Verdadeiro Olhar

Monjas sem dinheiro para obras em mosteiro com problemas de construção

Em Paços de Ferreira há um mosteiro edificado há apenas 11 anos, mas que já apresenta graves problemas de construção. A obra, que custou três milhões de euros, foi feita por uma pequena empresa do Marco de Canaveses a pedido das carmelitas descalças da Ordem da Virgem Maria do Monte Carmelo que, garantem, não vão recorrer a Tribunal para que as deficiências construtivas sejam resolvidas. No entanto, sem dinheiro para avançar com as necessárias intervenções, as 18 monjas que vivem em Carvalhosa temem pela sua segurança e saúde. E vão tentando, através da venda dos produtos que confeccionam, angariar verbas que lhes permitam reparar aquilo que é mais premente. Mas hóstias, artesanato ou bolos e licores são vendidos em pequenas quantidades, o que não permite amealhar as verbas fundamentais para, por exemplo, fazer uma vistoria aos alicerces do mosteiro.

Mosteiro sempre em obras

“Não vamos pedir nada a ninguém, pois a nossa ambição humana é ganhar para o pão do dia-a-dia. Só queríamos que nos comprassem mais dos nossos produtos para pouparmos uma verba que nos permitisse fazer uma visita técnica aos alicerces do mosteiro. Estamos preocupadas com o seu estado e com o que possa acontecer”, refere a prioresa Vera Maria de Jesus.

A principal responsável da comunidade monástica radicada em Paços de Ferreira já lamenta o dia em que trocaram o mosteiro que habitavam na cidade do Porto pela Quinta de Bande, situada na pacata freguesia de Carvalhosa. “Mudámos devido à falta de espaço e do barulho que existia na cidade”, recorda. No dia da mudança, a 16 de julho de 2001, os vários hectares de pinhal doados pela Ordem Beneditina Portuguesa eram um sonho que ganhou forma três anos depois com a conclusão de um mosteiro que tem três mil quadrados de área de construção e que inclui 30 celas monásticas, sala capitular, refeitório, biblioteca, sala de formação, locutório e cozinha. Existe ainda uma igreja e vários ateliers de trabalho. A obra significou, já com equipamentos incluídos, um investimento de três milhões de euros, angariados através do Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central (500 mil euros), da Diocese do Porto (500 mil euros) e da venda do edifício que ocupavam no Porto (1,2 milhões de euros). O restante dinheiro foi conseguido com donativos, peditórios e com um empréstimo bancário de outros 500 mil euros. Apesar do elevado valor da obra, o mosteiro começou a apresentar graves problemas de construção um ano após a sua conclusão. “Houve um assentamento do solo nos claustros, apareceram grutas de água debaixo da cave e o rego foreiro rebentou. Verificámos que o aterro que foi feito não teve a qualidade indispensável. Usaram entulho em vez de pedra”, revela a prioresa.

Mais tarde, apareceram infiltrações nas paredes, os caixilhos das janelas ficaram podres devido à humidade e o chão começou a ceder em diferentes locais. “Contactámos a empresa que fez a obra, mas esta não assumiu a responsabilidade. Não reclamos os nossos direitos em tribunal porque não queremos problemas com ninguém”, acrescentou Vera Maria de Jesus.

As monjas preferiram avançar, a expensas próprias, com algumas das obras mais urgentes. Uma das quais, orçamentada “em milhares de euros”, desviou todas as águas pluviais dos claustros. “Esta intervenção tentou evitar que o chão continuasse a abater”, explica a religiosa.

Pormenores

– O Mosteiro de Bande está classificado como Monumento de Interesse Público. As missas celebradas na igreja são públicas.

– Uma das principais fontes de financiamento das monjas é a venda de hóstias. “Mas as livrarias católicas substituíram-nos por concorrência estrangeira. Perdemos dois terços da produção”, lamenta a prioresa.

– As monjas são especialistas em restauro de paramentaria antiga, iluminura, caligrafia antiga e iconografia bizantina.

– Elementos da comunidade marcam presença em vários eventos para vender artesanato religioso e confeitaria conventual. Um deles é Mercado de Verão, que tem lugar em frente ao edifício da Câmara Municipal de Paços de Ferreira.

– As monjas necessitam de cinco mil euros mensais para suportar a despesa com o mosteiro. Só o valor da factura de eletricidade varia entre os 900 e os 1200 euros. “E para poupar temos o mosteiro quase às escuras”, garante a prioresa.