Verdadeiro Olhar

Jovem de Paredes realizou único filme português nos 60 finalistas do Mobile Film Fest

Foto: DR

Entre os 60 filmes escolhidos para a Selecção Oficial do Mobile Film Fest está o “From Maria” realizado por Ana Moreira, uma jovem de 25 anos de Parada de Todeia, Paredes. É o único filme português nos finalistas deste festival internacional de curtas-metragens cujo conceito é: um telemóvel, um minuto, um filme. A temática deste ano foi “Women’s Empowerment” (Empoderamento das Mulheres) e o certame contou com uma adesão recorde com a apresentação de 1130 filmes de 101 países. 57% deles foram realizados por mulheres. Os prémios são atribuídos em Dezembro.

O filme de Ana Moreira, da produtora Golpe Filmes, aborda a temática da igualdade do género numa pespectiva intergeracional.

“Foi com enorme felicidade que recebi a selecção. Mais gratificante ainda é fazer parte de um festival com uma temática tão importante e crucial de ser discutida”, diz a jovem.

“Sempre gostei de criar e contar histórias, só não sabia ainda que existia um sítio certo para me expressar e que esse era o audiovisual”

Ana Moreira teve “uma infância muito feliz, livre e a brincar na rua” em Parada de Todeia. “Tive sempre primos e amigos vizinhos, pelo que quando não estava na escola conseguia brincar pelas ruas e montes de Parada. Sou de uma família bastante numerosa (somos mais de 50), vivíamos todos relativamente próximos uns dos outros por isso primos da minha idade não me faltavam!”, descreve.

Foto: António Morais

Em termos académicos, afirma que sempre foi “boa aluna e dedicada, embora muito faladora”, o que fazia com que a caracterizassem de “rebelde”. Num percurso escolar que aconteceu em Paredes, até ao 9.º ano, passou pela EB 2,3 e pela Secundária Daniel Faria em Baltar. “Sempre gostei das disciplinas artísticas, e era a essas que me dedicava com um carinho especial, embora fosse dividindo vontades entre ser professora de História e Arqueóloga ou seguir o caminho da Físico-química”, recorda.

Mas a partir do 8.º ano, a Educação Visual ganhou força. Por isso, apesar de ter vivido em Paredes até ao início de 2020, a vida académica e, agora também a profissional, estão ligadas ao Porto desde os 14 anos. Iniciou o percurso artístico na Escola Artística Soares dos Reis no curso de Comunicação Audiovisual. Seguiu-se uma licenciatura de Tecnologia da Comunicação Audiovisual na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo – ESMAE (agora Escola Superior de Media Artes e Design – ESMAD.

“Já na Soares dos Reis tive a certeza de que aquele era o caminho certo. Eu sempre gostei de criar e contar histórias, só não sabia ainda que existia um sítio certo para me expressar e que esse era o audiovisual, através da realização ou das outras funções ligadas ao meio”, conta Ana Moreira.

“O meu percurso académico e artístico é bastante peculiar na minha família, sou a única a ter enveredado e a exercer actualmente no meio (e em específico no audiovisual). Embora nunca ninguém próximo me tivesse incentivado especificamente pelas artes, a minha mãe sempre gostou de desenhar e fazer trabalhos manuais e talvez isso me tenha despertado a curiosidade”, acredita a paredense que é, actualmente, editora e assistente de realização na produtora audiovisual Golpe Filmes.

“Todos, homens e mulheres, temos um papel fundamental no combate à desigualdade de género”

Foto: António Morais

E foi nessa produtora, criada em 2018 por três profissionais da área “com vontade de fazer coisas novas” – António Morais (director de fotografia), Ricardo Teixeira (realizador) e Stéphane Sagaz (colorista) -, a que se junta no início deste ano, que surgiu a possibilidade de participar no Mobile Filme Fest, que desafia a criar um vídeo de um minuto.

“A temática varia anualmente e a deste ano, ‘Women’s Empowerment’ (empoderamento das mulheres em português), despertou-me o interesse. Após apresentação do festival e proposta dentro da Golpe Filmes, avançamos com a realização do filme”, explica.

É assim que nasce o “From Maria” que visa “falar das dificuldades a que as mulheres são sujeitas no seu dia-a-dia, quer pessoal quer profissionalmente, unicamente associadas ao seu género. O filme, intergeracional, “fala da história de quatro gerações de mulheres, dos seus problemas e como se inspiraram mutuamente a quebrar barreiras”.

“O filme quer deixar uma mensagem de apelo a todos, sobretudo às futuras gerações, de que ainda há muito trabalho a ser feito e que todos, homens e mulheres, temos um papel fundamental no combate à desigualdade de género. A inspiração surge do que infelizmente é uma realidade para mim e para as mulheres que me rodeiam, que diariamente encontram novos obstáculos associados ao género onde têm de se reinventar, expressar e muitas vezes forçar a discussão para que estes estereótipos sexistas se rompam”, defende a responsável pela realização, que já tinha participado com outros filmes premiados em festivais, mas apenas em contexto académico.

Por isso, não esconde a “felicidade” de saber que este filme, feito com o apoio da equipa da Golpe Filmes, foi seleccionado, entre os 1130 submetidos, para os 60 finalistas, sobretudo “sendo os únicos portugueses no programa”.

Já sobre a “batalha pela igualdade do género”, Ana Moreira acredita que a luta não tem “fim à vista”. “Ainda há um processo longo de mudança e reestruturação da sociedade, sobretudo em questões sócio-políticas e educacionais. É necessário o reforço de leis e apoios que promovam a igualdade de género no espaço laboral e que permitam que as mulheres tenham o mesmo número de postos, os mesmo salários e funções que os homens; é necessário o acesso livre à educação de mulheres independentemente da sua origem, cultura e poder económico; é necessário o apoio e consecutiva acção judicial em mulheres que foram vítimas de violação, assédio ou outras formas de violência associadas ao género; mas sobretudo é primordial reformarmos o sistema educativo da nossa, mas sobretudo das futuras gerações, na escola e em casa, para que formemos crianças e jovens sem estereótipos de género profundamente enraizados na nossa estrutura social e que brevemente possamos todos disfrutar de uma sociedade livre e com os mesmos direitos”, defende a jovem de Paredes.

O filme “From Maria” pode ser visto aqui.