Os sons são diferentes, a grafia também. Mas nem os caracteres vindos do ocidente assustam os cerca de 40 jovens de Lousada que, este ano lectivo, se juntaram às aulas de mandarim para conhecer a língua ou regressaram para aprender mais depois de terem feito a iniciação no ano passado.
Todos os sábados de manhã prescindem de algumas horas do seu tempo livre para aprender mais sobre aquela que consideram ser “a língua do futuro” e dizem que não é difícil.
A autarquia acredita que a aprendizagem desta língua, que é gratuita, dá um currículo diferenciador aos alunos do concelho.
“Prevemos que este ciclo de aprendizagem gratuita em Lousada tenha quatro anos”
As aulas nasceram, no ano passado, pela mão do município de Lousada. Porquê? “Vivemos num mundo globalizado, o mandarim é a língua materna mais falada no planeta, a China tem uma cultura milenar que tem influenciado fortemente as culturas ocidentais, tem a segunda maior economia mundo, a seguir aos EUA, e daqui a uma década poderá ser a primeira”, justifica o vereador da Educação.
Para António Augusto Silva as vantagens são muitas. “Além de terem acesso de uma forma mais directa à cultura chinesa, a aprendizagem da língua, pode transformar-se, para alguns deles, num item curricular diferenciador, que pode vir a ser uma mais-valia no mundo do trabalho”, refere.
No ano lectivo 2017/2018, houve duas turmas de iniciação com 18 alunos cada. Dos 28 que terminaram esse nível 20 inscreveram-se para frequentar o nível dois, enquanto 24 alunos quiseram frequentar o nível um, explica o vereador.
No primeiro ano, o custo foi assumido integralmente pelo município, e agora o projecto está integrado no Plano Integrado e Inovador de Combate ao Insucesso Escolar da Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa, sendo suportando em 15% pelo município e o restante por fundos comunitários.
O objectivo, diz António Augusto Silva, é continuar. “Prevemos que este ciclo de aprendizagem gratuita em Lousada tenha quatro anos, tendo os alunos acesso no 2.º ano ao YCT1 e no 4.º ano ao HSKII ou YCT3, testes oficiais de proficiência linguística em língua chinesa, tutelados pelo Hanban (organismo chinês equivalente ao nosso Instituto Camões)”, acredita. Depois da obtenção destes níveis os alunos poderão continuar os seus estudos no Instituto Confúcio da Universidade do Minho em Braga ou no Porto, acrescenta ainda.
“Inscrevi-me porque é uma das línguas mais faladas do mundo e é interessante saber sempre mais”
Também os alunos acreditam na mais-valia desta aprendizagem. Íris Santos, de 14 anos, uma das alunas que frequenta estas aulas pelo segundo ano, diz que não é assim tão difícil aprender. “Inscrevi-me porque é uma das línguas mais faladas do mundo e é interessante saber sempre mais. É uma língua muito diferente e aprender os caracteres não foi fácil, mas gosto. E não sei se no futuro não vou precisar”, salienta, dizendo que além da língua e dos sons também aprenderam mais sobre a cultura chinesa. Estas primeiras aulas são de revisão da matéria dada, não esconde. E ir à China para aprender mais está nos planos. “Já pedi aos pais para ir à China e recebi um ‘pode ser que sim’”, diz a sorrir a aluna da Escola Secundária de Lousada.
João Machado, de 12 anos, também se juntou este ano às aulas. “É engraçado e o mandarim é a língua do futuro. Acho que não vai ser difícil aprender e gostava de fazer o meu nome em mandarim”, diz o jovem aluno da EB 2/3 da Lixa.
No primeiro ano, os alunos aprendem as regras de escrita, a apresentar-se e despedir-se, a pedir desculpa, o nome, a nacionalidade, os dias e números e as sonoridades do chinês, explica a professora, Andrea Portelinha. No segundo nível já se preparam para um exame de validação de conhecimentos. “Não é difícil de ensinar nem de aprender. A dificuldade está na falta de contacto com a língua e no facto de as aulas serem só uma vez por semana. Como não é uma disciplina curricular depende da motivação de cada aluno, mas eles gostam e estão interessados”, garante.