Portugal “ficou bem na fotografia”, segundo uma expressão da gíria futebolística, a qual aliás se usa mais na negativa, nomeadamente quando um guarda-redes sofre um frango. Pela primeira vez uns Jogos Olímpicos tiveram o Português como primeira língua oficial, razão bastante para que os Portugueses se sentissem contentes, senão mesmo orgulhosos. Certamente que esperávamos melhores resultados dos nossos atletas, pois 77 países ficaram à nossa frente no que toca a medalhas. Nove fizeram-nos companhia com uma única medalha de bronze, como a Áustria e a Finlândia, esta com um rico passado de medalhas olímpicas. Já agora, refira-se que 121 países não ganharam qualquer medalha.
Estes jogos tiveram atletas com desempenhos notáveis, como os do Michael Phelps ou do Hussein Bolt. Deixaria esses e outros para os especialistas na matéria e apontaria uns quantos feitos que me deram no goto como amador-observador. Começaria pela prova rainha das Olimpíadas, a maratona, de tão gratas recordações para Portugal, com o Carlos Lopes e a Rosa Mota. Desta vez, os nossos maratonistas foram mais lentos do que se esperava, mas terem chegado à meta terá sido um feito heróico para o Rui Pedro Silva e o Ricardo Ribas. Sentiram-se muito mal e sabe-se lá se não terão pensado em desistir ao longo dos tremendos 42,195 quilómetros de prova com mais de duas horas. Na prova feminina, Dulce Félix terminou na 16ª posição, uma melhoria de cinco lugares relativamente aos Jogos de 2012. Sara Moreira e Jéssica Augusto, que vinham de bons resultados europeus, é que se viram forçadas a desistir, certamente com muita mágoa.
Quem teve comportamento meritório foi Fernando Pimenta, que na canoagem esteve perto das medalhas. Bem classificada ficou também Ana Cabecinha com o seu 6º lugar nos 20 km de marcha. Ou o honroso 9º lugar de Luciana Diniz nos saltos de obstáculos equestres. A nossa seleção de futebol, que ficou em primeiro lugar do seu grupo, também fez boa figura. Apesar de não ter podido contar com vários jogadores que os clubes não disponibilizaram, conseguiram vencer a Argentina mas não chegaram para a Alemanha. Finalmente, e no que respeita a Portugal, não posso naturalmente deixar de referir a judoca Telma Monteiro, a nossa única medalhada e justamente escolhida como porta-bandeira na cerimónia de encerramento do Rio 2016. Numa entrevista, disse que o bronze lhe soube a ouro, pelas dificuldades que teve de superar, como a de uma cirurgia seis meses antes das olimpíadas.
Os “nuestros hermanos” é que se saíram bastante bem, num 14º lugar com 17 medalhas. Destas, sete foram de ouro e salientaria a do salto em altura: Ruth Beitia nunca tinha conquistado uma medalha e esta foi a primeira também para o atletismo feminino espanhol. Aos 37 anos, é obra!
O gesto mais bonito dos Jogos foi certamente o protagonizado por duas atletas que corriam uma eliminatória dos 5.000 metros. A neozelandesa Nikki Hamblin tropeçou e caiu. A americana Abbey D’Agostino, que vinha logo atrás, parou e animou a adversária que tinha ficado desolada com a queda, a que não desistisse. Ajudou-a a levantar-se e retomaram a corrida, mas logo a interromperam, pois a Abbey ao chocar com a adversária também ficou com ferimentos de certa gravidade. Ainda fez sinal à neozelandesa para que continuasse e foi então a vez de a Nikki soerguer a americana e lá conseguiram correr os 2.000 metros que faltavam para cortar a meta. Em último lugar, claro, mas a organização concedeu-lhes o apuramento para a final. Mais ainda, foi-lhes atribuída uma muito rara medalha de ouro especial que premeia atos excecionais de desportivismo. Segundo o interessante portal religionenlibertad, Abbey é uma católica fervorosa: disse numa entrevista que sentia que Deus lhe reservaria nestes Jogos algo mais que uma simples participação, e que tal foi precisamente a ajuda que prestou à Nikki.
Atuação fulgurante foi a da “pequena” ginasta americana Simone Biles com 1,45 metros de altura. Aos 19 anos, vinhá aureolada com numerosos triunfos internacionais e no Rio conquistou cinco medalhas, quatro delas de ouro. O portal acima referido revela que a atleta vai à missa e reza o terço.
Diz-se no Brasil que Deus é brasileiro. E, avaliando o que de muito bom aconteceu no Rio 2016, parecem ter razão. Não houve ataques terroristas que muitos receavam e o Brasil até não ficou mal de todo no 13º lugar, com as suas 19 medalhas, sendo sete de ouro. Ouro que deve ter sido especialmente saboroso no incrível salto de 6,03 metros do Thiago Braz. Este moço de 22 anos esteve à compita com o francês campeão mundial Renaud Lavillenie (6,18 m). Quando tinha ultrapassado os 5,98 m e garantido a já surpreendente medalha de prata, atirou-se aos tais 6,03 m que superou, ao contrário do francês que teve de se contentar com a prata. E o Thiago, que nem sequer estava cotado como um dos favoritos, até bateu o recorde olímpico!
Mas ainda mais saboroso para o Brasil foi certamente o ouro no futebol ,que nunca tinha ganho em olimpíadas. E logo contra a Alemanha que o tinha arrasado no mundial de 2014! Lá brilhou o Neymar com um golão de livre nos penaltis de desempate, o último que ditou a vitória.
Se Deus é brasileiro, também é alemão, e chinês… e por aí adiante, pois que todos os homens são seus filhos. Português também é, claro! Basta ver como o Porto eliminou um clube italiano para a Liga dos Campeões com uma improvável vitória por 3-0. E se alguém achar que isto está aqui “metido a martelo”, lembre-se que o tal clube se chama Associazione Sportiva Roma e o estádio, o… Olímpico!