Habitualmente, quando se fala de sondagens eleitorais, projectam-se os resultados que seriam obtidos pelos partidos se as eleições fossem realizadas nos dias em que as pesquisas foram feitas. Mas com não tivemos eleições nesses dias, podemos desconfiar tanto mais da validade dos resultados anunciados quantos mais dias e acontecimentos passarem. Basta recordar que os últimos quatro actos eleitorais revelaram números reais bem diferentes dos das sondagens.
Vem isto a propósito de duas sondagens reveladas esta semana e com três dias de distância.A primeira, do JN, DN e TSF, atribui ao PS 27,1% das intenções de voto e ao PSD uns 25,1%. A segunda, da TVI, dá um resultado inverso, com o PSD 3,7% à frente do PS. Sobre a primeira, o PSD nada disse; sobre a segunda, duas horas depois de ser conhecida, Luís Montenegro aproveitou a primeira aragem que lhe é favorável para ameaçar António Costa: ou ele dá provas de que tem condições para governar ou o PSD vai “usar mecanismos para atalhar caminho”, ou seja, irá ao Presidente da República reclamar a interrupção da legislatura. Bastou uma sondagem para o PSD mudar o discurso. Vamos por partes.
O Governo em funções foi eleito há menos de um ano e com maioria absoluta. Por isso, as condições que o líder do PSD pede a Costa já existem: tem a legitimidade que lhe foi dada nas eleições. Para além disso, as eleições são de quatro em quatro anos, e não quando as intenções de voto se revelam mais favoráveis ao partido da oposição.
É normal que, com todo o desgaste provocado por escândalos e demissões, uns atrás de outros, o PS perca intenções de voto. O que não é normal é que essa perda não seja espelhada no crescimento correspondente das intenções de voto maior partido da oposição. Veja-se o exemplo de Inglaterra: entre Julho e Outubro do ano passado, o Partido Conservador foi obrigado a trocar de líder e, consequentemente, de primeiro-ministro três vezes, um deles tendo durado apenas 40 dias. Não houve eleições e o principal partido da oposição reforçou a sua acção política, preparando-se para as próximas eleições. Ora, a oposição que o PSD está a fazer é a mesma que poderia ser feita pelo Chega ou pelo Bloco de Esquerda.
Parece-me que neste momento fazem faltam duas coisas: que o PS passe a governar e estanque estes “casos e casinhos” que abalam a credibilidade da política; que o PSD passe a fazer uma oposição forte, com medidas concretas. Quanto mais forte for a oposição, melhores são os Governos.
As sondagens não servem para marcar eleições, mas servem para nos dar indicações. E estas duas indicam três coisas: a primeira é que as pessoas estão descontentes com a governação; a segunda, que ainda não acreditam no PSD. O terceiro indicador é o mais grave de todos. Ao longo de quase 50 anos de democracia, os dois partidos do arco do poder, quando somados, mantiveram-se sempre acima dos 70% dos votos. Hoje, ambas as sondagens revelam que, juntos, ficaram pouco acima dos 50%. Foi assim que aconteceu nos países europeus onde os partidos radicais chegaram ao poder. Um dia destes pode ser tarde demais para o evitar em Portugal.