A construção da Linha ferroviária do Vale do Sousa, que ia ligar Valongo a Felgueiras, passando por Paços de Ferreira, Paredes e Lousada, tem um custo estimado de 181 milhões de euros.
Segundo o relatório final do “Estudo para a Estratégia Ferroviária da CIM do Tâmega e Sousa”, que vai ser apresentado ao Governo, a esse valor acresce um investimento de 27 milhões de euros em material circulante.
O projecto, defendido pelos autarcas destes cinco concelhos como essencial à coesão do território, ia ajudar a fixar a população e a atrair mão-de-obra necessária para as empresas da região e trazer melhorias de competitividade e mobilidade da região, a nível interno e na ligação ao Porto, diz o documento, que já foi apresentado aos presidentes de câmara do Tâmega e Sousa na reunião do conselho intermunicipal da CIM.
Em termos de tempo, a ligação de Felgueiras ao Porto passaria a ser feita em 51 minutos, de Lousada ao Porto em 43 minutos e de Paços de Ferreira ao mesmo destino 35 minutos.
O estudo estima que 7,2 milhões de passageiros usem a Linha do Vale do Sousa anualmente.
Recorde-se que os autarcas de Felgueiras, Lousada, Paços de Ferreira, Paredes e Valongo têm defendido este projecto junto do Governo desde 2018. O estudo técnico da obra está previsto no Plano Nacional de Investimentos 2020/2030.
Felgueiras e Paços de Ferreira entre os três maiores municípios em Portugal continental sem serviço ferroviário de passageiros
Segundo o estudo, a que o Verdadeiro Olhar teve acesso, a estratégia proposta pressupõe a ampliação da rede dos sub-urbanos do Porto com execução de um novo eixo ferroviário ao longo do Vale do Sousa, a reactivação da linha do Tâmega até Amarante e o reforço do serviço regional na linha do Douro até à Régua. “O reforço do serviço ferroviário na CIM do Tâmega e Sousa depende da quadruplicação prevista para o troço Contumil – Ermesinde”, salientam ainda.
Além dos 181 milhões de euros estimados para a ligação Valongo-Felgueiras, o documento pede a reactivação da ligação a Amarante. “Estes cenários consideram como invariável a dotação de serviço nas sedes de concelho de Paços de Ferreira, Lousada, Felgueiras e Amarante. Genericamente, os resultados obtidos indicam que a ligação de Amarante à rede ferroviária por Livração beneficia principalmente os movimentos supra-CIM, na relação com o Porto. A ligação por Felgueiras apresenta maiores virtualidades como resposta à procura interna à CIM, mas contribui igualmente para o reforço da competitividade regional”, descrevem os autores.
O Tâmega e Sousa, um território heterogéneo ao nível das dinâmicas territoriais, económicas e sociais, beneficiaria desta ligação ferroviária a vários níveis.
“O território do Tâmega e Sousa apresenta nos municípios de Felgueiras, Paços de Ferreira, Penafiel e Lousada tendências de crescimento económico capazes de alavancar a dinamização de todo o Tâmega e Sousa, que no seu conjunto representam 84% do VAB (Valor Acrescentado Bruto) da indústria no Tâmega e Sousa, constituindo um cluster do calçado, vestuário e mobiliário”, aponta o estudo. Felgueiras e Paços de Ferreira (em conjunto com Viseu) encontram-se entre os três maiores municípios em Portugal continental sem serviço ferroviário de passageiros, ao mesmo tempo que “geram um número de empregos superior à população residente empregada, originando dificuldades na contratação de mão-de-obra qualificada, esgotando os quadros técnicos da região e sem capacidade de atrair os recursos adicionais necessários”, mostra o documento encomendado pela CIM.
“Neste contexto, a disponibilização de uma infra-estrutura ferroviária com um serviço competitivo à centralidade regional de referência – o Porto – apresenta um relevante potencial na mitigação desta problemática, possibilitando a manutenção do local de residência na cidade-centro, mas garantindo um transporte de qualidade que minimiza o peso da distância, tornando o necessário movimento pendular razoável para uma regularidade diária”, acreditam os responsáveis pelo estudo.
A implementação da linha, com aproximadamente 36 quilómetros de extensão, entre Valongo e Felgueiras, segue o traçado proposto no estudo preliminar apresentado em 2018. “Estes eixos implantam-se sobre o território favorecendo as centralidades principais – Paços de Ferreira, Lousada, Felgueiras e Amarante – mas beneficiando igualmente de um conjunto de estações de oportunidade – Gandra, Lordelo, Freamunde e Vila Caíz.
“Para os eixos propostos estima-se o investimento em via larga única e electrificada permitindo a integração com o serviço de sub-urbanos do Porto”, lê-se.
“Este serviço contribui assim para o reforço da competitividade regional, facilitando as trocas de pessoas e mercadorias com o Vale do Sousa”
O estudo antevê os custos e as receitas de exploração. Segundo o cenário criado, “o diferencial entre receitas e custos apresenta um balanço anual positivo, com as receitas a superarem os custos estimados. Quando é considerado o valor das externalidades, que mede o impacto da transferência modal no sistema de transportes, o benefício geral gerado é majorado”, conclui-se.
Em causa estão custos de manutenção e exploração de 5,2 milhões de euros e receitas estimadas de cerca de nove milhões de euros, tratando-se de uma diferença/lucro de aproximadamente 3,7 milhões de euros. De referir que o documento aponta seis milhões de externalidades, onde se incluem cálculos sobre os custos ou benefícios sociais associados, por exemplo, à poluição do ar, ruídos, congestionamentos ou menos acidentes. Haveria uma troca do transporte em autocarro e do transporte individual para o transporte ferroviário, com ganhos de tempo.
Quanto à utilidade da Linha do Vale do Sousa não há dúvidas: “Este serviço contribui assim para o reforço da competitividade regional, facilitando as trocas de pessoas e mercadorias com o Vale do Sousa, território que apresenta uma vitalidade económica elevada no contexto nacional. A conexão do Porto ao eixo do Vale do Sousa vem reforçar um sistema polinucleado e dinâmicas regionais pré-existentes”, conclui o documento.
Não deixa no entanto de realçar que “os volumes de investimento associados a projectos ferroviários constituem uma condicionante fulcral à sua implementação”. “No caso da Linha do Vale do Sousa apresenta-se o problema acrescido de constituir um eixo ferroviário de reduzida maturidade, apesar do seu estudo já se encontrar previsto no PNI 2030”, acrescentam.