Apaixonado por futebol, José Dias Carneiro é natural de Paços de Ferreira e trabalha como director financeiro numa empresa de serralharia em Paredes, mas sempre teve vontade de criar algo próprio. Encontrou no design um caminho por onde seguir e criar um negócio, desenvolvendo, assim, a Taillefer Design, acompanhado sempre pela “dedicação e a humildade”.
Parece tudo muito objectivo e bem delineado quando este jovem de 28 anos explica a forma como criou a sua própria marca e conseguiu alcançar vários mercados dentro da Europa.
Começou por elaborar quadros em alumínio através de fotografias de jogadores de futebol, o seu “desporto de paixão”. Na época passada, o seu melhor amigo era jogador no Vitória de Setúbal, o mesmo clube onde jogava Edinho, a quem pediu se podia fazer um quadro com o rosto dele para que partilhasse nas redes sociais e assim conseguisse que o seu trabalho chegasse a mais pessoas.
“É uma pessoa espectacular, acedeu muito bem à ideia, fez uma publicação nas redes sociais… Ainda hoje mantenho contacto com ele. Há muito a ideia de que essas pessoas, às vezes, são inacessíveis e que não conversam, mas não, são como nós”, afirma, referindo que acabou por ficar com esse quadro por ser o primeiro.
José Dias Carneiro conta que também já fez um quadro para Rui Unas, numa cor diferente do habitual, e outro para Cristina Ferreira, que “foi diferente dos outros todos” por ter ficado maior e devido ao tratamento que fez.
“Essas pessoas dão um impacto diferente, mas através delas, consegui que o meu trabalho fosse partilhado porque, no início, criei um catálogo com alguns produtos, mas personalizados não tinha nenhum. Comecei por oferecer um ou outro e agora qualquer pessoa que vá às minhas redes sociais consegue ver o tipo de trabalho que consigo fazer”, explica.
“Provavelmente até teria mais sucesso ainda, mas não acho que seja o caminho correto porque não quero ter problemas para a frente. É um projecto que foi muito bem pensado, não sei em que proporção vou ter o avanço porque se tivesse o tempo todo para me dedicar, tinha a certeza que já estava noutro patamar, mas como não tenho, as coisas vão acontecendo”, remata.
Já no caso dos relógios, o jovem empreendedor conta que sempre gostou destes assessórios e que pensava no porquê de não serem feitos em madeira, um material que sente estar “enraizado” nele, uma vez que é natural de Paços de Ferreira, conhecido pela indústria do mobiliário.
“Não é uma coisa muito normal e noto que se alguém estiver com algum relógio dos meus cria impacto, as pessoas falam logo por ser diferente”, sublinha, acrescentando que são “super leves” e “têm um design bonito”.
Neste caso, nem tudo foi um mar de rosas. José Carneiro conta que teve uma grande dificuldade em arranjar um fornecedor porque “pediam quantidades enormes para fazer um modelo” e ele estava ainda a começar o negócio e a suportar os investimentos de criar a marca online.
Acabou por arranjar um fornecedor fora de Portugal e garante que vai ser o seu “até ao fim”, porque foi quem lhe deu “a oportunidade”. Está sempre em contacto com ele para irem trabalhando, em conjunto, novas ideias.
Começou com 14 modelos de relógios, sendo que actualmente, já conseguiu perceber que desses há seis modelos que se vendem mais e os restantes pode tê-los em stock, numa quantidade mais baixa. “Hoje em dia, o segredo do mercado online, é a entrega rápida e temos de ter em stock, senão, muitas vezes, perdemos a oportunidade de vender. Mas isso implica dinheiro parado, o que para quem está a começar é sempre um entrave, então, tentei que o meu stock fosse de acordo com aquelas vendas que tenho”, explica o licenciado em Gestão de Empresas, referindo que a ideia é “apostar em novos modelos”.
“Aquilo que mais me dá gosto em receber é «Uau, isto está brutal!»”
Para os quadros, José explica que apenas necessita de uma fotografia da pessoa, que depois é “trabalhada no mundo do ferro, cortada, lacada à cor, embalada e enviada ao cliente até quinze dias úteis”. “O know-how disto tudo está realmente no processo da imagem que o cliente me dá, a transformação para a peça”, explica.
Começou por fazer em ferro para parecer “mais robusto”, mas depois percebeu que não era viável, até porque saía muito caro quando enviava pelo correio, passando, então, a trabalhar com alumínio.
Se não sair bem à primeira, José repete o processo até que ache que ficou “espectacular” e provoque um “uau, é isto” a quem recebe. “Aquilo que mais me dá gosto em receber é «Uau, isto está brutal!». As coisas que tenho de entregar têm de ser perfeitas, tenho de olhar para elas e dizer «É isto!» e depois é que entrego, nem que não ganhe tanto, mas tem de ser bem”, afirma.
“Com dedicação e humildade consegue-se sempre atingir os nossos objectivos”
Não faltam ideias para implementar na sua empresa, mas José prefere ir com calma, até porque concilia este seu negócio com o trabalho na empresa de serralharia.
Iniciou em força com a sua marca, que pretende que seja premium e apenas online, em Outubro do ano passado e já ultrapassou as suas expectativas para os poucos meses de vida que o negócio ainda tem. Prefere não referir números, porque diz que são variáveis consoante a altura do ano, mas revela que “nos primeiros três meses teve um impacto que não estava à espera que fosse logo”.
O jovem confessa que os últimos tempos têm sido difíceis, mas acredita que “com dedicação e humildade” consegue-se sempre atingir os objectivos e que se pode aprender com toda a gente.
Destaca, por isso, a importância do seu patrão neste projecto “porque, como é óbvio, ter os dois trabalhos implica haver uma conversa entre os dois”. “Sempre me apoiou, foi o primeiro inclusive a dizer para ir em frente. «É isto que tu queres, eu sei que não vais estar bem enquanto não fizeres algo para ti»”, revela.
Ao seu lado conta também com “todo o apoio” da namorada, que “sempre esteve presente”. “«Se é isto que queres fazer, segue. Mais tarde, se não der resultado, eu também estou aqui»”, acrescenta, citando-a.
Foco passa pelo mercado europeu e tornar os relógios numa parte do negócio sustentável
Os quadros de metal personalizados já chegaram ao mercado estrangeiro, que é o principal consumidor, neste momento. Espanha e França são os países para os quais mais vende, mas diz que já teve um pedido para Marrocos.
O foco principal, nesta altura, é o mercado europeu, por ser mais simples em termos de transporte. “Era para começar a comunicação em português, mas como já queria ir para a Europa, avancei em inglês. Fica uma língua nativa da empresa, é perceptível para toda a gente porque, hoje em dia, qualquer pessoa fala em inglês e, mesmo que não fale, existem inúmeras formas de conseguir traduzir”, descreve.
Em termos dos relógios, a ideia é introduzir novos designs e abdicar de alguns que não tiveram tanto sucesso, permitindo que fique “sustentável mesmo, uma ideia de negócio já implementada, já madura”. “Depois de achar que os relógios é um negócio que já está a rolar, aí apostar num novo produto, porque quando queremos tudo, depois não temos nada. Como eu tenho também pouco tempo para estar dedicado à empresa, tenho de focar energias”, explica, referindo que os quadros personalizados vão se manter “porque realmente, está a ter muito sucesso e nisso não é preciso mais nada, é só as pessoas quererem”.