Verdadeiro Olhar

Livro “Igreja da Misericórdia de Penafiel” retrata legado artístico-cultural de templo seiscentista

Um legado histórico – cultural e artístico, é desta forma que Coelho Ferreira, um dos autores do livro “A Igreja da Misericórdia de Penafiel”, que vai ser apresentado, este sábado, pelas 16h00, define esta obra que foi realizada em parceria com a mestre em História de Arte, Rita Pedras.

Ao Verdadeiro Olhar, Coelho Ferreira esclareceu que este trabalho divide-se em duas partes, a primeira retrata a história da Igreja, património que é propriedade da Misericórdia de Penafiel, instituição que comemora 509 anos de existência. A segunda metade do livro versa sobre o Museu de Arte Sacra.

A obra tem mais de 160 páginas e conta com cerca de 500 exemplares editados.

Livro apresentado este sábado

Na primeira metade da obra, Coelho Ferreira versa sobre a história da Igreja iniciada em 1622, o seu fundador e mentor abade Amaro Moreira, os contratos realizados entre este e a Misericórdia de Penafiel, assim como o contrato entre o primeiro com a Misericórdia para a edificação de um templo no rocio das chãs (terreno comum, público e numa zona plana) denominado mais tarde Largo de Chãos e, hoje, conhecido como Praça Municipal.

O livro alude, também, às sucessivas reparações na Igreja, o mito quase milagre da imagem da Senhora da Lapa no cunhal da Igreja, as várias festas que foram celebradas na Igreja da Misericórdia e a diocese de Penafiel, com as suas 102 paróquias em 1770/78, o seu bispo Inácio de S. Caetano e agora os bispos titulares de Penafiel.

Refira-se que importância deste tempo está plasmada na própria história, quando Clemente XIV cria a efémera diocese de Penafiel (1770-78), tendo a Igreja da Misericórdia sido a eleita para albergar a Sé do novo bispado.

Os milagres do senhor Ecce Homo (tocada o sino  por cada milagre) e de outras imagens de santos que eram veneradas nos altares da igreja são igualmente retractados nesta obra, bem como as obras recentes de conservação e restauro, com intervenções no conjunto  escultório do interior da Igreja, o tecto, as 16 esculturas,retábulos,  a torre sineira e o relógio, a imagem na Nossa Senhora da Conceição e a  do órgão, há mais de 70 anos sem tocar.

“Além da história, o livro tem a vantagem de descrever as peças que se encontram no Museu”

Falando da obra, que vai ser apresentada, este sábado, na Igreja da Misericórdia, Coelho Ferreira, autor de uma vasta obra sobre o concelho de Penafiel, manifestou que a realização desta livro implicou um trabalho árduo e sucessivas deslocações ao arquivo municipal, onde se encontra o acervo da Misericórdia.

“Foi necessário  fazer muita pesquisa, analisar a muita informação existente e truncar a que pretendíamos que prefigurasse no final”, disse, tendo salientando estar satisfeito com o resultado final.

“Estou grato pelo trabalho que eu e a Rita Pedras conseguimos fazer. Trata-se de uma obra fundamental para a Santa Casa da Misericórdia de Penafiel, que faz a história de uma das suas igrejas mais emblemáticas. Além da história, o livro tem a vantagem de descrever as peças que se encontram no Museu”, disse.

Rita Pedras, co-autora deste trabalho, mestre em história da Arte e técnica superior,  assumiu que teve um trabalho mais facilitado que o do seu colega e a compilação de toda a informação só foi possível graças à parceria e trabalho de equipa estabelecido entre ambos.

“O meu trabalho ficou mais facilitado que o do Dr. Coelho Ferreira porque já existia muita informação sobre o acervo museológico e cada uma das peças, o que não me obrigou, nem o tempo que dispunha me permitia fazer esse tipo de trabalho, a fazer uma pesquisa tão aturada como a que o meu colega teve de fazer. Simplesmente limitei-me a fazer um retrato, uma descrição de cada uma das peças”, atestou.

“Fiz uma súmula da informação que poderia ser interessante para o futuro visitante da Igreja da Misericórdia”

Referindo-se ao Museu de Arte Sacra e às peças que o constituem e que estão plasmadas no livro, Rita Pedras esclareceu a obra é uma espécie de catálogo do próprio museu, com as várias peças e a sua constituição.

“Temos uma descrição histórico-artística detalhada”, expressou, salientando que parte deste inventário só foi possível realizar porque existia já todo um trabalho realizado, nomeadamente pela autora Isabel Bessa, José Carlos Meneses entre outros autores.

“Apenas fiz uma súmula da informação que poderia ser interessante para o futuro visitante da Igreja da Misericórdia”, acrescentou.

Quanto ao resultado final, Rita Pedras expressou estar satisfeita com o resultado final, que contém muita informação, recordando, no entanto, que o trabalho de qualquer que seja o autor nunca pode ser encarado como estando finalizado.

“Acontece-me que, muitas vezes, estou a ler algo feito por mim, e fico sempre com a impressão que se tivesse de recomeçar faria tudo diferente. Acho, no entanto, que quem ler esta obra vai ficar apaixonado por este vasto património, pelo espaço, que dignifica a instituição, o seu património, mas, também, a cidade e o concelho. Estamos a falar de um edifício único do ponto arquitectónico e algumas peças têm um valor artístico incomensurável”, atestou, salientando que entre as peças retractadas neste trabalho que mais gostou de abordar o cadeirado dos mesários, uma peça específica para uma misericórdia, foi a que mais gostou de abordar.

“Estamos a falar de uma peça feita com o objectivo de sentar o provedor e os mesários. Acontece que poucas  misericórdias conservaram  este tipo de peça. Existe um historiador de arte muito conhecido que falou festa peça como sendo única  e por isso é das mais emblemáticas que temos”, adiantou.

Rita Pedras confirmou que outras das peças que faz desta igreja um verdadeiro monumento arquitectónico, cultural e artístico é o seu tecto que data do século XIX.

“Tem um estuque lindíssimo e que passa despercebido à maioria das pessoas”, sustentou.

Rita Pedras realçou, também, que a Igreja da Misericórdia pela sua arquitectura e imponência atrai inúmeros turistas, tendo tido recentemente a visita de uma turista chinesa. “A senhora veio visitar o Museu, confidenciou-me que tinha casado com um católico e estava interessada em conhecer o universo do catolicismo”, afiançou, sustentando que  o turismo religioso é um sector em crescimento, com muitas potencialidades para atrair mais visitantes a Penafiel.

“Há 10, 15 anos ninguém ia visitar uma Igreja. Actualmente, as coisas mudaram e há cada vez mais pessoas interessadas por este espaço, pela sua história e pelas suas peças”

Nesta particular, Coelho Ferreira reconheceu, também, que este espaço tem todas as condições para potenciar o município, atrair turistas e potenciar a economia local.

“Há 10, 15 anos ninguém ia visitar uma Igreja. Actualmente, as coisas mudaram e há cada vez mais pessoas interessadas por este espaço, pela sua história e pelas suas peças”, confessou´, deixando uma palavra de apreço ao provedor da Misericórdia de Penafiel, Júlio Mesquita e à mesa administrativa, pela confiança depositada para execução e coordenação desta edição.

Já Júlio Mesquita ressalvou que esta obra faz jus à importância que este espaço teve e tem na história da Misericórdia de Penafiel, reconhecendo que o lançamento desta obra  vai possibilitar aos leitores fruir de um conjunto de conhecimentos que se encontravam condensados nos livros do acervo da Misericórdia e descobrir os segredos e os encantos de um edifício que tem quase 400 anos de história.