A falta de cultura cívica é um mal que afecta há muito o nosso país, mas enquanto noutras ocasiões conseguia passar despercebida, desta vez tornou-se demasiado visível porque se traduziu no que mais nos custa: doença e mortes.
É verdade que qualquer período de confinamento obrigatório prejudica economicamente as pessoas e as empresas. Portanto, o que está a decorrer, decretado pelo Governo, não poderia ser diferente, mas é preciso sermos muito claros ao afirmar que, nas presentes circunstâncias, usar todas as excepções que a lei prevê para com isso fazer uma vida normal, como se nada fosse, é uma total irresponsabilidade. E uma das mais perigosas irresponsabilidades que se podem praticar, pois põem directamente em causa o enorme esforço dos profissionais de saúde, as capacidades de admissão de doentes nos hospitais e, consequentemente, a vida dos nossos concidadãos, para não dizer dos nossos próprios familiares.
No Natal passado, por força do confinamento sanitário, os meus pais ficaram sozinhos em casa, naquela que foi a primeira vez que não puderam celebrar o Natal na companhia dos filhos e netos. Tal como eles e nós, milhares de outras famílias passaram pela mesma situação. Mas agora sinto que este sacrifício foi inglório porque aqui estamos, novamente, a pagar o preço da irresponsabilidade de uns quantos que ainda não perceberam que afectam o país inteiro.
Não vale a pena pedir à polícia que controle estradas ou lojas abertas de forma indevida quando o problema está na consciência e responsabilidade individual.
A melhor forma de parar a propagação de contágios de covid-19 é respeitando os outros, ficando em casa, saindo apenas para o estritamente necessário. Na presente situação, e enquanto durar, a irresponsabilidade significa vidas perdidas estupidamente.