O pequeno Guilherme tem três anos (faz quatro em Março próximo) e é de Paredes. Os dias deviam ser passados em brincadeiras com o irmão e os amigos, mas os seus primeiros anos de vida têm sido de luta contra uma leucemia linfoblástica aguda (de células tipo T).
Depois de quatro meses em que a vida quase voltou ao normal, o menino teve uma recaída e teve que voltar aos tratamentos. Vai agora precisar de um transplante de medula. Os pais e os irmãos já fizeram os testes e aguardam os resultados com a esperança de que haja compatibilidade e possam salvar o menino. Ao mesmo tempo lançaram o apelo para que mais pessoas se inscrevam como dadores de medula.
Teve recaída. Pais ainda não sabem se são compatíveis
Até Julho de 2016 o pequeno Guilherme era um menino como os outros e com uma saúde que parecia ser de ferro. “Nunca tinha estado doente além de ligeiras febres e constipações”, diz o pai.
Tinha apenas dois anos quando começaram a surgir alguns sintomas que, no início, não deram logo a perceber a gravidade do que se passaria, conta Mário Monteiro. “Começou com febres, depois começou a fazer ruídos a respirar e pensou-se que era apenas uma constipação. Depois a barriga começou a inchar e um electrocardiograma mostrou que tinha o coração dilatado. Também tinha nódoas negras que apareciam do nada”, conta. Foi o surgimento de mais duas que os levou directos ao Hospital de São João, no Porto, onde o menino já tinha um exame agendado.
Foi então que surgiu o diagnóstico definitivo: leucemia linfoblástica aguda (de células tipo T) “em estado crítico”, um cancro do sangue que se caracteriza por um aumento do número de glóbulos brancos. Só o nome deixou os pais em pânico.
“Lembro-me de perguntar ao médico ‘como é possível que a primeira doença que lhe aparece seja logo cancro?’”, recorda.
Seguiram-se nove ciclos de quimioterapia numa altura em que não era necessário transplante. As análises passaram a negativas e o Guilherme no chamado “ano de manutenção” em Setembro do ano passado, explica o pai.
Mas agora teve uma recaída. Vai ter que realizar quatro novos ciclos de quimioterapia, ainda mais agressiva, e “tem que fazer um transplante”, adianta Mário Monteiro.
Tanto ele como a mãe, Marisa Mota, e o irmão de dois anos, Salvador, já fizeram os testes de compatibilidade, mas ainda aguardam os resultados. “Estamos com muita esperança que um de nós seja compatível”, confessa o paredense. “Acreditamos que o irmão vai fazer jus ao nome e ser um ‘Salvador’”, espera.
Na eventualidade de isso não acontecer, a família lançou já vários apelos junto de amigos, familiares e nas redes sociais, para que mais pessoas se inscrevam como dadores de medula. “Estamos a antecipar-nos. Assim as pessoas vão-se inscrevendo e não é só pelo Gui, é por todos os Gui’s”, explica.
“Já se apercebe que está doente, já disse que não quer o cateter que vai precisar de ter no peito nem quer rapar o cabelo”
A doença do pequeno Guilherme fez a vida desta família dar uma cambalhota. O último ano e meio foi difícil, não esconde Mário Monteiro. Viram-se privados de muitas coisas, sobretudo o menino, que passou a dividir os dias entre os internamentos e tratamentos no hospital e a casa, mas muitas vezes em situação de isolamento, devido às baixas defesas do seu organismo.
“Temos que ter muito apoio familiar. Os avós têm sido um grande suporte. Ainda agora o Guilherme voltou a casa e o Salvador teve que sair”, refere o pai.
O Salvador tinha apenas três meses quando a doença do irmão foi descoberta. Sem ninguém com quem o deixar cá, já que o próprio avô se debatia também com cancro, o menino ficou três meses em Inglaterra ao cuidado dos tios enquanto os pais do Guilherme o acompanhavam nos tratamentos. “Esteve agora quatro meses connosco em casa quando o Gui estava bem, mas já teve que voltar a sair e está com os avós. Vem cá só visitar o irmão. Dá a ideia que estamos a separar o irmão, mas só estamos a proteger o mais frágil. Sem saber o Salvador abdica de estar com os pais para ajudar o irmão”, salienta Mário.
Mas não foi só isso que mudou. A mãe teve que desistir da vida profissional para acompanhar o Guilherme e, agora que ia voltar a trabalhar viu-se mais uma vez obrigada a adiar essa hipótese. Mário Monteiro, vigilante aeroportuário, é o único a trabalhar e não esconde que isso já trouxe algumas dificuldades financeiras. “Tivemos muitas ajudas”, salienta. Trabalha por turnos e, muitas vezes, depois de uma noitada vai directo para o hospital sem descansar.
“Foi um volte-face terrível na nossa vida. Não era nada disto que imaginávamos”, lamenta.
Também o Guilherme vê agora as coisas de forma diferente. “Durante o primeiro tratamento não tinha a percepção da doença. Agora já se apercebe que está doente, já disse que não quer o cateter que vai precisar de ter no peito nem quer rapar o cabelo. Já sabe que com o cateter vêm as restrições de não poder correr ou saltar. Foi sempre muito cooperante desde que apareceu a doença, mas agora está cansado do IPO”, confessa Mário. “Há alturas em que está bem-disposto, mas os tratamentos deixam-no irritado e debilitado”, afirma.
Cruz Vermelha de Vilela vai acolher uma recolha de sangue para encontrar dadores
Sem ligação directa a este caso, vai decorrer, no próximo dia 1 de Fevereiro, entre as 15h00 e as 19h30, nas instalações da Cruz Vermelha de Vilela, uma recolha de sangue para novos dadores de medula óssea, realizada pelo Instituto Português do Sangue e da Transplantação.
Quem quiser participar tem que inscrever-se antecipadamente para a equipa vir preparada com número suficiente de kits para recolha.
De salientar que, em qualquer dos casos, os inscritos passam a constar de uma base de dados como potenciais dadores, não só para o Guilherme mas para ajudar qualquer pessoa que precise de um transplante de medula.
Para ser dador é preciso ter entre os 18 e 45 anos, mais de 50 quilogramas, mais de 1,5 metros de altura e ser saudável.
Os pais aguardam autorização para realizar uma recolha na cidade de Paredes.
“O importante é se inscreva o máximo de pessoas possível. Já tínhamos assistido a muitos apelos destes, mas só quando se vive uma situação destas é que se percebe a importância de ser dador”, sustenta Mário Monteiro, que já faz parte do banco de dadores.
Para acompanhar o caso do Guilherme pode visitar a página Super Herói Gui, recentemente criada.