Verdadeiro Olhar

Lousada: 60 músicos amadores e profissionais actuam como orquestra comunitária

Cavaquinhos, baterias, guitarras eléctricas e concertinas combinam com fado? Lousada vai tentar provar que sim. Esta sexta-feira, a partir das 22h00, a Avenida do Senhor dos Aflitos acolhe o concerto de uma orquestra comunitária criada no âmbito do projecto Fado Lousada, que junta alunos de escolas de música e do conservatório, com conhecimentos musicais, mas também autodidactas que frequentam grupos folclóricos e de cavaquinhos do concelho. Em palco estarão, no total, 60 pessoas, com idades “dos 8 aos 80”, e também três fadistas. O repertório será inspirado na cultura local.

No sábado, é a vez de Ana Moura actuar no mesmo local.

“Queríamos envolver as pessoas num projecto de comunidade”

“O propósito desta orquestra é juntar pessoas com origens musicais muito diferentes”, explicam Pedro Santos e André Nunes, responsáveis pela direcção artística do projecto. A Câmara Municipal de Lousada, que lançou o desafio, contratou a Onda Amarela, empresa experiente em projectos semelhantes para desenvolver a ideia no concelho. Desta vez o tema é o fado, mas no futuro o objectivo é repetir a experiência com outros temas.

“Queríamos envolver as pessoas num projecto de comunidade, não só como espectadores, mas como agentes de cultura. Desta vez o fio condutor é o fado. No próximo ano o tema é o teatro e, em 2020, as bandas filarmónicas”, adianta Manuel Nunes.

Segundo o vereador da Cultura do município de Lousada, todas as entidades e associações ligadas à área musical no concelho foram desafiadas a participar. “O projecto foi construído em função das sensibilidades e musicalidades dos participantes. Queremos que este projecto crie raízes e uma dinâmica de renovação cultural. Lousada é apontado como concelho que respira cultura, queremos reinventar-nos mais uma vez e atrair outros públicos”, explica o autarca.

O espectáculo desta sexta-feira será o culminar de um trabalho de meses para os responsáveis pela parte artística. Começaram por ser 180 inscritos. O número foi reduzindo depois de dois workshops e dos primeiros ensaios e, ao palco, vão subir cerca de 60 pessoas das mais diversas instituições musicais do concelho, com diferentes experiências, culturas e idades.

“É um desafio muito grande. Há pessoas que lêem pautas e outras que tocam de ouvido. Há cavaquinhos, guitarras, concertinas, baterias, percussão, vozes e três fadistas de Lousada”, referem Pedro Santos e André Nunes. Foram eles que pesquisaram temas de Lousada e fizeram os arranjos, mas o resultado final surgiu com a contribuição de todos.

“Esta é uma orquestra comunitária representativa de Lousada que mostra o que é tradicional, mas também outros estilos. Queremos que Lousada se identifique com as obras tocadas e que haja interacção”, adiantam. Já trabalharam noutros projectos idênticos e, por isso, têm experiência e uma certeza: “As pessoas no início estão sempre muito cépticas, mas no fim funciona sempre e este concerto não vai fugir à regra”.

“Não estava a imaginar como íamos juntar uma guitarra clássica com um acordeão, por exemplo, mas funciona bem”

No ensaio da última quarta-feira, no Auditório Municipal de Lousada, não havia silêncios. Testavam-se os instrumentos, afinavam-se as vozes e discutiam-se os últimos detalhes de um figurino onde vão imperar as flores. Todos estão ansiosos, não escondem.

João Teixeira, de 72 anos, começou por aprender cavaquinho, passou pela viola braguesa, pelo bandolim e pela guitarra clássica. Há mais de 20 anos que toca guitarra portuguesa. Aprendeu quase tudo sozinho. “Quando me disseram que iam juntar vários grupos e instrumentos fiquei surpreendido e curioso. Não achava que ia tomar esta dimensão. Estou a gostar muito, mas acho que era preciso mais um mês de ensaios”, confessa. Tocar com gente jovem e com outra cultura musical também tem sido uma experiência interessante para este residente em Cristelos. “Estamos a integrar-nos bem com a juventude e acho que está a ser enriquecedor”, testemunha.

Não esconde, no entanto, que no início teve dúvidas. “Desconfiei. Não estava a imaginar como íamos tocar juntos, como íamos juntar uma guitarra clássica com um acordeão, por exemplo, mas funciona bem”, afirma.

É utente da Universidade Sénior da USALOU, assim como Lúcia Alves, de 64 anos. Ela está na tuna, no grupo de cavaquinhos e no orfeão dos professores. Nesta orquestra comunitária, integra o coro. “Gosto de cantar e disse logo que sim. Tem sido uma experiência excepcional ver combinar o pop e o fado. No início não sabia o que ia sair daqui, mas ver o resultado é espectacular”, garante. Foi ela que ajudou a encontrar a letra de um dos hinos de Lousada que será entoado esta sexta-feira.

Já Carlos Barreto, de 17 anos, é aluno do Conservatório do Vale do Sousa há sete anos, mas antes aprendia música com as irmãs. Escolheu primeiro piano, depois guitarra, mas acabou por entrar como aluno da terceira escolha, o contrabaixo. “Mas desde o primeiro dia que adoro esse instrumento”, garante. Para esta orquestra não veio por iniciativa própria. Veio “arrastado” pela mãe que também está no coro. Mas gostou. Toca baixo eléctrico. “Eram precisos mais ensaios, mas tenho confiança que o resultado vai ser bom”, diz.

Ana Brito tem 13 anos e toca guitarra eléctrica. É aluna da Escola de Música Ergo. “O meu professor de música falou-me deste projecto e desafiou-me a participar. Resolvi experimentar e tem sido uma experiência incrível. No início não achei que fado combinasse com rock, mas depois ouvi e gostei. Estou ansiosa. Acho que as pessoas vão gostar”, comenta a jovem.

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