Aproximar a formação de quem precisa dela e dar resposta à procura das empresas por colaboradores qualificados foram os grandes objectivos que levaram à instalação de um pólo do Modatex – Centro de Formação Profissional da Indústria Têxtil, Vestuário, Confecção e Lanifícios em Lousada. E os resultados estão à vista, garantem todos os parceiros do projecto.
Dos 16 alunos do curso de Confecção de Peças de Vestuário promovido, 14 estão já inseridos no mercado de trabalho depois de terem acabado a formação em Dezembro último.
Esta experiência bem-sucedida satisfaz as empresas, que têm acesso a mão-de-obra qualificada; os alunos, que conseguem um emprego rapidamente; e a Câmara Municipal que vê neste projecto uma forma de diminuir o desemprego e de potenciar o desenvolvimento económico no concelho.
Os primeiros formandos receberam, esta quarta-feira, os certificados de conclusão do curso, numa cerimónia que decorreu no salão nobre da autarquia.
Projecto de “escola-fábrica” no concelho continua a ser trabalhado
O pólo do Modatex foi instalado na EB1 de Santa Margarida, em Lousada. O espaço tem capacidade para acolher 100 pessoas. Mas no último ano só 16 alunos frequentaram o primeiro curso aberto. Cerca de 500 pessoas, inscritas no centro de emprego, foram chamadas a agarrar a oportunidade.
A promessa é de que havia empresas à espera por estes recursos humanos. Aliás, foi a constatação de que as confecções do concelho e da região tinham dificuldade em encontrar profissionais qualificados, apesar de haver muitas pessoas desempregadas, que levou a Câmara Municipal de Lousada a avançar com a disponibilização de um espaço para instalar este pólo de formação.
“Quisemos aproximar a formação de quem precisa dela e dar uma resposta a um sector acarinhado e com forte tradição em Lousada”, afirmou o presidente do município. “Há uns anos atrás dizia-se que este sector tradicional estava condenado e tinha os dias contados. Mas o sector, que passou e passa dificuldades, soube fazer face aos desafios, modernizar-se e apostar na formação e na internacionalização”, defendeu Pedro Machado.
E prova do sucesso desta aposta é que dos 16 inscritos, 14 estão a trabalhar. “É um alento para continuar a dar contributos para diminuir o desemprego e dar condições às empresas para crescerem”, sustentou o autarca.
Questionado sobre o projecto anunciado no ano passado, de criação de uma espécie de “escola-fábrica”, que permitiria aos alunos aprender em contexto de empresa, tendo por base uma forte aposta nas tecnologias, Pedro Machado disse que continua a ser trabalhado, no âmbito da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte e da Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa, com o objectivo de ser candidatado a fundos comunitários.
Várias formações previstas para este ano
E porque este foi um processo “que começou e terminou bem”, disse o presidente do conselho de administração do Modatex, José Manuel Castro, este ano haverá várias formações a decorrer em Lousada.
Já arrancou um curso de Modelação de Vestuário, com 18 desempregados, com estágio garantido em empresas da região. Em Março, está previsto o início de uma formação em Confecção de Peças de Vestuário e, em Junho, vai começar uma acção destinada a jovens entre os 19 e os 24 anos na área de Técnico de Máquinas de Confecção. Tendo como público-alvo empregados e desempregados com mais de 18 anos, está ainda prevista uma formação em Modelação de Vestuário e CAD para Modelação, em Setembro.
Quem também considerou esta uma etapa bem-sucedida que mostra que “a qualificação vale a pena”, até para elevar o nível de remuneração do sector, foi João Costa, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal. “As empresas com pessoal mais qualificado podem apostar em produtos de valor acrescentado”, sustentou, lembrando que é importante continuar a desenvolver um sector que, em 2016, chegou aos cinco mil milhões de euros de exportações e que emprega mais de 130 mil pessoas. “O sector têxtil e do vestuário é um sector com futuro e vale a pena as pessoas apostarem nele e ajudarem a qualificá-lo”, defendeu João Costa.
Presente na cerimónia de entrega de certificados, o delegado regional do Norte do Instituto de Emprego e Formação Profissional considerou esta iniciativa como “um belo exemplo de colaboração entre entidades públicas e privadas, convergindo para o mesmo objectivo”. “O nosso país tem um défice de qualificação”, lembrou António Leite.
O delegado regional aproveitou a oportunidade para lembrar os últimos números do desemprego conhecidos e frisou a “quebra acentuada” da taxa de desemprego, que passou dos 12% para os 10,2%, entre 2015 e 2016. “Foram 102 mil os postos de trabalho criados no país, um terço na região Norte. Um sinal da vitalidade das economias e das empresas”, afirmou. No final de 2016, havia cerca de 200 mil inscritos no IEFP na região Norte.
Formandos e empresas satisfeitos com resultados
Diana queria tirar um curso de modelagem, mas depois de dois meses no desemprego acabou por agarrar a oportunidade de ingressar no de confecção de vestuário. Não se arrepende. Terminou o curso, fez o estágio, e ficou colocada. “O feedback da empresa foi muito positivo desde o início”, garante. Já o sonho da formação de modelagem mantém-se. “Se abrir um curso à noite aqui ainda faço”, diz a jovem.
Já Marina foi mãe muito cedo e acabou por deixar o mundo laboral para mais tarde. Ainda assim, quando ingressou na formação, em Fevereiro do ano passado, a filha mais nova só tinha seis meses. “A minha avó teve uma fábrica e cresci lá dentro a fazer roupa para bonecas e para mim. Esta foi uma óptima oportunidade de aprender” esta arte, considera. Também “foi importante ser em Lousada e não implicar uma deslocação para o Porto”, referiu a formanda.
Alberto Sousa, da Shirtlife, foi um dos empresários que beneficiou deste projecto. Na sua empresa ficaram integradas as duas estagiárias que por lá passaram. “Grande parte das pessoas que nos procuram não têm experiência, ou é o primeiro emprego ou vêm de outros sectores”, sustenta o empresário. Com esta formação, “não há perdas de tempo a entrevistar, nem a colocar as pessoas três meses à experiência”, para depois decidir quais ficam e quais não têm aptidão. Por isso, Alberto Sousa defende a continuidade desta formação.
“Em três anos em que contrato para o sector, as únicas candidatas que satisfizeram todos os critérios foram estas. A formação é adequada. Nota-se que sabem trabalhar. Por isso, dizer que vem da Modatex será uma mais-valia”, afirma o empresário.
Já a dificuldade em encontrar funcionários qualificados mantém-se: “Se quiser hoje uma costureira a saber trabalhar não encontro”.