Apesar de ter apenas 43 anos, Idalino Leão, de Paços de Ferreira, pode ser considerado o rosto do sector agrícola em Portugal. Depois de ter sido eleito presidente da Agros e da Fenelac, Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite, assumiu, entretanto, a liderança da Confagri, a Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas, que representa cerca de 280 mil associados.
Em entrevista ao Verdadeiro Olhar, o também licenciado em Sociologia, avançou que pretende “reforçar o sector agrícola em Portugal”. E nesta ‘batalha’ adivinha-se que pode contar com a união de um sector”, porque foi o único candidato, o que prova que, existe harmonia, entre os vários agentes do ramo. Um cenário que, para Idalino Leão se traduz também num “sinal de esperança, acrescido de enorme responsabilidade para os tempos difíceis que atravessamos”.
“A produção de alimentos é um “desígnio nacional” e “uma questão de soberania”.
Neste novo desafio, o pacense vai ocupar o lugar deixado vazio pelo comendador Manuel dos Santos Gomes que, há mais de uma década, liderava esta estrutura. Ora suceder a alguém com esta importância é sentido pelo novo presidente com “um misto de orgulho e responsabilidade”. Importa agora “assumir o compromisso e empenho em defender e dignificar os agricultores portugueses e as suas organizações representativas”, uma vez que a produção de alimentos é um “desígnio nacional” e “uma questão de soberania”.
E porque vivemos tempos complexos em Portugal e no mundo, Idalino Leão faz um paralelismo com o sector que dirige, que também passa por uma situação “particularmente difícil e adversa”, porque está a se colocada em causa “a viabilidade de milhares de explorações”, o que “fragiliza o tecido produtivo nacional”. Razões mais que suficientes para ser fulcral “reunir esforços”, de forma a que haja uma “resposta célere e ajustada à dimensão das dificuldades”.
Face a toda esta conjuntura, “este é o tempo do poder político e das respostas e medidas políticas”, porque “quando foi preciso pedir aos portugueses para ficarem em casa em dois confinamentos, os agricultores e as suas organizações não falharam com os alimentos nas mesas”. Assim, chegou a hora de “também recebermos alguma solidariedade para continuarmos alimentar os portugueses”. Certo é que, a Confragi, pela sua dimensão e representatividade, “irá exercer o seu magistério de influência na defesa dos interesses dos agricultores nos locais certos e de forma responsável e construtiva”, garantiu.
Idalino Leão, que também é presidente da Cooperativa A Lavoura Paços Ferreira e da Fenapecuária, falou ainda ao Verdadeiro Olhar sobre o trabalho que tem vindo a desenvolver na Agros e na Fenelac, considerando que “são duas organizações, que pela sua dimensão social, económica e territorial, obrigam a um forte empenho coletivo, no sentido de contribuir para a promoção da produção na cadeia de valor láctea e a dignificação da atividade junto da tutela, através de uma posição reivindicativa, séria e persuasiva”.
Voltando, mais uma vez, a sublinhar que o contexto económico é difícil, o pacense destacou que este é um tempo de “união”, onde urge “recentrar a Agros como uma das grandes embaixadoras da agricultura nacional”.
Já sobre Paços de Ferreira, Idalino Leão lembra que este concelho sempre foi “tradicionalmente forte na produção de leite”. Aliás, por esse motivo, “o Estado teve durante décadas uma estação nacional de leite e lacticínios neste concelho”, recordou. Daí, também haver tradição, não só no município, mas na região, na “produção de queijo, que ainda hoje se faz”.
Os produtores que existem, apesar de serem em menor número do que no passado, “produzem não só em maior volume, como de forma mais profissional” e a “sustentabilidade ambiental e a zootecnia de precisão são uma realidade”.
E para esse trabalho tem contribuído a “cooperativa que tem conseguido, com ajuda de todos, manter um rumo estável, desempenhando um papel importante no fornecimento de factores de produção, bem como de um conjunto de serviços essenciais para a actividade agrícola”.
“Temos vindo a desafiar o poder político local, no sentido de se criarem sinergias de fornecimento de bens alimentares produzidos pelos nossos agricultores e consumidos nas cantinas públicas concelhias”.
Mas Idalino Leão diz não estar satisfeito, porque é desejável “fazer mais”, sobretudo “numa época em que se fala em economia circular”. Assim, avançou, “temos vindo a desafiar o poder político local, no sentido de se criarem sinergias de fornecimento de bens alimentares produzidos pelos nossos agricultores e consumidos nas cantinas públicas concelhias”. Uma medida que, defendeu, “pode muito bem ser alargada também às IPSS locais”, sendo que, para isso, é necessário, apenas, haver “vontade política”, até porque, “qual é o pai, mãe ou diretor escolar que não quer alimentos saudáveis na alimentação dos seus filhos e utentes”, concluiu o presidente da Confagri.