O Município de Lousada é um dos 33 parceiros do projecto português Cooperative Streets (C-Streets), financiado pelo Mecanismo Conectar a Europa. Desde 2019, está a ser desenvolvido no concelho o LUMI- Lousada’s Urban Mobility Intelligence, um projecto com a duração de cinco anos que conta com o financiamento a 50% do Mecanismo Conectar a Europa.
“O C-Streets pretende implementar projectos-piloto no âmbito dos serviços cooperativos de sistemas de transporte inteligentes em várias áreas urbanas e metropolitanas que façam parte da rede transeuropeia de transportes, dando continuidade ao âmbito do projecto C-Roads Portugal”, tendo como grandes objectivos a segurança rodoviária, nomeadamente redução de acidentes e incidentes e a promoção da coesão territorial, assim como a promoção da descarbonização.
Segundo o vereador da Mobilidade e Trânsito da Câmara de Lousada, trata-se de “um projecto-piloto, uma rampa de lançamento nos sistemas de transporte inteligente, uma nova visão sobre a mobilidade e a sua transformação digital”.
Em Lousada, adianta Manuel Nunes, já estão instalados em algumas ruas do centro 70 sensores de estacionamento “que irão recolher dados sobre a ocupação dos estacionamentos e seus fluxos, estando previsto colocar cinco painéis informativos com a disponibilidade dos lugares”. Já na “vertente do tráfego rodoviário pretende-se adquirir uma solução de gestão de tráfego através da implementação de câmaras nos principais eixos viários de acesso ao centro urbano de Lousada, por forma a criar uma malha urbana fechada, que permita a criação de matrizes origem/destino, o cálculo de tempos de viagem, a contagem de entradas e saídas, a medição de velocidades e a gestão de fluxos de trânsito”, como já acontece em alguns locais.
A meta passa por “co-relacionar estes dados de estacionamento, de tráfego e de transporte público de passageiros com os dados da qualidade ambiental” do concelho e “perceber de que forma o trânsito, os modos de deslocação, o condicionalismo ou a restrição de determinadas zonas a veículos motorizados poderá ter impacte na qualidade ambiental da vila” e das pessoas, refere o autarca, sustentando que Lousada tem, com este projecto, a oportunidade de poder ser pioneiro nestas matérias e vir a beneficiar de novos fundos subsequentes nesta área”.
Numa mini entrevista o vereador Manuel Nunes explica as principais metas do projecto e o que já está a ser desenvolvido.
Que acções integra o LUMI em Lousada e qual o seu prazo de execução?
Com a consciência de que efectivamente valorizar o território é valorizar a economia e a sustentabilidade do uso que dele é feito ao longo dos tempos, surge o projecto-piloto LUMI – Lousada’s Urban Mobility Intelligence, no âmbito do projecto europeu Cooperative Streets (C-Streets) financiado pelo Mecanismo Conectar a Europa (CEF).
Lousada é um dos 33 parceiros do projecto português C-Streets, que já se encontra em desenvolvimento desde 2019 e que terá uma duração de cinco anos. O parceiro líder é o Instituto de Mobilidade e dos Transportes, I.P. e o custo total aprovado é de 31, 4 milhões de euros, 410.086,00, com um financiamento máximo de € 15.705.043,00.
A candidatura Cooperative Streets tem como objetivo a instalação de pilotos e a pré-implantação de serviços de C-ITS em várias áreas urbanas, abordando também a sua viabilidade a longo prazo (incluindo a análise custo-benefício, modelos de governança, casos de negócios e impactes e benefícios gerais), antes de se avançar para a implantação em larga escala na maioria das áreas urbanas, municípios e cidades em geral.
Quais os principais objectivos?
O projecto piloto LUMI – Lousada’s Urban Mobility Intelligence, com a duração de cinco anos (2019 a 2023), tem como principais objectivos recolha, centralização, tratamento e disponibilização de informação para o Ponto de Acesso Nacional (NAP – National Access Point) e para o público em geral, permitindo fornecer informação e ferramentas para uma tomada de decisão mais consciente dos modos de deslocação. O Ponto de Acesso Nacional (NAP), criado no âmbito dos Projectos C-ROADS Portugal e Cooperative Streets, fará assim a ligação da camada digital (informações de tráfego e multimodalidade), com a camada física (infra-estruturas), dando cumprimento ao preconizado na Directiva 2010/40/EU – Directiva ITS, bem como aos vários Regulamentos Delegados.
Lousada integra o piloto MMTIS (Serviços Multimodais de Informação de Viagem) e para o efeito prevê a implementação de uma plataforma de gestão de serviços de mobilidade, abordando os vários eixos que a compõem ou que nela têm influência directa ou indirecta. Nesta fase, pretende-se recolher e fornecer dados relacionados com os seguintes serviços: tráfego rodoviário, estacionamento, transporte público rodoviário e ferroviário, transporte escolar e bike-sharing. Não obstante, pretende-se que a plataforma seja escalável, podendo a qualquer momento integrar novos verticais/serviços.
Quais as medidas já no terreno e que metas vão cumprir?
Antes de mais salientar que o projecto se caracteriza como um piloto e por isso nem sempre é fácil encontrar soluções no mercado, que cumpram os propósitos pretendidos.
Neste momento, no terreno estão instalados 70 sensores de estacionamento (Rua de St.º António, Rua de S. Sebastião e Av. Sr. dos Aflitos) que irão recolher dados sobre a ocupação dos estacionamentos e seus fluxos, estando previsto colocar cinco painéis informativos com a disponibilidade dos lugares. A comunicação entre os sensores será garantida por uma rede LoRA que funcionará como base de comunicação entre a camada física (sensores / painéis informativos) e o software concentrador de informação e/ou a plataforma de mobilidade. Neste momento, encontram-se instalados dois gateways desta rede LoRaWAN, dos 14 previstos no procedimento concursal que se encontra em fase de implementação.
O objectivo, para além de ser o de fornecer informação ao público, é essencialmente o de perceber se mesmo não havendo estacionamentos vagos nessa rua, os automobilistas continuam a procurar o mesmo circuito ou simplesmente já não o fazem. Mediante os dados recolhidos é possível, ao órgão de gestão, tomar decisões, como por exemplo proibir a circulação de trânsito nessas ruas caso não haja estacionamento, devolvendo todo o espaço de circulação ao peão.
“O grande desafio da mobilidade para os próximos anos centra-se na mudança de mentalidade da população e na sensibilização para a adopção de modos de deslocação alternativos”
De salientar que a zona geográfica de actuação foi escolhida de forma criteriosa, o centro do centro, algumas dessas ruas já com cariz de vias partilhadas. Atendendo às novas dinâmicas de mobilidade é essencial termos pleno conhecimento do nosso território para que possamos actuar em consciência e com conhecimento de causa. O grande desafio da mobilidade para os próximos anos centra-se na mudança de mentalidade da população e na sensibilização para a adopção de modos de deslocação alternativos, com o intuito claro de devolver os centros urbanos às pessoas.
Numa visão mais ampla e estratégica pretende-se ainda co-relacionar estes dados de estacionamento, de tráfego e de transporte público de passageiros com os dados da qualidade ambiental do nosso concelho e perceber de que forma o trânsito, os modos de deslocação, o condicionalismo ou a restrição de determinadas zonas a veículos motorizados poderá ter impacte na qualidade ambiental da vila, assim como na qualidade de vida das pessoas, que podem passar a usufruir destes espaços de uma nova forma, mais próxima e mais segura e mais ainda, avaliar que implicações tem no comércio local e na vida daqueles que habitam estes espaços.
Que equipamentos de gestão de trânsito já foram instalados e onde, como vão funcionar, que dados vão ser extraídos e de que forma é que isso pode mudar o trânsito no concelho?
Nesta fase, e ao abrigo da candidatura em curso, o objectivo é recolher o máximo de informação possível sobre a mobilidade do nosso concelho. Na vertente do tráfego rodoviário pretende-se adquirir uma solução de gestão de tráfego através da implementação de câmaras nos principais eixos viários de acesso ao centro urbano de Lousada, por forma a criar uma malha urbana fechada, que permita a criação de matrizes origem/destino, o cálculo de tempos de viagem, a contagem de entradas e saídas, a medição de velocidades e a gestão de fluxos de trânsito. Esta informação não terá uma vertente fiscalizadora nem sancionatória, mas será essencial para que detenhamos conhecimento do nosso território e que possamos actuar, na definição de estratégias de mobilidade, com conhecimento de causa. O compromisso do Município é o de fornecer toda a informação recolhida nas várias vertentes ao Ponto de Acesso Nacional. Num futuro, que se prevê que seja próximo, teremos um repositório de dados nacional sobre multimodalidade – um sistema central e transversal que garanta uma ferramenta de comunicação inter-operável, integrada, funcional, confiável e permanente para partilha de dados.
A autarquia tem um investimento orçado para estas medidas?
O Município de Lousada como parceiro na candidatura C-Streets tem um investimento aprovado no valor de 734.688 mil euros com um financiamento máximo de 50%.
O que é que Lousada ganha por estar integrado neste projecto internacional?
Os ganhos de integrar uma candidatura desta envergadura vão muito para além deste projecto em si. Este projecto é um piloto, uma rampa de lançamento nos sistemas de transporte inteligente, uma nova visão sobre a mobilidade e a sua transformação digital.
Lousada tem o privilégio de integrar uma candidatura com mais 32 parceiros, de várias áreas de actuação, com conhecimentos diversificados e acima de tudo tem a oportunidade de poder ser pioneiro nestas matérias e vir a beneficiar de novos fundos subsequentes nesta área. É fundamental, para que consigamos percepcionar a realidade dos factos, entender que o conceito de mobilidade urbana engloba vários serviços: transporte privado motorizado, transportes público rodoviário – muitas vezes com vários operadores, transportes público ferroviário, transporte escolar municipal, bike-sharing, car-sharing, táxis, transporte a pedido, entre outros. Por forma a garantir a eficiência desta malha tão complexa, onde actuam vários stakeholders e conseguir diminuir custos, gerar receita, tornar os serviços atractivos e satisfazer as necessidades dos munícipes/clientes o investimento na internet das coisas (IoT), Big Data, machine learning e tecnologia móvel é o veículo que impulsionará a transformação digital da mobilidade urbana. O objectivo é conectar processos, obter dados e fornecer informação sobre os diferentes modos de transporte, numa primeira fase com alguns dados estáticos mas a caminhar para que, o mais breve quanto possível, os dados sejam em tempo real, melhorando a experiência do utilizador.
O que está previsto em termos de estímulo ao uso de transportes alternativos ou de transportes públicos?
Está previsto disponibilizar ao público, em dois mupis, informação sobre os serviços de mobilidade, nomeadamente sobre transporte público rodoviário e ferroviário (horários, rotas, paragens), bike-sharing (disponibilidade e localização de pontos de recolha/entrega – docas), congestionamento e disponibilidade de lugares de estacionamento. Inevitavelmente, o poder da informação e acima de tudo da sua disponibilização de forma acessível poderá impulsionar o uso deste tipo de transportes.
Este projecto antevê impactos positivos em termos ambientais? A que níveis e como serão medidos?
A candidatura não se centra na avaliação dos impactos ambientais causados pelos diferentes modos de mobilidade. Não obstante, no nosso entendimento já transmitimos à Equipa de Gestão do projecto que é fundamental medir os impactos ambientais destes serviços e correlacionar esses dados com a gestão da mobilidade, para que possamos criar diferentes cenários e ponderar medidas de actuação. A ser viável, será necessário instalar sensores de qualidade ambiental, podendo até estar a falar de estações meteorológicas que nos permitam co-relacionar dados, na plataforma de mobilidade, e avaliar o impacto destes serviços na qualidade ambiental do nosso concelho.