Por cada fim há sempre um novo começo. Este pode ser o lema de vida de José Miguel Costa, natural de Parada de Todeia, em Paredes, que, este fim-de-semana, subiu ao topo mundial de Stick-Fighting (luta com bastão), em Breslávia, na Polónia, ao sagrar-se campeão do mundo da modalidade. Um feito que lhe poderia ter preenchido o coração de alegria, não tivesse perdido o pai horas antes.
Com a mala ao ombro e a medalha ao peito, o Verdadeiro Olhar falou com o atleta quando estava no aeroporto, minutos antes de regressar a Portugal, mas, com a bagagem cheia de sentimentos ambíguos. Se por um lado conseguiu concretizar “o sonho de ser o número um do mundo” da modalidade, por outro tem o coração magoado porque quando chegou à Polónia, e logo após a cerimónia de apresentação do Campeonato do Mundo, recebeu o telefonema com a notícia que o pai tinha falecido.
A organização do evento autorizou o regresso dele a casa para se despedir. Chegou a tempo e, apesar de ainda ter ponderado em regressar à Polónia, voltou, não só pela força “da família”, sobretudo da mulher e dos dois filhos, mas também porque tem como lema de vida “nunca desistir de nada”. Chegou em cima da hora. Correu do aeroporto diretamente para os combates, “sem descanso, desgastado física e emocionalmente”. Ainda assim, conseguiu vencer todos as competições. E esse será o feito maior, porque, e apesar de estar “arrasado”, ganhou e é o melhor dos melhores.
Nesta competição estavam cerca de 180 atletas de vários escalões, de 12 países, entre eles José Costa que, em 2018 foi vice-campeão do mundo e, um ano depois, alcançou o mesmo feito na Europa.
Esta é uma modalidade que recorre às técnicas do jogo do pau, típico de Trás-os-Montes e do Minho, para terem um melhor desempenho a manusearem o bastão, algo que requer muita rotina, muita repetição e muita velocidade.
José Miguel Costa, que tem 45 anos, há muito que sonhava em trazer a medalha para Portugal, mais concretamente para Parada de Todeia, a sua terra natal. “Esta minha conquista vem provar que apesar de sermos de uma terra pequena, da qual me orgulho, tudo é possível e os sonhos estão sempre ao nosso alcançe. É evidente que apenas sonhar não chega. O também militar da GNR, na Unidade de Intervenção, “lutou” muito para chegar a este pódio. A equipa treinava três vezes por semana, mas José Costa treinava cinco”, como contou ao Verdadeiro Olhar. “E nas últimas semanas foi muito duro”, mas “para se ser o número um é preciso querer e fazer muito mais e diferente dos outros”. E foi isso que o paredense fez, chegando quase à exaustão.
Durante a entrevista, não deixa de referir que a família sempre o apoiou e que o pai, esteja onde estiver, está “feliz e muito orgulhoso”. Até porque, “projetava em mim tudo aquilo que, talvez, tenha sonhado para ele”. Aliás, as paredes de sua casa, assim como o seu coração, estavam forradas com recortes de jornais das entrevistas que o filho dava. “A casa do meu pai parecia um memorial das minhas competições”, contou, contendo a emoção.
Por isso, fazia todo o sentido levar esta luta até ao fim, não só para concretizar o seu sonho, mas para satisfazer o do pai que, talvez, sempre soube que, um dia, o filho iria ser o campeão do mundo.
Este feito servirá também para outras pessoas e, sobretudo, miúdos e jovens perceberem que “nunca devem desistir e que o desporto é algo que envolve “muita disciplina, compromisso e resiliência”. Ingredientes que este militar apelida de assenciais para uma vida mais feliz e livre de “vícios ou malefícios”.
Agora, e de regresso a casa, José Miguel Costa vai tentar assimilar esta vitória embrulhada em tristeza. Certo é que vai continuar a lutar e a sonhar, sendo certo que já conseguiu escrever o seu nome na História das Stick-Fighting. E o pai, onde quer que esteja, vê confirmado aquilo que sempre soube, que tinha um filho de ouro.