Sem ser exaustivo, o livro de Bernardo Motta é uma síntese essencial sobre o milagre de 13 de Outubro. Não trata propriamente da mensagem nem das aparições, apenas do milagre. Depois de uma pequena introdução, interessante, sucedem-se os textos: cartas à família, descrições de académicos, textos de ortografia rudimentar, depoimentos de crentes e de cépticos, de jornalistas profissionais e de gente muito simples.
Provavelmente, quem lê esta centena e meia de relatos fica melhor informado que as próprias testemunhas oculares, porque cada uma tinha o seu ponto de vista, de local e de circunstâncias, e a imagem global é ainda mais rica e completa que todas as histórias pessoais. Algures na introdução, Bernardo Motta diz que quem quiser saber algo sobre o assunto tem de partir da experiência de quem lá esteve e viu. Este ponto, parece-me essencial.
As estimativas avaliam a multidão em várias dezenas de milhares. As fotografias do judeu Judah Ruah (na altura, a fotografia era uma técnica sofisticada, reservada a poucos) mostram uma massa humana que se estende até onde a fotografia consegue alcançar. Como se sabe, além do público que estava em Fátima, o milagre foi observado por algumas outras pessoas, dispersas num raio de uns 50 quilómetros.
Os pormenores das descrições são variados, mas os factos principais são claros. Com meses de antecedência, três crianças deram a notícia de que Nossa Senhora lhes tinha aparecido. Em Julho, disseram que Nossa Senhora lhes tinha prometido um milagre para o dia 13 de Outubro. Ninguém imaginou o que poderia ser, apenas que seria uma intervenção patente de Deus. No dia 13, chovia intensamente, o terreno estava enlameado e coberto de água. Por volta do meio-dia, uma das crianças pede ao povo que ajoelhe e feche os guarda-chuvas, o milagre está iminente. Corre a mensagem pela multidão e muitos ajoelham e fecham os guarda-chuvas; outros, mais prudentes, preferem manter-se abrigados e não se sujar na lama. Então, de repente, durante uns 8 a 10 minutos, vê-se o sol como um prato luminoso, que se pode fitar sem incómodo, mudar de cor, rodar no espaço, aproximar-se da Terra acompanhado por uma sensação de calor mais intenso. A luz não cegava, mas a radiação era forte, como se o Sol estivesse mais perto da Terra. Três vezes, elevou-se uma pequena coluna de nuvens do local onde estavam as três crianças, mas nada ardeu nem se formaram nuvens noutros locais. Ninguém da multidão viu Nossa Senhora, ou S. José, ou o Menino Jesus. No final, o sol voltou ao normal; os fatos que estavam encharcados ficaram secos e quem se ajoelhou na lama levantou-se com o fato limpo. É curioso que certas pessoas que preferiram não fechar o guarda-chuva e não ajoelhar, no fim estavam ensopadas e salpicadas de lama.
Só encontro umas mil explicações para o que aconteceu. Pode ter sido uma nuvem de insectos que tapou o sol a grande altura e reflectiu a sua luz às cores, em direcções variadas; pode ter sido uma conjunção de massas de ar quente e de massas de ar frio que formaram lentes de dimensão atmosférica e misturaram diversos arco-íris num baile alucinante de luz. Pode ter sido de várias maneiras, mas eu só consigo imaginar umas mil alternativas de explicação.
O que também é verdade é que nada disto acontece habitualmente. E ninguém consegue prever tais coincidências meteorológicas ou bio-meteorológicas, muito menos crianças iletradas. Menos ainda, alguém prevê uma coisa destas com meses de antecedência e anuncia o momento em que o espectáculo vai agora começar, sem haver um indício.
Para mim, é evidente que as crianças tiveram acesso a informação qualificada. Aliás, elas não o esconderam. Reconhecem que não foi dedução científica, foi simplesmente Nossa Senhora que lhe disse que aquilo ia acontecer.