Pode parecer que o nome Pinto e Kukken nada têm em comum, mas, além de ser a tradução nórdica do apelido de família, tem, por detrás, um legado e a história de vida de um homem de Lousada que foi distribuidor e comerciante de café e conseguiu criar a sua própria marca, Café Pintos. Agora, a Kukken Caffè tem a chancela dos netos, Raquel e André que, deste modo, quiseram continuar homenagear o ‘Sr José do Tractor’, como era conhecido em Lousada, contou a empresária, ao Verdadeiro Olhar.
Empreendedor e apaixonado por esta bebida, José Pinto não teve muito tempo para usufruir da sua criação, porque a falta de saúde afastou-o do trabalho. Faleceu há dois anos, só que os netos nunca conseguiram esquecer “o cheiro a café” que emanava quando estavam com o avô, assim como todos os ensinamentos que este lhes transmitiu.
E foi a pandemia e consequente clausura a que foram (fomos) obrigados que acabaram por empurrar os irmãos Raquel e André para esta aventura da criação da marca de café Kukken que, apesar de estar apenas há um mês no mercado, já pode ser considerada um sucesso. Está representada em mais de 50 lojas de todo o país. em cidades como Lousada, como não podia deixar de ser, Aveiro, Beja, Évora, Braga, Faro, Leiria, Lisboa, Porto Santarém, Setúbal e Viana do Castelo.
“Era a homenagem melhor que poderíamos prestar ao nosso avô, dar continuidade ao seu legado”, mas elevando o produto a um patamar superior e diferenciado, tendo como base a sustentabilidade ambiental. As capsulas de café são “produzidas a partir de materiais compostáveis, à base de plantas, sem recorrer à utilização de alumínio e plástico”.
Se acrescentarmos a “qualidade seleccionada”, a Kukken Caffè “é única no mundo”, destacou a empresária. E na base desta sustentabilidade, Raquel lembra que a produção de qualquer produto não pode ter associado o comodismo, porque há que pensar nos impactos ambientais que os materiais usados podem ter no planeta.
No caso do café, destacou que “100 mil toneladas de capsulas produzidas não são recicladas”. E há que ter em conta que em plástico tem um tempo de vida de “200 anos” e em alumínio de “500”. Números assustadores que levaram os irmãos a estudar e investigar, conseguindo criar um invólucro com “zero lixo, zero plástico e zero alumínio”, porque é 100% bio-degradável e, portanto, bebe-se no singular.
Raquel tem 39 anos, vive em Lousada, e é formada em Ciências da Comunicação. Trabalhou como consultora e fez planeamento industrial, entre outras actividades, mas deixou esses trabalhos para se dedicar de corpo e alma à Krukken. Já o irmão André, 35 anos, vive em Lisboa e é piloto de aviação, uma profissão que divide com este negócio.
Audácia e espírito empreendedor não faltaram a estes dois empresários, características que, de certeza, herdaram do avô, porque antes de chegarem ao produto final fizeram uma viagem até à América do Sul. Para além dos contactos e deslocações naquele continente, ainda conseguiram fazer uma formação intensiva na área da torrefação e degustação de café, recordou Raquel.
Chegados cá, foi a vez de procurar fornecedores e parceiros que cumprissem com os padrões que exigiam, até alcançarem a excelência do resultado final. Apesar da “derrapagem”, porque estes processos são sempre “morosos”, o café torrado e embalado em Portugal, em cápsulas ou em grão, já está no mercado.
Para já, têm três ‘blends’ de café em cápsulas, Mestizo, Honduras e Peru, e dois de café em grão, Príncipe e Loreto. O preço do café em cápsulas está nos 39 cêntimos e o café em grão está nos 20 euros o quilo. As encomendas podem ser feitas também através do site da empresa, com o endereço kukkencaffe.com
Num mundo que precisa urgentemente de projetos sustentáveis, Raquel acredita que esta bebida permite “saborear os melhores lotes de café premium”, aperfeiçoados pelo sabedoria desta família, ao mesmo tempo que convida as pessoas a optarem por uma marca “ecologicamente responsável”.
O avô de Raquel e André já partiu, mas, se estivesse cá, “iria ficar muito orgulhoso” pelo percurso destes dois netos que teimaram em seguir o seu caminho e dar continuidade ao seu legado. E como era um homem audaz e cheio de iniciativa, “até iria querer ajudar em todo o processo”, garantiu Raquel.
As embalagens da marca Kukken são ‘flow pack’, ou seja, envolvem totalmente as capsulas e quando as abrimos o aroma é ampliado e parece que entramos numa antiga loja, onde se vendia café avulso. Inspiramos o ar perfumado e o cheio invade-nos. Um gesto que permite a Raquel e André sentirem, todos os dias, a presença daquele homem que nunca deixou de ser uma fonte de inspiração. E nós, em casa, de cada vez que fizermos ou tirarmos um café, também vamos conseguir resgatar o cheiro dos nossos avós.