“As nossas empresas já não são feias, cinzentas e cheias de serrim”. A garantia é de Patrícia Castro, coordenadora do Ano Municipal da Economia de Paços de Ferreira que, num ‘pitch’ a alunos do 9.º ano do concelho, procurou mostrar que o futuro das indústrias locais será mais tecnológico e automatizado e precisará dos jovens em várias áreas.
O pojecto “A Indústria na minha Terra” arrancou, esta semana, na Escola Profissional Vértice. Quer chegar a 2500 alunos, entre o 9.º e o 12.º ano, sensibilizando-os para a importância do valor do tecido empresarial de Paços de Ferreira e os desafios que enfrente, assim como para o futuro “tecnológico”.
A meta passa ainda por “valorizar a marca Capital do Móvel demonstrando o papel que tem na projecção e crescimento económico e social do município”.
Falta mão-de-obra e “sem capital humano a Capital do Móvel não tem futuro”
“ É preciso desmistificar o que é o trabalho numa fábrica de móveis”, defende o vereador e vice-presidente da Câmara, Paulo Ferreira.
“Quem viu uma fábrica de móveis há 30 anos atrás e não voltou a entrar em nenhuma, se for hoje visitar qualquer empresa vai ter uma surpresa muito agradável do ponto de vista tecnológico, do ponto de vista de organização, dos métodos de trabalho. As coisas mudaram de forma exponencial e para muito melhor. As pessoas têm qualidade no posto de trabalho, a remuneração é superior à média de outros sectores e é um emprego estável”, sustenta o autarca.
E é isto que é preciso mostrar aos jovens, aproximando-os do mundo empresarial local, desde logo de sectores como o têxtil e o mobiliário. O objectivo é que percebam que há “excelentes oportunidades de trabalho, bem remuneradas, com boas perspectivas de carreira” e que é preciso “colmatar um problema que existe no concelho e na região que é a falta de mão-de-obra, sobretudo a mais especializada”.
“Não conheço nenhuma empresa do sector do mobiliário que não tivesse, neste momento, disponibilidade para contratar mais funcionários. Algumas delas têm carências porque a produção tem aumentado muito, e a verdade é que temos um problema muito sério de mão-de-obra neste sector”, reconhece Paulo Ferreira.
Este projecto visa afastar ideias pré-concebidas e demonstrar, sobretudo junto dos jovens, que “a indústria do mobiliário é das melhores opções para trabalhar no concelho e na região”. “É preciso trazer as crianças e os jovens a este sector para que possamos continuar a crescer enquanto Capital do Móvel. Sem capital humano a Capital do Móvel não tem futuro”, sentencia o vice-presidente da autarquia.
Paulo Ferreira espera que este trabalho, junto das escolas, que pretendem manter, dê frutos daqui a alguns anos.
Fábricas mais tecnológicas vão precisar mais de “pilotos de aviões” que de marceneiros
Estas primeiras sessões na Escola Profissional Vértice – hoje acontece a última nesse estabelecimento de ensino – para 500 alunos, visaram mostrar a oferta formativa da escola, onde há cursos profissionais direccionados para as indústrias do concelho. Exemplos dos cursos de design de equipamentos e de técnicas de mobiliário e construções em madeira, entre outros. “Vamos ter dois novos cursos para as indústrias da madeira”, adiantou Sílvia Azevedo, directora, referindo, aos jovens, que a escola “garante 99% de empregabilidade”.
Mas foi a Patrícia Castro que coube tentar expandir os horizontes dos jovens presentes. Primeiro traçando um panorama do que é o concelho, onde cada sete em 10 pessoas trabalha na indústria e seis em cada 10 na indústria do mobiliário ou do têxtil.
“A indústria do mobiliário está a ficar mais tecnológica e já se produz mobiliário inteligente”, pelo que não são precisos só marceneiros, mas um vasto conjunto de profissionais mais ligado às novas tecnologias. Sobretudo o que é preciso é “talento”. E o desafio aos jovens é que se imaginem como uma “peça deste puzzle”, contribuindo para levar mais longe a Capital do Móvel, quer trabalhem no sector das madeiras e do mobiliário ou noutros.
“Somos efectivamente bons a trabalhar madeira”, disse a responsável pelo Ano Municipal da Economia aos jovens, explicando que há empresas do concelho que equipam marcas de luxo em todo o mundo, não só no mobiliário, mas também nos têxteis e através de tecnologia desenvolvida no concelho.
Abordou ainda a importância de ter uma economia de inovação, para depois frisar que “não há economia de inovação sem talento, sem pessoas extremamente competentes nas suas áreas”, pelo que é fulcral que os jovens apostem em adquirir competências técnicas.
Lembrando que há falta de profissionais técnicos nas empresas do concelho, Patrícia Castro sustentou que as empresas “já não são feias, cinzentas e cheias de serrim”, mas que estão diferentes e cada vez mais tecnológicas, passando o futuro cada vez mais por essa vertente, pela automatização, sendo que vão ser precisos “pilotos de aviões” nas fábricas, e não tanto marceneiros, aludiu, dando exemplos de profissões que vão ser necessárias, como as de engenheiro de produto, técnico de informática, designer de equipamento, vendedores e pessoas que dominem línguas, já que os negócios agora são abertos “ao mundo”.
“Esta cidade precisa de empresários, quem sabe vocês”, dando exemplos da aposta em mobiliário inteligente.
No final deixou uma mensagem: é sempre possível ajudar o concelho, independentemente da profissão escolhida. Por isso, deixou o desafio para que os jovens alunos “vejam o mundo e depois voltem e ajudem a contribuir para uma nova Capital do Móvel, com uma ambição tecnológica”.
“Tenho à vontade para mexer em madeiras”
Entre os alunos, neste caso da Escola Secundária de Paços de Ferreira, as opiniões dividem-se. Guilherme Macedo, de 14 anos, está interessado em cursos profissionais já que busca algo mais técnico e com menos teoria. “Tenho à vontade para mexer em madeiras, podia sentir-me bem numa empresa de mobiliário”, acredita. O jovem ainda não tem certezas, mas pensa que o futuro pode passar por aí, eventualmente pela programação de máquinas que trabalham a madeira.
Já Joana Sousa, de 15 anos, tem decidido que quer seguir a vertente de Humanidades e ingressar num curso de Jornalismo no futuro. “Divulgar o que é feito era uma forma de colocar o meu trabalho ao serviço da economia do concelho”, concordou, depois de ouvir o desafio de Patrícia Castro. A mãe tem uma empresa de mobiliário que herdou do avô, mas ela não quer seguir o negócio da família.
“Não é o que vou seguir, mas fiquei interessada no que ouvi”, relatava Inês Gomes, de 14 anos. Está inclinada para seguir Direito, porque se identifica com a área e nunca pensou em trabalhar numa empresa de mobiliário, reconhece, embora, através dos pais e familiares, todos os jovens acabem por estar ligados a essa indústria. “Não gosto da ideia de fazer móveis, na prática, mas gosto do design, da parte criativa por detrás da indústria”, refere a aluna.
O Ano Municipal da Economia conta com a colaboração da Moveltex, Associação Empresarial de Paços de Ferreira, escolas locais, universidades e centros de investigação, entre outros.