André Marques trocou o curso de Engenharia Informática para se dedicar a 100% ao poker, como jogador profissional. Para já, o natural de Meinedo, Lousada, não se arrependeu. Acaba de sagrar-se campeão do mundo de poker online no World Championship of Online Poker e conquistar um prémio de 1,15 milhões de dólares (cerca de 985 mil euros).
“Este campeonato do mundo é a meta de todos os jogadores de poker. Era o evento do ano e o maior campeonato do mundo a nível do online”, refere.
O segredo para os bons resultados é sorte, sim, mas sobretudo muito trabalho. “Não é só sentar e jogar às cartas”, garante o jovem de 25 anos.
Está numa equipa com dois dos “melhores do mundo”
André Marques teve um percurso escolar tranquilo e sem grandes dificuldades na escola. Quando chegou ao ensino secundário, sem saber bem o que fazer, acabou por escolher um curso profissional de Informática de Gestão. Foi nessa altura que começou a jogar poker com os amigos, por diversão.
Acabou por entrar depois na universidade, no curso de Engenharia Informática. E continuou a jogar a nível amador. Até que no terceiro ano da faculdade, conta, surgiu a oportunidade de se juntar a uma equipa. Candidatou-se e entrou. Foi há cerca de três anos.
“Chama-se Polarize Poker e é uma equipa que conta com dois dos melhores jogadores do mundo, Rui Ferreira e Gonzaga Oliveira, que têm sido meus patronos e mentores. É quase uma escola de poker. Eles apoiam com o investimento e depois dividem-se lucros”, resume o lousadense.
Começou a jogar pequenos torneios de um e dois euros, mas queria mais. E o sonho falou mais alto. “Cheguei a um ponto em que percebi que o que queria era jogar poker e deixei a faculdade de lado”, assume. Deixou o curso em “stand-by” e montou um escritório em casa com a ajuda dos pais que o apoiam mas, no início, não perceberam logo a sua escolha.
Há cerca de dois anos que se dedica ao poker a tempo inteiro, o que exige “muito trabalho, muito estudo, muita ética”.
“Tive uma fase má no início da carreira em que estive muito tempo sem ganhar. É normal. Não estava preparado mentalmente e financeiramente. Mas comecei a superar no início de 2019. Comecei a ganhar alguns torneios e fui escalando, jogando e viajando pelo mundo”, descreve. Esta vida tem-lhe permitido conhecer muitos países, o que era também um objectivo.
Na semana passada já tinha alcançado um marco histórico. Bateu o seu recorde quando ganhou 140 mil euros num torneio. Esta semana entrou “no campeonato mais caro” que já jogou na vida, com 5.200 dólares de entrada e acabou a vencer, sagrando-se campeão do mundo de poker online. “Foi o prémio mais alto que conquistei e será o segundo mais alto conquistado em Portugal”, diz. O torneiro durou quatro dias, tendo sido quase 30 horas dedicadas a jogar. A concentração é fundamental. “Não pode haver distracções para estarmos ao mais alto nível, fazemos algum exercício físico e descansamos”, explica.
André Marques não sabe o que vem a seguir, porque este era o grande campeonato pelo qual ansiava. Mas garante que este prémio não lhe vai mudar a vida. Agora segue-se uma pausa para descanso e depois o regresso ao jogo que o apaixona, continuando a trabalhar e a evoluir.
Puzzle complexo e sem solução
O que o atrai no poker, afirma o jogador, é a complexidade do jogo: “O poker é tipo um puzzle sem solução porque é jogado com pessoas e as acções são sempre diferentes. Não dá para saber qual vai ser a próxima”.
Para ele trata-se de um desporto. “Há países em que é considerado um desporto mental. Existe o factor sorte, mas é tudo uma questão de trabalho. Não é só sentar e jogar às cartas”, salienta.
O jovem de Lousada admite que ainda existe um certo preconceito em relação ao poker pelo facto de envolver grandes quantias de dinheiro e de ser associado a vício. “É um jogo fantástico que exige muito trabalho e ter muitas características para ser bem-sucedido”, sustenta.
Quanto a viver só do poker, exige uma grande gestão financeira. “Pode correr bem uma semana como podemos estar quatro, cinco, seis meses ou um ano sem ganhar”, dá como exemplo.
E se no início a comunidade em que se insere não percebia bem a escolha pelo poker, agora, já não é bem assim. “As pessoas já se acostumaram aqui em Lousada e o que eu faço já é normal no meu meio”, refere.