Até agora havia um coro de protesto pela forma desumana em que vivem aquelas 120 pessoas. Agora, esses que faziam coro são os mesmos que protestam porque a Câmara Municipal vai gastar 300 mil euros no realojamento daquela comunidade. Lá diz o povo: “preso por ter cão e preso por não ter”.
Todos sabem que em época de eleições autárquicas a memória dos “fazedores de opinião” e de alguns políticos torna-se selectiva e, às vezes, até tem falhas graves. Por isso, pode ser útil recordar os vários capítulos deste filme que já vai longo. Comecemos pelo início.
A comunidade cigana começou a instalar-se em Paredes há cerca de 30 anos. Na altura, estavam acomodados em três pequenos acampamentos espalhados pela cidade. Mais tarde, Granja da Fonseca, que à altura era o presidente da Câmara Municipal, pensou que resolvia o problema metendo-os todos num terreno atrás do bairro social “O Sonho”. Para a coisa ficar mais composta, mandou construir um muro em chapa a toda a volta do acampamento cigano. Quem passava na rua via apenas um muro verde com dois metros de altura. Na época, as pessoas da cidade, em tom irónico, chamavam-lhe “condomínio fechado Granja da Fonseca”.
Desde então, os ciganos passaram a viver amontoados em barracas, mais ou menos improvisadas com tábuas de madeira a fazer de paredes e chapas a servirem de telhas. O crescimento abrupto, nos últimos anos, da população ali instalada obrigou algumas famílias a uma engenharia cada vez mais arrojada e são visíveis barracas com dois andares. No entanto, as condições de segurança e de higiene continuam como quando Granja da Fonseca os meteu lá: invisíveis.
São precárias as condições de sobrevivência das mais de 120 pessoas que moram no acampamento localizado em plena cidade de Paredes. Desde logo, caminhos de terra batida entre dezenas de barracos de madeira e chapa. Casas de banho não existem, até porque a água vem, ao balde, da fonte pública situada à entrada do acampamento ou de uma mina que existe no local e que é desinfectada, regularmente, pelos próprios ciganos com anti-séptico. Já a luz existe, mas retirada de forma ilegal dos postos da EDP mais próximos. Foi esta a forma que encontraram para poderem ligar os electrodomésticos.
Em 2008, a Câmara Municipal de Paredes achou uma solução para a comunidade cigana. A solução passava por encontrar um local digno para instalar aquela comunidade. O projecto foi elogiado pelo Presidente da República e pelo Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas. No entanto, acabou por não sair do papel, aparentemente, porque todos querem resolver o problema dos ciganos, desde que não os tenham à porta da sua casa. A solução apresentada por Celso Ferreira passava pela construção de uma pequena “aldeia cigana” na freguesia da Madalena, a poucos quilómetros do centro da cidade, o que poderia ter sido, senão uma solução, pelo menos uma melhoria das condições de vida e de segurança dos habitantes relativamente ao actual acampamento. Na altura, o Partido Socialista e o CDS-PP, que juntamente com um vereador do PSD tinham a maioria no executivo municipal, opuseram-se fortemente e acabaram por inviabilizar o projecto.
A solução agora apresentada pela Câmara Municipal de Paredes é o cumprimento de um dever. O dever de proteger aquela comunidade de discriminação e de assegurar-lhes um leque de Direitos Humanos.
A discriminação de que os ciganos têm sido vítimas é perturbante. A prova disso mesmo é que os que protestam contra este investimento municipal a favor de cidadãos nacionais são os mesmos que batem palmas quando um qualquer município à volta acolhe refugiados sírios.
SOBE E DESCE
Sobe – Nuno Moura
Tem 34 anos, é de Penafiel e vive em Portland, nos Estados Unidos da América, desde 2014. O penafidelense que lidera o marketing digital da Nike já estava na lista dos 35 melhores profissionais do mundo, escolhidos entre mais de 700 candidatos. Ontem, recebeu o prémio “Leaders Under 40” na categoria “Digital & Technology”.
Desce – Insufláveis em Freamunde