha do seu sucessor. Apesar de não ser oficial, é evidente que o nome preferido de Brito para o substituir é Paulo Ferreira, o seu vice-presidente. A maneira como Humberto Brito tem dado palco a Paulo Ferreira, incluindo a constante presença do vereador nas redes sociais da Câmara Municipal, com publicações quase diárias sobre temas que vão do banal ao relevante, deixa claro que há uma intenção de projetar a sua figura no espaço público. Para os mais atentos, é difícil não ver aqui os sinais de uma pré-campanha disfarçada, que, embora não oficialmente declarada, já está em movimento.
Paços de Ferreira, um concelho tradicionalmente dominado pelo PSD em eleições nacionais, tornou-se um bastião socialista desde a chegada de Humberto Brito ao poder. Este sucesso do PS deve-se, em grande parte, ao carisma de Humberto Brito. A grande questão que se coloca é se o PS conseguirá manter esse domínio sem a figura de Humberto no centro da campanha.
Para os socialistas, será um desafio gigantesco apresentar uma alternativa que tenha o mesmo impacto e aceitação junto dos eleitores. Paulo Ferreira, embora claramente o escolhido, não goza do mesmo nível de notoriedade ou carisma que o atual presidente. Para vencer, o PS precisará de um envolvimento direto de Humberto Brito na campanha, algo que, ao que tudo indica, pode não acontecer de forma tão intensa quanto seria necessário. O autarca tem dado sinais de querer afastar-se da vida pública, o que pode enfraquecer a força do PS no próximo ciclo eleitoral.
Do lado do PSD, o cenário é igualmente complexo. O partido deverá apostar na recandidatura de Alexandre Costa, vereador que, nas últimas eleições, conseguiu melhorar os resultados dos sociais-democratas. No entanto, desde então, Alexandre Costa parece não ter conseguido capitalizar essa melhoria e, ao longo dos últimos anos, não criou a onda de esperança necessária para que o eleitorado acredite numa vitória clara nas próximas eleições. Com Humberto Brito fora da corrida, abre-se uma janela de oportunidade para o PSD, mas será necessário muito mais do que o que foi feito até agora.
Alexandre Costa é o nome mais consensual dentro do PSD, mas a estratégia do partido precisa de uma transformação profunda. Para conquistar Paços de Ferreira, o PSD terá de se reinventar e afastar-se do estilo de campanha obsoleto, preso aos moldes dos anos 90. Será essencial apresentar um programa concreto, com propostas inovadoras e credíveis, que consigam capturar a atenção de um eleitorado que, por muitos anos, confiou no PS.
As próximas eleições autárquicas em Paços de Ferreira serão um verdadeiro teste à capacidade dos dois principais partidos em adaptar-se a um cenário de mudança. Sem Humberto Brito, o PS
enfrentará um desafio hercúleo para manter o poder num concelho tradicionalmente social-democrata. Do outro lado, o PSD terá de perceber que este é um momento decisivo: ou aproveita a oportunidade que tem nas mãos, unindo-se e apresentando ideias concretas, ou perderá uma oportunidade que pode não se repetir tão cedo.
Num concelho onde o poder tem mudado lentamente de mãos, o próximo ano promete ser um marco. Quer para o PS, que terá de provar que consegue sobreviver sem Humberto Brito, quer para o PSD, que tem de mostrar que está pronto para voltar a ser a força dominante de outros tempos. As cartas estão em cima da mesa e o jogo já começou.