Irritamo-nos ao ver os israelitas, país com a maior percentagem de cidadãos vacinados, a atirar bombas para os territórios por eles ocupados. É certo que receberam também uns “foguetes”, mas, se em vez de bombas tivessem enviado vacinas, talvez conseguissem melhores resultados e, em vez da guerra, talvez contribuíssem mais para a paz.
Ou será que preferem a guerra? Esta última pergunta transforma-se numa convicção e, gente assim, irrita-nos.
Irritamo-nos também ao ver o concelho de Paredes, onde vivemos, a ficar para trás nesta nova fase do processo de desconfinamento. Primeiro, pelo facto de mantermos um elevado nível de contágio. Depois, por vermos os nossos vizinhos de Lousada e Penafiel a culparem-nos de, por sermos tão próximos, os prejudicarmos no seu avanço para a fase seguinte, como se fossemos trogloditas e indigentes. Por pouco mais quase teremos vergonha de dizer que somos de Paredes quando formos a Penafiel.
Outro tanto nos irrita o impacto negativo na economia local. O que em Paredes está fechado está aberto em todos os concelhos vizinhos.
Por fim, mais nos irritamos, por vermos, ouvirmos e lermos o presidente da câmara de Paredes a apresentar como desculpas -esfarrapadas, diga-se, e justificar a situação que o concelho vive atribuindo as causas a dois funerais e o aumento da testagem nas escolas. Agora, os culpados são os mortos? E a testagem nas escolas? Para a primeira justificação não temos solução, mas presumimos que faleceram mais de duas pessoas nos últimos quinze dias e, portanto houve mais funerais. Passamos, originalmente, a ter dois funerais que contaminam e os outros que nem infectam nem desinfetam.
Quanto à testagem nas escolas, Alexandra Almeida tem razão. Se não se fizessem testes não sabíamos quantos infetados temos no concelho e, principalmente, desconheceríamos por completo as cadeias de contágio. Seria uma estratégia para passarmos a ser bem vistos no contexto da pandemia mas, mesmo assim, com poucas hipóteses de nos enganar. Porquê? Porque temos estado a atravessar a pandemia sempre como um mau exemplo, sempre nos primeiros lugares pelas piores razões. Só este facto é suficiente para arrasar todo o argumentário recente do presidente da câmara de Paredes.
Longe de nós pensar que a culpa da situação pandémica no concelho de Paredes é dos seus autarcas, mas, também não olhamos como iguais as ações dos autarcas na região neste período. Lousada tem sido, neste domínio, um exemplo na forma permanente, persistente e eficaz como comunica com os seus concidadãos. A proximidade do discurso e a linguagem familiar, mesmo apelando ao discutível orgulho de ser mais lousadense do que os outros das suas terras, tem tido os resultados que se vêem.
Em Paredes, o que mais nos irrita, é o discurso sistemático da “obra”, dos milhões, do alcatrão, da permissão da construção de mais prédios encavalitados em contraste com o total esquecimento das pessoas.
A História ensina-nos que em situações de febres, pestes, epidemias, pandemias e afins há sempre, no mínimo, duas consequências comuns: os mais afectados são os mais desfavorecidos e os mais infetados são os que vivem em situação de maior insalubridade.
Podíamos invocar muitos exemplos de inação, inércia ou mesmo negligência, mas fiquemo-nos por esta dúvida: de que vale andarem a oferecer casas de borla à comunidade cigana se durante estes anos todos nem um balneário público construíram para diminuírem os riscos de doença para os moradores e de saúde pública para quem cá vive? Sabendo das condições de indignidade em que vive esta comunidade e conhecendo os seus hábitos, porque é que a autarquia, como fizeram outras, não solicitou um plano de testagem que abrangesse todos os moradores daquele bairro? Ou de outros onde a situação se justificasse?
Pela bem deles e pela saúde de todos!
Entretanto, e porque pior quase seria impossível, os números do concelho de Paredes, esta semana, devem baixar. Esperemos que para valores que nos permitam avançar nas fases de desconfinamento. Com ou sem funerais e sempre com o maior número de testes possível.