Num ambiente de silêncio e oração pessoal, o Papa e a Cúria Romana acompanharam os últimos dias de Jesus, seguindo, passo a passo o Evangelho de S. Mateus. O Pe. Giulio Michelini pregava as meditações, de manhã e de tarde, para ajudar cada um a fazer a sua própria oração silenciosa, a enfrentar-se «tu-a-tu» com Nosso Senhor. Deste diálogo, surgem naturalmente propósitos de emenda, desejos de ser mais generosos, maior realismo acerca das nossas fraquezas e da importância de confiar na ajuda de Deus.
Muitos cristãos fazem anualmente um retiro espiritual, especialmente nestes dias da Quaresma. Os Papas anteriores também escolhiam esta altura do ano para fazer os seus retiros.
O que se pode esperar de um retiro? Não quero estragar a surpresa de quem nunca experimentou, mas deixo algumas sugestões.
Em primeiro lugar, convém levar um bloco de notas. Não para apontar frases eloquentes, mas para tomar nota do que o Espírito Santo nos quiser dizer. Às vezes, através de um pensamento inesperado, de uma pergunta interior: «Queres fazer isto?…». O bloco também é útil para nos recordarmos das nossas próprias decisões. Se dissermos a Nosso Senhor que vamos fazer uma coisa, convém não nos esquecermos disso na primeira curva da vida.
Em segundo lugar, num retiro ficamos a conhecer melhor Quem é Deus. Talvez seja essa a maior fonte de surpresas. Também temos oportunidade de olhar para nós mesmos com mais objectividade, sobretudo se trocarmos umas impressões com o pregador, mas essa parte é secundária. Um retiro não é para ajustar contas com o passado, mas para dar um salto de qualidade na relação com Deus. A conversa com o pregador é para falar dessa jornada nova que queremos começar.
Um dos momentos-chave do retiro é a Confissão. Quem nunca fez um retiro pode pensar que a Confissão seja o duro momento de reconhecer as próprias culpas, mas a Confissão é principalmente o encontro com a misericórdia de Deus. É difícil descrever, porque a misericórdia divina é mais infinita que a extensão dos oceanos, mas é absolutamente real. Na Confissão, muitas pessoas tiveram a experiência física da alegria de Deus, que declarou que lhe dá «mais alegria um pecador que se confessa que 100 justos que não precisam de fazer penitência». Por isso é que o Papa Paulo VI, na Exortação apostólica «Gaudete in Domino» (alegrai-vos no Senhor), diz que a Confissão é o Sacramento da paz e da alegria. Muitos documentos da Igreja também chamam à Confissão «Sacramento da Alegria».
Num retiro, a adoração eucarística e a Missa preparam-nos para a Confissão. E a Confissão permite-nos Comungar.
O pregador do Papa Francisco dizia-lhe, durante este retiro: «As palavras do Evangelho de S. Mateus ressaltam esta dimensão da Ressurreição, o perdão. Jesus Ressuscitado quer encontrar os 11 discípulos e chama-lhes ‘irmãos’, perdoa-lhes o terem-No abandonado (…). Este é verdadeiramente o modo de actuar de Deus, a sua Palavra é capaz de iluminar os nossos limites e transformá-los em oportunidade».
No final do retiro, o Papa agradeceu ao pregador: «Todos nós somos pecadores, mas, ao mesmo tempo, temos a necessidade de seguir Jesus de perto, sem perder a esperança na promessa e também sem perder o sentido do humor. Obrigado, Padre!».