Verdadeiro Olhar

Pacense sonha perpetuar memória dos trabalhadores da Estação de Lacticínios

Juliana Moura gostava de “dar voz” a todos os que trabalharam na Estação de Lacticínio de Paços de Ferreira, um espaço onde centrou a sua dissertação de mestrado e que se transformou num livro, apresentado recentemente.

Era importante “perpetuar as histórias” daqueles que ali trabalharam, considerou a autora que, para já, se mostra satisfeita com o facto de esta dissertação ter sido transportada para um livro.

Em entrevista ao Verdadeiro Olhar, explicou que a ideia de transformar este trabalho académico em livro, partiu de Paulo Bettencourt, falecido o ano passado, e autor de vários edifícios em Paços de Ferreira, lamentando, por isso, que o arquitecto já não esteja presente para “assistir à concretização deste projecto”.

O trabalho foi promovido pela Patrium – Associação de Defesa e Divulgação do Património de Paços de Ferreira, em parceria com a Câmara Municipal.

Para a autora, este é um espaço com estruturas arquitectónicas “invulgares” e dado que havia “falta de informação sobre a estação”, pareceu-lhe “pertinente estudá-las”, contribuindo, assim, para a “educação patrimonial de Paços de Ferreira”.

Dar resposta a questões como “o que era aquele lugar, como funcionava”, quais as metamorfoses que sofreu ao longo dos anos ou “entender cada um dos edifícios e quem os construiu”, foram algumas das questões que Juliana Moura pretendeu dar resposta, através desta publicação.

Recorde-se que “foi o regime do Estado Novo que decidiu contruir a Estação de Lacticínios em Paços de Ferreira, nas décadas de 40 e 50”. A estrutura “trabalhou até ao ano de 2008”, sendo que depois, ocupada pelo Parque Urbano do município, como conta a Associação Patrium.

A autora demorou um ano lectivo a preparar este trabalho, mas esbarrou em muitas dificuldades, sobretudo ao nível da recolha de informação. E como exemplo, esclareceu que os terrenos, onde foi localizada a Estação, estavam divididos em “36 parcelas”, com vários proprietários, o que acabou por dificultar a pesquisa.

E, apesar de “não ter sido nada fácil” e de, por diversas vezes, ter pensado em “desistir”, Juliana Moura, talvez motivada pela memória de muitas pessoas, que ali trabalharam, conseguiu unir as pontas soltas e dispersas por diversos espaços físicos, “reunir toda a documentação” e traduzir em livro toda a história daquela estrutura.

Olhando para o trabalho final, Juliana Moura, com 35 anos, não tem dúvidas em considerar que está a contribuir, não só “para a preservação do património local”, como também permite “elevar aquela estrutura ao lugar que merece”, na história de Paços de Ferreira.

Natural da freguesia de Carvalhosa, Juliana Moura vive, há muitos anos, em Figueiró, e pretende continuar a trabalhar em prol do município. Razão pela qual, sonha, quem sabe, “continuar a estudar aquele espaço”, agora do ponto de vista humano.

“Dar voz às pessoas que trabalharam naquele lugar, que ali nasceram e até namoraram”, frisou.

Para já, e enquanto isso não acontece, a autora espera que a população local possa fazer uma “viagem ao passado”, através do seu livro.

Estação de lacticínios é hoje o pulmão da cidade

Foto: Junta de Paços de Ferreira

A Estação de Leite e Lacticínios de Paços de Ferreira servia para a criação de gado, produção de leite, cereais e forragens. Também ali existia uma oficina e posto de venda, para adquirir o ‘Queijo de Paços’, ali produzido.

Em 2005, a Câmara Municipal de Paços de Ferreira, e após assinar um protocolo com a Direcção Regional de Agricultura de Entre Douro-e-Minho, responsável por aquele espaço, instalou ali um Parque Urbano, ficando o antigo edifício aí integrado.

“São cerca de 195 mil metros quadrados”, visitados, diariamente, “por centenas de pessoas, que procuram um refúgio verde para caminhar, tomar um café, ou levar as crianças, num contacto muito directo” com a natureza, lê-se na página da internet, da Junta de Freguesia de Paços de Ferreira.

Com um “cariz ambiental, rural e de lazer, capaz de potenciar a socialização e de fomentar o aprofundamento da identidade colectiva”, o parque “representa 4% da área total da freguesia”, sendo que naqueles terrenos, delimitados pelo Rio Ferreira, estão também localizadas as Piscinas Municipais.