Dizem-nos que, apesar da pandemia, o país é um sucesso. Damos loas aos profissionais de saúde – que bem as merecem todos – mas será que fazemos tudo para os ajudar?
Não os e não nos ajudamos quando vamos à feira de Famalicão, nos juntamos na estação de Paredes e nunca andamos de comboio, nem, tão pouco, quando vamos passear o cão.
O defeito não será do cão, muito menos se nos lembrássemos que a crise é sanitária e, assim sendo, temos tantas razões para ficar em casa como para não deixar o cocó do cão onde queremos voltar a dar os nossos novos pequenos passos.
No combate à pandemia enchemo-nos de orgulho como se fossemos os únicos.
E se não for tanto assim?
Em casos confirmados temos quase 1.700 por cada milhão de habitantes.
Não estamos, neste parâmetro, muito longe da Itália, EUA ou França (se comparado ao mesmo dia 38 pós-primeiro caso em cada país). Só a Espanha é dramaticamente pior no número de infetados. Quase todos os outros países europeus e a maioria dos quase 200 países do mundo têm menos infetados confirmados.
Servirá de desculpa e a nosso favor o elevado número de testes já efetuados, mas como não sabemos a percentagem certa, de Portugal e dos outros países, o dado vale o que vale.
Quanto à letalidade (que isto agora pia mais fino, não se chama – e bem- mortalidade) temos cerca de 50 mortos por cada 1.000.000 de habitantes. Neste dado, o dos países com mais letalidade por Covid-19 é onde estamos melhor. A Espanha e mais 6 outros países europeus estão muito, mas muito pior do que nós, com percentagens com 50% a 250% de mais mortes por milhão de habitantes.
No entanto, estamos, por exemplo, muito longe do sucesso da República Checa.
Quando é a matemática a mandar as outras ciências, como a epidemiologia, batem a bola baixo. A matemática apresenta sempre dados comparados de casos por habitantes e estes, por sua vez, comparam sempre a desigualdade do tamanho da população dos diferentes países.
É fria a matemática, mas, curiosamente, é como compreendemos melhor e com mais rigor a diferença entre o que nos dizem e aquilo que entendemos.
Se estamos mal? Não, nem por isso!
E até, não sei se por medo ou por convicção, soubemos, quase todos, confinar-nos. E o governo ajudou. Há que dizê-lo.
Mas nunca baixemos as defesas ou aliviemos comportamentos. Os números epidemiológicos corretamente normalizados levam à população um sentimento de falsa segurança. Não podemos cair nessa.
Cá pelo burgo, dá-se a novidade, como se fosse antecipação, que o Lar da Misericórdia de Paredes está a fazer testes a 60 dos seus utentes. Dito assim, somos levados a pensar que ainda não há ali infetados. Se for verdade, ainda bem.
E se não for tanto assim?
É que há gente que manda e, porque só manda, julga que não há variáveis ao seu pensamento único. Quando o segredo faz lei, ao contrário do que eles pensam, o pânico infeta mais a ignorância do que salva os doentes.
Oxalá esteja enganado.